Desenvolvimento em foco

Entenda a importância de parques científicos e tecnológicos para promover a inovação

Na sociedade do conhecimento, a inovação é reconhecida como um impulsionador fundamental para o crescimento econômico

Prefeitura S.J. dos Campos
Prefeitura S.J. dos Campos
Parque tecnológico de São José dos Campos (SP)

Em nota técnica na 21ª Carta de Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) tratamos dos conceitos, características e benefícios dos Parques Científicos e Tecnológicos a partir de levantamento que fizemos da literatura sobre o assunto. Assim, diversas ideias e conceitos tratados na nota foram extraídos de artigos, papers e livros, cujos autores são citados na nota. Aqui, porém, em função do espaço e para facilitar a leitura, excluímos essas citações e referências bibliográficas. A nota na íntegra está disponível em https://www.uscs.edu.br/noticias/cartasconjuscs. Na sociedade do conhecimento, a inovação é reconhecida como um impulsionador fundamental para o crescimento econômico, visto que, ela está atuando em todos os segmentos econômicos, e impactando não apenas na oferta de novos produtos e serviços, mas principalmente em novos modelos de negócios.

A indústria foi por muito tempo um local no qual esperava-se que a inovação ocorresse, reservando a outras partes institucionais apenas um papel de contribuição limitada. Segundo os autores, o governo, por exemplo, atuava somente quando se identificasse a necessidade de corrigir falhas no mercado. Entretanto, a inovação se faz presente também em estruturas que envolvem universidades, aglomerações de empresas e outras instituições intensivas em conhecimento. Organismos estes, que estão criando e utilizando conhecimento intensivo e originando novos arranjos institucionais, com destaque para o surgimento de parques científicos e tecnológicos.

Os primeiros parques científicos e tecnológicos surgiram no vale do Silício no final dos anos de 1940 e início dos anos de 1960 na Califórnia, na Universidade de Stanford, através do parque de pesquisa Stanford Research Park e na Route 128, em Boston, onde se localizam o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e a Harvard University. Menciona-se também o Research Triangle Park da Carolina do Norte, que foi criado nos anos de 1960 como uma das estratégias para se conter a crise econômica que se abateu sobre o referido estado americano anos antes.

Estas instituições se caracterizam pelo estabelecimento de empresas de tecnologia, que potencializam e estimulam o crescimento tecnológico e econômico regional. Dessa forma, esse formato de organização tecnológica espalhou-se pelo mundo, chegando na Europa e Japão nos anos de 1970 e 1980, na Ásia e Pacífico nos anos de 1980 e, no restante do mundo a partir dos anos de 1990. A expansão desse modelo de organização marcou a inovação tecnológica como diferencial competitivo para a sociedade industrial. No Brasil, os parques científicos e tecnológicos foram reconhecidos em 1984, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que está vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) do governo brasileiro, informações recentes da plataforma InovaData-BR indicam que existem 55 parques em operação no país, que hospedam 1.878 empresas, empregando cerca de 45.000 trabalhadores.

Para um melhor entendimento da origem dos parques científicos e tecnológicos, Audy e Piqué destacam o modelo da Hélice Tríplice, apresentado por Etzkowitz e Leydesdorff, onde a inovação é promovida através da articulação entre a indústria, o governo e a universidade. As dinâmicas próprias das hélices mais as relações entre estas são capazes de desenvolver ambientes híbridos de evolução constante caracterizados pela economia baseada no conhecimento.

A definição apresentada pela International Association of Science Parks diz que os parques científicos são organizações administradas por técnicos, cuja finalidade é melhorar sua comunidade através da promoção da inovação e da concorrência das empresas afiliadas e das organizações baseadas no conhecimento.

Bigliardi e outros argumentam que, apesar das várias definições existentes de parques científicos e tecnológicos, as “declarações de missão” apresentam características em comum:

a) estimular a criação de spin-offs acadêmicas;

b) atualizar e substituir tecnologias utilizadas pelas empresas;

c) oferecer a função de gestão às empresas situadas dentro do parque;

d) oferecer formação em ciência e tecnologia;

e) estimular a geração de startups sem a utilização de estruturas universitárias, mas com a utilização de incubadoras, caso seja necessário;

f) efetuar transferência tecnológica visando o fortalecimento de empresas;

g) efetuar treinamentos visando o desenvolvimento e gestão de tecnologias inovadoras;

h) promover formas de interação e;

i) promover formas de contato entre o arranjo de pesquisa industrial e acadêmica.

Embora não exista uma definição única de parques científicos e tecnológicos, três características são fundamentais: presença de ao menos uma universidade ou instituição tecnológica para que as empresas possam manter algum vínculo formal; transferência de conhecimento; agrupamento de empresas de alta tecnologia e centros de serviços especializados.

Sobre os fatores essenciais para que haja sucesso na implantação dos parques, Steiner, Cassim e Robazzi afirmam que é preciso haver engajamento das universidades, dos institutos de pesquisa, do setor empresarial, além do governo municipal, estadual e federal. Silva, Schimiguel e Fernandes defendem que as atividades do parque devem estar relacionadas com a região na qual ele se localiza para que haja sintonia com as necessidades da comunidade local.

Outros elementos presentes nos parques são as áreas de uso compartilhado funcionais e abertas que estimulam um comportamento diferenciado das pessoas. Além disso, é comum possuírem: locais para socialização, networking internacionais, acesso a investidores e a capital de risco, tecnologias sustentáveis, utilização de laboratórios de P&D de uso comum, acesso a centros de pesquisa e universidades, orientação com relação a propriedade intelectual e empresas inovadoras.

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Assim a literatura apresenta vários benefícios associados aos parques científicos e tecnológicos, nos quais destacam-se:

a) a colaboração com a vantagem competitiva empresarial e regional alcançada através do impacto na inovação, emprego, empreendedorismo e desempenho;

b) acesso a recursos, conhecimento, equipamento, talentos obtidos através do contato com universidades propiciado pelos parques;

c) comercialização da pesquisa proveniente das universidades;

d) acesso das empresas a escritórios, auxílio administrativo, salas de reuniões, networking com empresas, universidades e governo, acesso à internet de alta velocidade entre outros benefícios estruturais e;

e) redução de desemprego, melhora do nível de competitividade das empresas e consequente melhora da região em que o parque está instalado.

Desta forma, o parque científico e tecnológico se estabelece como um ambiente de inovação que permite ser um canal aglutinador de gestores, professores, alunos, empresas, instituições privadas, públicas e sociedade civil para coabitarem um espaço de colaboração, inovação, pesquisa e desenvolvimento que consiste em grande importância para criar uma sinergia e suportar a inovação e desenvolvimento econômico e social da localidade.    


 Anderson Gedeon Buzar Reis e Simona Adriana Banacu de Melo são doutorandos em Administração pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS); Felipe Venâncio Silva, Maurício Luiz Gonçalves Martiniano e Raphael Reynier Roale Martins são mestrandos em Administração pela USCS