Clássico de Augusto Boal sobre exílio político volta aos palcos em SP

O espectador é convidado a entrar no teatro, em sistema de arena, com apenas algumas dezenas de malas, uma sacola e um violão no palco (Foto: Roberto Reitenbach/Divulgação) O dramaturgo […]

O espectador é convidado a entrar no teatro, em sistema de arena, com apenas algumas dezenas de malas, uma sacola e um violão no palco (Foto: Roberto Reitenbach/Divulgação)

O dramaturgo carioca Augusto Boal morreu em 2 de maio de 2009, mas o texto dele permanece muito vivo e bem disposto. É o que prova a nova montagem do emblemático espetáculo “Murro em Ponta de Faca”, escrito em 1971 e que ganhou nova montagem, que ficará em cartaz até 18 de setembro, no teatro do Sesc Belenzinho, em São Paulo, com sessões as sextas-feiras e sábados, às 21h30, e domingos, às 18h30.

O espectador é convidado a entrar no teatro, em sistema de arena, com apenas algumas dezenas de malas, uma sacola e um violão no palco. Em seguida, numa montagem bem cinematográfica, os seis atores aparecem em fila, enquanto a luz pisca, alguns deles amordaçados. Cada um deles, então, comenta o que possuía. Descobre-se que são três casais de exilados políticos, que vivem há anos mudando de um país para outro, no caso da peça, Chile, França e Argentina. Um deles é formado por dois ricos, outro por uma nordestina e um cozinheiro e outro por um idealista e uma garota traumatizada com a morte dos companheiros de luta.

Com mais de três décadas de distanciamento do exílio político no Brasil, “Murro em Ponta de Faca” soa um pouco deslocado no tempo, mas, mesmo assim, compensa assisti-lo em função de ser um riquíssimo retrato de uma época. Ele também continua com o mesmo peso emocional, graças a direção de Paulo José, que já fora responsável por essa função na montagem inicial de 1978, e pela atuação irretocável dos seis atores curitibanos, Gabriel Gorosito, Laura Haddad, Sidy Correa, Erica Migon, Abilio Ramos e Nena Inoue.

A quem acha que este é um tema ultrapassado, o próprio Paulo José trata de explicitar, no texto de apresentação, que não é bem assim. “Hoje ainda observamos, mundo afora, muitas pessoas sem pátria, sem porto, sem identidade, claro que em outro contexto, mas nem por isso menos exiladas”, justifica.

O contexto do espetáculo é o regime militar no Brasil do ponto de vista de seis personagens que sofrem as agruras e os tormentos de estarem longe da pátria, dos amigos e do que mais gostam. Aos poucos, descobre-se que nenhum deles está isento dessa imensa dor. Com uma trilha musical marcada por vários tangos, o espetáculo termina ao som do clássico “Apesar de Você”, de Chico Buarque.

Murro em Ponta de Faca

Sesc Belenzinho
Sessões às sextas-feiras e sábados, às 21h30, e domingos, às 18h30
Ingressos de 3 a 24 reais.
Rua Padre Adelino, 1000. Belenzinho. T: (11) 20769700

[email protected]

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