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Quando eram governo, Lula e Dilma fizeram todos os esforços para apoiar a agricultura familiar

Estímulos ao setor foram feitos com ampliação da oferta de crédito e adoção de políticas públicas. Símbolo desse empenho foi o lançamento dos Planos Safra da Agricultura Familiar, a partir de 2003

Gustavo Marinho/ MST
Gustavo Marinho/ MST
A 6ª Conferência, além de representar uma plataforma para discussões de âmbito nacional, se destaca por oferecer uma rara oportunidade para a atualização das análises de cenário

A agricultura familiar é responsável por 77% dos estabelecimentos agrícolas do Brasil e 23% do valor da produção, ocupando 23% da área total dos estabelecimentos agropecuários, além de empregar 10,1 milhões de pessoas, o que corresponde a 67% da força de trabalho ocupada em atividades agropecuárias[1]. Ainda de acordo com o Censo Agropecuário de 2017, a agricultura familiar é a base da economia de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes, e responde por 87% da produção de mandioca; 70% do feijão; 69% de abacaxi; 59% da criação de suínos; 58% de leite; 50% da criação de aves; 48% da produção de banana; 46% de milho; 38% de café; 34% de arroz; 30% da criação de bovinos; 21% da produção de trigo etc.[2]

Diante da importância da agricultura familiar para a economia brasileira, sobretudo para a segurança alimentar e a geração de divisas econômicas, os governos Lula e Dilma não mediram esforços para apoiar o segmento, seja por meio da maior oferta de crédito, seja pela adoção de políticas públicas para impulsionar o setor. Uma mudança simbólica, mas muito importante nessa direção foi o lançamento dos Planos Safra da Agricultura Familiar (PSAFs), a partir de 2003.

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Tendo em vista que a agricultura familiar dispunha de pouco espaço nos Planos Agrícola e Pecuário (PAP), voltados para a agricultura empresarial, a opção política foi construir, a partir do Ministério do Desenvolvimento Agrário, um instrumento específico para o setor. Assim, a partir de 2003, todos os anos os agricultores depararam-se com o lançamento, quase concomitante, de dois planos setoriais direcionados para a agricultura empresarial (PAP) e agricultura familiar (PSAF). No lançamento do PAP 2004/2005, o presidente Lula assim se manifestou:

Nós estamos conseguindo fazer crescer, e muito, as nossas duas agriculturas, a do agronegócio e a familiar, ambas indispensáveis e complementares ao desenvolvimento do Brasil, gerando cada vez mais trabalho, renda e riqueza”.

Dada a necessidade de inserir a agricultura familiar no mercado internacional, ampliar e potencializar sua participação no mercado nacional, melhorar as condições de vida na agricultura familiar e criar maior atratividade e permanência na atividade, um amplo conjunto de políticas foi delineado nos governos Lula e Dilma, com destaque para:

ProgramasObjetivos
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) 2003  Garantir a segurança alimentar e nutricional por meio da compra e doação de alimentos produzidos por agricultores familiares. Foram mais de 400 mil famílias beneficiadas e mais de 4 milhões de toneladas de alimentos adquiridas.  
Fortalecimento da assistência técnica e extensão rural 2003Por meio ­da transferência do Departamento de Assistência e Extensão Rural (Dater) do Mapa para o MDA, em 2003.  
Seguro da agricultura familiar 2004Resguardar a renda do agricultor familiar em caso de perdas associadas a acidentes climáticos.  
Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Pnater) 2004O principal instrumento é o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Pronater).  
Política Nacional de Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais 2006Estimular a atividade produtiva e assegurar o direito à terra e ao trabalho, fazendo da agricultura familiar eixo estratégico para o crescimento do país.  
Linha Mais alimentos2008Adquirir máquinas, equipamentos e veículos utilitários, em um contexto internacional de crises financeira e dos alimentos.  
Programa Nacional de Alimentação Escolar 2009Instituir que, no mínimo, 30% dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), fossem aplicados na aquisição de alimentos da agricultura familiar.  
Expansão da reforma agrária 2003/2014Assentar famílias. 51 milhões de hectares (duas vezes o estado de São Paulo) foram incorporados à reforma agrária.  
Lei Geral de Ater 2010Definir princípios, objetivos e beneficiários, disciplinando o credenciamento e a forma de contratação das entidades executoras de Ater.  
Segurança financeira para os agricultoresAdotar políticas e ações para diminuir o risco dos produtores, proteger a renda e estimular a proteção sustentável. Entre os principais programas, destacam-se o Garantia Safra, o Programa de Garantia de Preços da Agricultura Familiar (PGPAF) e a Oferta de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER).    
Programa Agricultura de Baixo Carbono (Programa ABC) 2010Estimular a implantação e o desenvolvimento de sistemas produtivos agrícolas ambientalmente sustentáveis”, com o objetivo de fornecer incentivos à adoção de “boas práticas agronômicas para minimizar o impacto da emissão de gases de efeito estufa”.  
Inserção do tema da agricultura orgânica nos PAPsNotadamente a partir do PAP 2012/2013. Nesse ano foi criada a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo) e foram definidas diretrizes para adequar as políticas agrícolas à produção orgânica.  

