Coletânea ajuda a entender papel do cinema e da música contemporânea

A professora titular de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo (USP), Walnice Nogueira Galvão, resolveu remexer as gavetas e de lá resolveu recuperar vários artigos que […]

A professora titular de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo (USP), Walnice Nogueira Galvão, resolveu remexer as gavetas e de lá resolveu recuperar vários artigos que havia escrito a respeito de duas de suas maiores paixões – cinema e música. O resultado é o livro “Sombras & Sons – Recortes sobre cinema e música contemporânea”, que, obviamente, também trata de literatura. Os textos foram publicados principalmente no caderno Mais, da Folha de S. Paulo, mas também nas revistas Teoria e Debate, Piauí e no Jornal do Brasil.

A primeira parte do livro é dedicada ao cinema e aí merecem destaque os artigos que chamam a atenção para nomes como os dos cineastas Jacques Tati e Manoel de Oliveira, e os atores Alec Guinness e Vittorio Gassman.

Também são indispensáveis a leitura dos artigos “Negritudes”, em que avalia a presença dos negros no cinema, aproveitando o fato de a atriz Halle Berry ter recebido o Oscar de melhor atriz em 2002; “Caninos na Carótida”, a respeito dos filmes de vampiros; e “Musical Operário e Desemprego”, em que faz um levantamento dos dois temas, correlacionados, a partir dos ótimos filmes “Billy Elliot”, “Ou Tudo Ou Nada” e “Um toque de esperança”.

Em “O sobrenatural e o best-seller”, Walnice analisa os sucessos então recentes da série do bruxinho Harry Potter, de “O Código Da Vinci” e do escritor brasileiro Paulo Coelho. “O crescente impacto das religiões na vida social do mundo inteiro está invadindo também uma área de tradição racionalista e laica, que é a literatura de best-seller. O modelo dessa literatura é aquilo que chamamos de romance policial ou de detetive, ou então genericamente por seu rótulo em inglês, thriller”. Assim, a autora inicia o tal ensaio, em que discorrerá, de maneira bastante acessível a respeito de consumismo, anacronismo e religiosidade na cultura ocidental atual.

Um dos melhores artigos presentes no livro é “Canção, Sociedade e Poder”, justamente o que abre a segunda parte da obra e discorre sobre três temas caros à música popular brasileira. O primeiro deles é a relação entre malandro e trabalhador, em canções como “Se você jurar”, de Francisco Alves, Ismael Silva e Nilton Bastos; e “Lenço no Pescoço”, de Wilson Batista.

O segundo tema é a canção versus a ditadura, presente em “Sonho de um carnaval”, na qual Chico Buarque contrasta a euforia do carnaval com o luto subsequente da quarta-feira de cinzas; e, obviamente, “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré. Vale a pena destacar a presença de duas canções emblemáticas de Milton Nascimento, “Menestrel das Alagoas” e “Coração de Estudante”.

O terceiro tema é o pós-ditadura, com o pop-rock de Renato Russo e Cazuza; e o hip hop de Gabriel O Pensador e Racionais MC’s, passando pelo manguebeat de Chico Science & Nação Zumbi. Pena serem poucas páginas dedicadas a um momento musical e cultural complexo.

Nessa segunda parte, destaca-se também o artigo a respeito dos músicos cubanos revalorizados pelo compositor norte-americano Ry Cooder e registrados no magistral documentário “Buena Vista Social Club”, dirigido pelo cineasta alemão Wim Wenders, de 1999.

E, finalmente, o destaque dado aos trabalhos dos críticos e pesquisadores musicais Mário de Andrade, Zuza Homem de Mello e José Ramos Tinhorão. Ali, novamente são destacados alguns artistas específicos, caso do sambista paulista Germano Mathias e o pernambucano Antonio Nóbrega.

 Acompanhe o lançamento de Sombras & Sons – Recortes sobre cinema e música contemporânea

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