Parlapatões comemoram 20 anos de irreverência e anarquia teatral

Atores do grupo teatral Parlapatões: 20 anos de arte e graça em São Paulo (Foto: ©Lucas Arantes/Divulgação) “Ridículos Ainda e Sempre” é o nome do ótimo espetáculo encenado pelo grupo […]

Atores do grupo teatral Parlapatões: 20 anos de arte e graça em São Paulo (Foto: ©Lucas Arantes/Divulgação)

“Ridículos Ainda e Sempre” é o nome do ótimo espetáculo encenado pelo grupo teatral Parlapatões, em comemoração aos 20 anos de história deste que é um dos mais importantes, criativos e irreverentes coletivos de São Paulo e também do Brasil. A montagem é apresentada no Espaço Parlapatões, no centro da capital paulista, um aconchegante local onde o grupo está instalado há cinco anos. 

Em vez de entrar na plateia e sentar-se para a espera do início do espetáculo, o público vai parar no centro do palco, enquanto os atores surgem sentados. Essa inversão de papeis é uma boa tônica do que acontecerá a partir daí. O criador do grupo, o diretor e ator Hugo Possolo, brinca com a trajetória dos Parlapatões e ao afirmar que quem estava lá já imaginava o que aconteceria.

A partir daí, os Parlapatões mostram o quão difícil, mas ao mesmo tempo, irresistível, é levar a plateia às gargalhadas com esquetes desconexos aparentemente, mas unidos justamente pelo fazer teatral. Com vários efeitos sonoros e visuais, os atores Hugo Possolo, Raul Barretto, Jaqueline Obrigon, Abhiyana e Hélio Pottes interpretam tipos inacreditáveis e brincam com símbolos da cultura da Rússia. 

O texto é do poeta russo, precursor de futurismo, pouco conhecido no Brasil, Daniil Kharms. Nascido em São Petesburgo, ele foi preso em 1931, como membro “de um grupo de escritores anti-soviéticos”, dada a irreverência e anarquia do que criava. A tradução de Tatiana Belinky e a adaptação de Antonio Abujamra e Hugo Possolo aproximam o espetáculo do espectador atual, mas preservando o que ele possui de universal.

Um dos momentos mais irresistíveis é aquele em que um dos atores narra uma história totalmente anárquica, enquanto os outros a representam como se fossem fotografias no interior de dois quadros. Outros são aqueles que brincam com o próprio fazer teatral, como o anúncio caótico do número das cenas e as brincadeiras com as pessoas da plateia.

A escatologia também é uma marca do espetáculo, mas não há nada agressivo, nem chulo, como, infelizmente, é tão comum em muitas comédias brasileiras.

Em oitenta minutos, o espaço cênico é muito bem aproveitado, graças aos cenários e figurinos criados por Possolo, outra forte marca dos Parlapatões. A trilha sonora criada por André Abujamra também é destaque à parte, assim como a presença do grotesco e do politicamente incorreto, em quadros como aquele em que pessoas desfrutam de um banho de sol, mas, na verdade, a fonte de calor não é o sol. 

Outro russo prepara um jantar e ensaia um modo de paquerar a amada, mas tudo dá errado com a chegada do tio dele. Em todos os quadros, paira algo “chapliniano”, entre a risada deslavada e a doçura e identificação com os que não são beneficiados pelo destino.

Serviço

Sábados, às 21h, e domingos, às 20h, até 23 de outubro. Ingressos a 40 reais.

Espaço Parlapatões – Praça Roosevelt, 158. T: (11) 40031212.

[email protected]

 

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