Com relação à oferta de crédito para o financiamento da agricultura familiar, o volume de recursos cresceu 589,74% nos governos Lula e Dilma, passando de  R$ 4,19 bilhões[3] no Plano Safra da Agricultura Familiar (PSAF) 2002/2003 (Governo FHC) para R$ 28,90 bilhões[4] no período 2015/2016.  No governo Temer, o volume de recursos passou de R$ 30 bilhões[5] no Plano Safra 2016/2017 para R$ 31 bilhões no Plano Safra 2018/2019[6], ou seja, um  crescimento de apenas 3,33%, e no governo Bolsonaro, o volume de recursos aumentou de R$ 31,22 bilhões[7] (2019/2020) para R$ 53,60 bilhões[8] no período 2022/2023 (crescimento de 71,68%), conforme gráfico abaixo:

O Banco do Brasil e a agricultura familiar

O Banco do Brasil passou por profundas transformações ao longo dos governos Lula e Dilma. Nesse período, o banco contribuiu decisivamente para o desenvolvimento sustentável do Brasil, seja por meio de apoio às micro e pequenas empresas, comércio exterior, desenvolvimento regional, agricultura empresarial e, claro, Pronaf. Com efeito, o volume de recursos destinados pelo Banco do Brasil à agricultura familiar cresceu 1.313,15% nos governos Lula e Dilma, passando de R$ 2,779 bilhões[9] em dezembro de 2002 (Governo FHC) para R$ 39.272 bilhões em dezembro de 2015[10]. No governo Temer, o volume de recursos cresceu 5,09%. No governo Bolsonaro, o crescimento foi de 16,42%, conforme demonstrado no gráfico abaixo:

Os números acima, bem como as inúmeras medidas de apoio efetivo aos pequenos produtores comprovam que os governos Lula e Dilma trabalharam incansavelmente na priorização da agricultura familiar, por entender que se trata de um importante segmento para a segurança alimentar, produção e abastecimento dos mercados locais, além de contribuir para a geração de divisas econômicas para o Brasil. Demonstram ainda que as ações empreendidas até 2015 fortaleceram os agricultores familiares, contribuindo para tirar o país do Mapa da Fome e atingir as Metas do Milênio da ONU, não obstante os retrocessos que se verificaram a partir de 2016, com a extinção de órgãos e o “desmantelamento” das políticas públicas de apoio à agricultura familiar.


[1] Fonte: Banco do Brasil. Relatório Análise de Desempenho (2002)

[2] Fonte: Banco do Brasil. Relatório Análise de Desempenho (2015)

[3] Fonte: Plano Safra da Agricultura Familiar(2002/2003): Ministério do Desenvolvimento Agrário/Ministério da Agricultura

[4] Fonte: Plano Safra da Agricultura Familiar (2015/2016): Ministério do Desenvolvimento Agrário/Ministério da Agricultura

[5] Fonte: Plano Safra da Agricultura Familiar (2016/2017): Ministério do Desenvolvimento Agrário/Ministério da Agricultura

[6] Fonte: Plano Safra da Agricultura Familiar (2018/2019): Ministério do Desenvolvimento Agrário/Ministério da Agricultura

[7] Fonte: Plano Safra da Agricultura Familiar (2019/2020): Ministério do Desenvolvimento Agrário/Ministério da Agricultura

[8] Fonte: Plano Safra da Agricultura Familiar (2022/2023): Ministério do Desenvolvimento Agrário/Ministério da Agricultura

[9] Fonte: Censo Agropecuário (2017): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

[10] Fonte: Censo Agropecuário (2017): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)


*Jacques Pena é ex-presidente da Fundação Banco do Brasil e ex-presidente do BRB Banco de Brasília.

* Kleytton Morais é presidente do Sindicato dos Bancários/as do DF.


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