Martírio

Sem políticas públicas, falta de água e luz percorre a história de São Paulo

É preciso que a sociedade cobre do governador medidas para otimizar os recursos naturais, promover o bem comum e garantir o fornecimento de água e luz

Divulgação / Sabesp
Divulgação / Sabesp
A população tem percebido que além da redução da pressão da água, a Sabesp tem feito também o racionamento de água em muitos dos 363 municípios em que atua

A recorrente falta d’água nas torneiras da população em várias regiões do Estado de São Paulo nos remete à marchinha de carnaval de 1954, que cantarolava o drama da sociedade com o refrão: “de dia falta água e de noite falta luz”. Passadas sete décadas, a população paulista continua sendo penalizada pela falta de política pública na gestão dos recursos hídricos, que afeta o cidadão, o comércio e a indústria comprometendo todo o sistema de produção, serviços, saúde e qualidade de vida da população.

Na capital paulista, a redução da pressão da água na rede de distribuição da Sabesp é uma realidade e, um meio dissimulado de desabastecimento de água que castiga principalmente a população que vive nas áreas periféricas da cidade.

Esta situação atingiu a população ao longo do ano passado, continua agora em 2021 e ainda assim, o governo do Estado continua negando o problema da falta d’água.

Em meados do mês de agosto o diretor presidente da Sabesp, Benedito Braga afirmou à imprensa que em São Paulo não há risco de desabastecimento.

No entanto, a população tem percebido que além da redução da pressão da água, a Sabesp tem feito também o racionamento de água em muitos dos 363 municípios que é responsável pela gestão dos serviços água e tratamento de esgoto.

Em 2002, o governo do PSDB no Estado de São Paulo tornou a Sabesp uma empresa de capital misto que passou a operar na bolsa de valores.

De lá pra cá, a população segue pagando tarifa mais cara e nem sempre recebe a água em sua residência. Há também um número considerável de moradias que ainda não estão cobertas pela coleta e tratamento de esgoto.

Os índices de desperdício no sistema de distribuição da Sabesp seguem elevados, no patamar de 27% da água tratada, por falta de manutenção na rede, segundo estudos do Observatório Nacional dos Direitos das Águas e ao Saneamento, o ONDAS.

Para se esquivar das críticas e cobranças o governo se apressa em apontar as questões climáticas, escassez de chuvas para explicar a crise da água que se avizinha e assiste incólume todos os reservatórios que abastecem a Grande São Paulo secando, com o nível de água chegar à média de 30% da capacidade, índice menor que 2013, ano que antecedeu a grave crise da água em São Paulo.

Especialistas apontam a importância de o governo do Estado admitir o problema de desabastecimento que já se tornou realidade em 14 cidades do interior paulista, onde cerca de dois milhões de pessoas sofrem com a interrupção do fornecimento de água.

Uma das áreas mais afetadas é a região de Ribeirão Preto com sete cidades enfrentando o racionamento de água.

O que mais nos assusta são as declarações do secretário da Fazenda Henrique Meirelles, da gestão Doria, que a prioridade do governo é privatizar a Sabesp.

Ora, isso é abastecer bolso de investidores e empresários, principalmente neste momento de escassez, da falta do “produto” vital, essencial para toda nossa dinâmica existencial. 

É preciso que toda a sociedade se coloque em estado de alerta e provoque os órgãos e instituições de defesa de interesse da população, para que cobrem do governador medidas que possam otimizar os recursos naturais que dispomos para o bem comum.

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O governo precisa lançar campanhas de uso racional da água, incentivos ao reuso da água, combate aos vazamentos e desperdícios, implementar políticas de preservação ambiental, de reflorestamentos, preservação das nascentes, construção de cisternas, reservatórios, sistemas de captação de água das chuvas entre outras ações que tragam maior segurança hídrica em médio e longo prazos para toda a sociedade paulista.

Não podemos ficar reféns do lucro predatório que pretende sugar nossas riquezas naturais.


Luiz Claudio Marcolino é ativista social, bancário e vice-presidente da CUT-SP


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