Livro revela história dos sambas de enredo

São Paulo – Há quem diga que os sambas de enredo das escolas de samba do Rio de Janeiro não possuem mais o mesmo brilho e a mesma beleza de […]

São Paulo – Há quem diga que os sambas de enredo das escolas de samba do Rio de Janeiro não possuem mais o mesmo brilho e a mesma beleza de antes. Essa opinião é compartilhada pelo romancista Alberto Mussa e pelo professor de História, Luiz Antonio Simas, no ótimo e recém-lançado livro “Samba de Enredo História e Arte” (Editora Civilização Brasileira).

Se os desfiles das escolas de samba na Avenida Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, talvez sejam o evento que mais atrai turistas para a capital carioca, faltam registros dessa importante história, principalmente no que se refere aos sambas de enredo. Partindo dessa premissa, a dupla de pesquisadores foi escutar 1.324 canções desse tipo, das quais mais de 200 mereceram comentários no livro.

Logo no início há um relato bastante completo a respeito da origem do samba carioca e das primeiras escolas de samba na década de 1920. Em seguida, eles investigam o que exatamente definiria o samba de enredo e o distinguiria dos demais tipos de samba e canções vinculadas ao carnaval. E convencem ao destacar desde a ligação direta com o enredo da escola de samba até certas características musicais, como o emprego de versos vazios e a adoção de estrofes com mais de 12 versos. Porém, os próprios estudiosos assumem a dificuldade de identificar o primeiro samba de enredo.

Organizados por temas, estão ali sambas de enredo de grande sucesso, como o deslumbrante “É Hoje!”, da União da Ilha, em 1982: “A minha alegria atravessou o mar / E ancorou na passarela / Fez um desembarque fascinante / No maior show da terra”.  Outro clássico é “Kizomba, a festa da raça”, da Vila Isabel, em 1988: “Valeu Zumbi! / O grito forte dos Palmares / Que correu terra, céus e mares / Influenciando a Abolição”. Também bastante cantado foi “O Amanhã”, da União da Ilha em 1978: “A cigana leu o meu destino / Eu sonhei / Bolas de cristal, jogo de búzios, cartomante / Eu sempre perguntei”. E a Imperatriz Leopoldinense levantou a avenida em 1989 com “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós”: “Liberdade, liberdade / Abre as asas sobre nós / E que a voz da igualdade / Seja sempre a nossa voz”. 

Para os autores, todos esses sambas de enredo fazem parte do que denominam época de ouro, que termina em 1989, com o samba da Beija-Flor, “Ratos e urubus, larguem minha fantasia”, cujo desfile provocador e inesquecível consagrou o carnavalesco Joãosinho Trinta: “Legbara ô / ôôô / Legba ô Legbará / Laiá laia”. “O julgador do quesito samba de enredo entendeu que a letra da música não tinha relação com o enredo e por isso tirou pontos da agremiação, que perdeu por isso o carnaval (…) Ficava, assim, patente o distanciamento cultural entre o mundo do samba e o dos integrantes do asfalto, marca de um país fragmentado, sem identidade, ignorante de sua própria história. A partir de 1990, o samba de enredo, infelizmente, se viu cada vez mais tentado a se integrar ao asfalto e a se afastar do morro”, lamentam os autores.

 Várias são as razões para que os sambas de enredo atuais não sejam tão impactantes quanto os da época de ouro. Uma delas é que a importância da nota desse quesito na apuração caiu muito nos últimos anos. Se um dia a música foi responsável por quase metade do resultado final, hoje é apenas um décimo e, no desempate, nem sempre aparece nos primeiros lugares. 

Outra razão é que a aceleração progressiva do andamento tem descaracterizado o gênero. Há ainda o agravante de que os novos compositores desconhecem a história da própria escola de samba. Eis, portanto, uma excelente razão para se ler e transformar em fonte de consulta permanente “Samba de Enredo História e Arte”, de Alberto Mussa e Luiz Antonio Simas, que termina com um levantamento dos principais sambas de enredo das grandes escolas cariocas e com uma ficha técnica dos principais compositores. 

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