Conta de "Mentiroso da República"

Confira sete mentiras de Bolsonaro durante o debate deste domingo

No debate, Bolsonaro proferiu mentiras sobre Petrobras, corrupção, mulheres, relação com STF, auxílio, fome e economia

Reprodução/Youtube/Band
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Além das mentiras em série, Bolsonaro se notabilizou pela agressividade com mulheres candidatas e jornalistas

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro (PL) usa a mentira como estratégia política. Foi assim na campanha que o elegeu, em 2018, quando propagou fake news do chamado “kit gay” contra o então candidato Fernando Haddad. Foi assim também durante todo o seu governo, com mentiras sobre as vacinas, tratamento da covid-19, urnas eletrônicas ou a sua relação com o Centrão, dentre outros temas. Neste domingo (29), no primeiro debate entre os candidatos à Presidência – realizado neste domingo por UOL, Band, Folha de S.Paulo e TV Cultura –, não foi diferente. Bolsonaro se destacou por inventar números, fraudar a realidade e tentar ludibriar o eleitor. O termo “Mentiroso da República” ficou entre os temas mais comentados do Twitter.

Confirma os principais absurdos que Bolsonaro proferiu durante a sua participação no debate:

1 – Petrobras

Em sua primeira pergunta, dirigida ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro citou que a Petrobras “se endividou em mais de R$ 900 bilhões”, durante os governos petistas. Disse que o valor seria o equivalente a 60 vezes o valor investido nas obras da transposição do Rio São Francisco. “O povo nordestino sofreu, por falta d’água, por causa de corrupção do seu governo”, afirmou.

A fonte do presidente parece ser o empresário Tomé Abduch, comentarista da Jovem Pan. Ele foi além. Em vez de dívidas, falou que o PT “roubou” R$ 900 bi da Petrobras. O vídeo com a mentira propagada por Abduch circula em meios bolsonaristas, e tem milhares de visualizações. A própria Petrobras, no entanto, revelou que, em agosto de 2016, em seu balanço trimestral, a dívida da estatal alcançou R$ 398 bilhões.

Depois do golpe do impeachment contra a ex-presidenta Dilma, a Petrobras adotou um plano de “desinvestimento”, que combinou a venda de campos de exploração com a privatização de uma série de ativos. Como resultado, o Brasil ficou mais vulnerável às flutuações do petróleo no mercado internacional. O preço da gasolina, por exemplo, chegou a subir 147,3% na era Bolsonaro, antes de começar a cair principalmente em função da aprovação do teto do ICMS, acarretando perdas na arrecadação para estados e municípios.

Sobre as perdas especificamente com a corrupção, a Petrobras também chegou a divulgar perdas de R$ 6.2 bilhões. Os diretores da estatal envolvidos no escândalo, como Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa, foram exonerados por Dilma. E foram indicados por políticos ligados ao MDB e ao PP – esse último hoje coligado com Bolsonaro. Já o ex-presidente Lula foi indiciado pelo então juiz Sergio Moro por “fatos indeterminados”. Posteriormente, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou a condenação, considerando Moro suspeito e parcial. Em 26 ações sofridas na Justiça, Lula venceu todas.

2 – Palocci

Na réplica da mesma pergunta, Bolsonaro insistiu em colar Lula à corrupção, novamente com base em informações inverídicas. Por exemplo, em delação premiada, o ex-ministro Antonio Palloci disse que Lula “aparelhou todo o governo”, e recebia propina entregues em caixas. O próprio ministro alegou que administraria uma conta de R$ 300 milhões, abastecida com recursos desviados. O que Bolsonaro não disse é que o acordo de delação do ex-ministro foi negado, tanto pelo Ministério Público Federal (MPF), como pela Polícia Federal (PF). O motivo: falta de provas que sustentassem suas alegações.

3 – Auxílio emergencial

O auxílio emergencial foi outro tema em que Bolsonaro usou da mentira para confundir a população. “O PT foi contra os R$ 400 lá atrás”, afirmou o candidato à reeleição. Mais do que os R$ 400, a bancada do PT no Congresso Nacional defendeu R$ 600 como valor do benefício. Por outro lado, a proposta inicial da equipe econômica de Bolsonaro era pagar apenas R$ 200 às famílias afetadas pela pandemia. Foi o esforço do Parlamento, e não do governo, que garantiu o valor maior ao benefício.

Em junho deste ano, quando o Congresso aprovou a ampliação do Auxílio Brasil para R$ 600 novamente, os parlamentares petistas denunciaram a manobra eleitoreira. Isso porque o aumento do benefício só vale até o final do ano, mas votaram a favor. Nesse sentido, Lula destacou, durante o debate, que o auxílio de R$ 600 não está na Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2023 que o atual governo encaminhou ao Legislativo. “Significa que existe uma mentira no ar”. A presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann, foi às redes sociais para desmentir Bolsonaro.

