‘Ligações Perigosas’ exibe decadência da nobreza

Depois do término da temporada paulistana, em 6 de março, o espetáculo deve viajar pelo Brasil (Foto: João Caldas/ Divulgação) Um romance célebre, escrito pelo general do exército francês Choderlos […]

Depois do término da temporada paulistana, em 6 de março, o espetáculo deve viajar pelo Brasil (Foto: João Caldas/ Divulgação)

Um romance célebre, escrito pelo general do exército francês Choderlos de Laclos, em 1782. E que ganhou pelo menos uma não menos célebre adaptação cinematográfica, realizada por Stephen Frears, tendo no elenco feras como John Malkovich, Michelle Pfeiffer, Uma Thurman e Glenn Close. Essas são pelo menos duas ótimas razões que dificultam a adaptação teatral de “Ligações Perigosas”, realizada pelo mesmo adaptador do filme, o britânico Christopher Hampton, e que ganha versão brasileira, atualmente em cartaz no Teatro Faap, em São Paulo. Depois do término da temporada paulistana, em 6 de março, o espetáculo deve viajar pelo Brasil.

A história mostra a frivolidade de um grupo de nobres ociosos, fúteis e inescrupulosos, que parecem se divertir ao destruir a reputação uns dos outros, às vésperas da Revolução Francesa. Todos eles irão parar inevitavelmente na guilhotina. O que é representado com grande beleza tanto no início, como no final do espetáculo. Dois momentos sutis e belos para se guardar na memória. Antes disso, porém, arquitetam planos de conquistas sexuais com finalidade exclusivamente financeira.

O cenário, dividido em vários ambientes e assinado por Guta Carvalho e Frank Dezeuxis, é outro destaque, assim como a cuidadosa iluminação de Maneco Quinderé, que assume importante função dramática, e os figurinos requintados de Maria Gonzaga. Merece atenção especial a trilha musical, selecionada por Tunica, que mistura clássicos do rock internacional com música erudita.

Se tecnicamente o espetáculo é precioso, ele fica um pouco arrastado em função de alguns problemas principalmente na interpretação dos 10 atores em cena. O ator Marat Descartes, por exemplo, está muito bem como o Visconde de Valmont e, em vários momentos, provoca a risada na plateia, que parece rir de si mesma e se sentir seduzida pelas artimanhas de conquistador do personagem. No entanto, em alguns momentos, ele cai na simples caricatura e não convence quando precisa demonstrar estar apaixonado por Madame de Tourvel (Sabrina Greve).

Maria Fernanda Cândido convence como a Marquesa de Merteuil, principalmente graças a sua beleza aristocrática e sua interpretação delicada e sem exageros. Mas, em alguns momentos, não passa a garra exigida por uma personagem tão inescrupulosa e amargurada pela vida. A jovem Laura Neiva, de 17 anos, poderia ter estreado com a mesma força que no cinema, no ótimo “À Deriva”, de Heitor Dhalia, mas não vai além de artificialismos. Cris Couto está muito bem como Madame de Volanges, assim como Clara Carvalho, como Madame de Rosemonde, a tia de Valmont.

Claro que a comparação com a adaptação cinematográfica soa desmedida, uma vez que teatro e cinema são dois meios muito distintos. Porém, em muitos momentos, é praticamente inevitável a comparação. Sente-se falta da maestria do elenco estelar que levou o romance às telas, o que, infelizmente, acontece apenas em alguns momentos da adaptação teatral brasileira.

“Ligações Perigosas”

Sessões às sextas-feiras, 21h30, sábados, 21h, e domingos, 18h.
Ingressos custam de 70 a 80 reais. Até 6 de março.
Teatro FAAP – Rua Alagoas, 903. Higienópolis.
Fone: (11) 3662.7233