4 – Fome no Brasil

Bolsonaro também foi desmentido pelo candidato Ciro Gomes (PDT). O pedetista perguntou se o atual presidente não estaria sendo “conivente” com a fome que atinge milhões de brasileiros. Isso porque, um dia antes do debate, em entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan, o atual presidente chegou a dizer que “fome para valer, não existe, como da forma que é falado”.

Ciro então citou o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar da Rede Penssam, “entidade reconhecida internacionalmente”, indicando que 33,1 milhões de pessoas estão na situação mais grave da insegurança alimentar no país. Ainda assim, Bolsonaro continuou negando a realidade. Disse que que “alguns passam fome, mas não esse número exagerado”. 

5 – “Economia está bombando”

Bolsonaro também afirmou ontem que a “economia está bombando”. Durante a semana, ele bateu na mesma tecla, ao ressaltar “números fantásticos” da economia brasileira. O que Bolsonaro esconde é que a recente deflação registrada em julho – de -0,68%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, do IBGE) – decorre principalmente da queda dos preços da gasolina (-15,44%) e do etanol (-11,38), por conta do teto do ICMS.

No entanto, para as famílias que recebem até três mínimos (R$ 3.636), a alta de preços ficou em 0,44%, no mês passado, segundo o índice IPC FX, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Isso porque os preços dos alimentos continuam subindo, o que afeta fundamentalmente os mais pobres.

Ainda assim, Bolsonaro chegou a afirmar que a inflação do Brasil é hoje uma as “menores do mundo”. Entretanto, relatório divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no mês passado indicou o Brasil com a quarta maior alta geral dos preços entre os países do G20, ficando atrás apenas da Turquia, Argentina e Rússia.

O desemprego também registrou quedas recentes, é verdade. Mas isso se deu graças ao recorde de trabalhadores na informalidade, resultando na queda continuada na renda dos brasileiros. Nos últimos 12 meses, o rendimento médio do trabalhador caiu 5,1%.

Além disso, após a 12ª alta seguida, a taxa básica de juros, a Selic, está fixada atualmente em 13,75%. Trata-se do mais alto nível dos juros básicos desde outubro de 2016. A elevação dos juros impacta diretamente as famílias endividadas. O crédito mais caro também reduz o consumo, bem como restringe os investimentos do setor produtivo, inviabilizando a criação de empregos formais.

6 – Mulheres

Classificado como misógino e machista por ofensas às mulheres em seu dia a dia – e particularmente a Simone Tebet e à jornalista Vera Magalhães no debate, Bolsonaro voltou a proferir mentiras. Preocupa-se com o fato de ter maior rejeição nesse estrato da população, segundo todas as pesquisas. “Sancionei mais de 60 leis em defesa das mulheres”, afirmou. Dessas seis dezenas de leis, no entanto, nenhuma foi de autoria do Palácio do Planalto. Bolsonaro apenas assinou – sancionou – leis de autoria do próprio Parlamento.

Caso não as sancionasse, o Congresso Nacional poderia votar a derrubada dos vetos presidências. Foi o que ocorreu, por exemplo, com dois projetos de lei que beneficiavam as mulheres, e que Bolsonaro acabou vetando. Um dos projetos, de autoria da deputada Fernanda Melchiona (Psol-RS), determinava o pagamento em dobro do auxílio emergencial para as mulheres durante a pandemia. Ele também vetou projeto de autoria da deputada federal Marília Arraes (então no PT, hoje no Solidariedade), aprovado por unanimidade pelo Congresso, para a distribuição de absorventes íntimos a mulheres em situação de vulnerabilidade. Em ambos os casos, os vetos de Bolsonaro foram posteriormente derrubados pelo parlamento.

Além disso, Bolsonaro afirmou que “o número de mulheres mortas e violentadas têm diminuído no meu governo”. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública publicado em junho, três mulheres morreram por dia no Brasil por feminicídio, no ano passado. Na comparação com 2020, a redução é de apenas 1,7%. Dado o alto índice de subnotificação desse tipo de crime, a redução é irrelevante. Por outro lado, os casos de estupro aumentaram 3,7% no mesmo período.

7 – Harmonia entre os Três Poderes

Bolsonaro afirmou respeitar o STF, trabalhando em harmonia com os outros Poderes da República. “A harmonia tem que existir e a independência e o respeito acima de tudo. E o respeito não falta da minha parte”, disse ele. Mas são amplamente conhecidos os ataques do presidente a ministros da Suprema Corte.

Em julho do ano passado, Bolsonaro chamou Luís Roberto Barroso de “idiota e imbecil”, porque o ministro emitiu opinião contrária à adoção do voto impresso. Um mês depois, subiu o tom e chamou o ministro de “filho da puta”, em encontro com apoiadores em Joinville (PR).

Também no ano passado, durante as manifestações golpistas do 7 de setembro, chamou o ministro Alexandre de Moraes de “canalha”, dizendo que não mais cumpriria suas decisões. “Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha”, disse o presidente na Avenida Paulista, em São Paulo.


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