Desenvolvimento em Foco

A nova tecnologia 5G no Brasil e os possíveis entraves

Atraso na implantação do 5G no Brasil pode acarretar prejuízos não só aos participantes do processo competitivo, mas ao país na corrida global em plena era da tecnologia da informação

Pixabay
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Com a promessa de velocidade até 20 vezes mais rápida do que a atual, o mundo acompanha desde 2019 o lançamento da quinta geração de internet móvel, 5G. Além da expectativa com todas as possibilidades que a internet super-rápida poderá proporcionar, é importante entender que muitas controvérsias existem sobre quem fornecerá infraestrutura real para esta nova tecnologia em muitos países. Tratamos deste tema em nota técnica da 17ª Carta de Conjuntura do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (Conjusc). Enquanto no Brasil ainda se discute a adoção do 5G, outros países já têm usufruído a nova geração de internet móvel.

Entre as principais vantagens para o consumidor estão: melhor aproveitamento da banda, menos latência, menor consumo de bateria dos aparelhos e maior cobertura. Mas o grande destaque da nova tecnologia é mesmo a velocidade. Com média de 50 Mbps (megabits por segundo), a conexão nos Estados Unidos ainda é mais lenta do que a de nações asiáticas, onde o 5G pode ter velocidade acima de 2 Gbps (gigabits por segundo). Mas no Brasil o processo de implantação do 5G está atrasado.


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E não somente o de implantação da nova tecnologia, mas o de discussão sobre quais caminhos deverão ser percorridos para que o 5G alcance todo o território no Brasil. E além disso, que preserve o interesse maior do consumidor final, não agrida a legislação vigente nem usurpe o interesse econômico dos grupos interessados em investir os seus recursos aqui.

Assim, com tantos interesses em jogo, uma questão margeia toda discussão sobre o tema. Nosso sistema regulatório vai dar conta de proteger todos os atores envolvidos no processo? Ou o excesso de regulação das nossas comunicações poderá atrapalhar estes atores? (E assim jogar o Brasil, mais uma vez, no fim da fila entre as nações com reais chances de se beneficiar desse salto tecnológico.)

O 5G no mundo

Um levantamento feito pela empresa de análise móvel Opensignal apontou os países com as maiores velocidades médias de download (utilizado para baixar arquivos e acessar vídeos, áudios, fotos) com o 5G. Em primeiro lugar está a Arábia Saudita, com velocidade média de 412,2 Mbps e onde a nova tecnologia foi lançada em junho de 2019 pela empresa STC Group. Na segunda posição está a Coreia do Sul, o primeiro país do mundo a lançar o 5G comercialmente, em 3 de abril de 2019, pela SK Telecom Co., KT Corp. e LG Uplus Corp. Atualmente, 85 das mais de 100 cidades da Coreia do Sul possuem cobertura 5G, com mais de 6 milhões de assinantes registrados em abril deste ano e velocidade média de download de 312,7 Mbps. Em terceiro lugar está a Austrália (215,7 Mbps), que possui o serviço em pouco mais de 10 cidades.

Já em Taiwan a operação foi iniciada em 1º de julho deste ano pela Far EasTone. A rede de acesso de rádio (RAN) e a tecnologia de núcleo 5G são exclusivos da Ericsson e a velocidade média de download chega aos 210,2 Mbps. Em quinto lugar está o Canadá (178,1 Mbps), que tem uma situação semelhante a Taiwan. A tecnologia chegou recentemente, mas já cobre as principais cidades do país, como Vancouver, Calgary, Edmonton, Toronto, Ottawa e Montreal.

Mais do que rapidez

O Kuait ocupa a sexta posição (171,5 Mbps) e embora o 5G esteja disponível no país desde 2018, os serviços comerciais da tecnologia tiveram início em junho de 2019. Depois está a Suíça (150,7 Mbps), um dos primeiros a implantar o 5G, mas que teve sua expansão paralisada por conta da discussão sobre a radiação das antenas. A demanda de cobertura em todo o país deve ficar a cargo das operadoras Salt, Sunrise e Swisscom. A velocidade média de download do país fica em 150,7 Mbps.

Em oitavo lugar ficou Hong Kong (142,8 Mbps), onde o 5G começou em 1º de abril deste ano e já alcança mais de 90% do território. Com velocidade média de download de 133,5 Mbps, o Reino Unido (9º lugar) também foi um dos pioneiros na comercialização da tecnologia, que teve início em maio de 2019 e possui quatro operadores oferecendo o serviço. E na última posição do levantamento por velocidade está a Alemanha (102 Mbps), onde estima-se que cerca de 40 milhões de pessoas já utilizem a rede 5G. 

Mas a nova tecnologia é mais do que apenas uma maneira mais rápida de navegação no mundo virtual. Ela habilita redes que podem suportar a internet das coisas: um mundo de dispositivos domésticos conectados e funcionando por comandos virtuais. Em vez da nuvem ter transformado a computação em um utilitário como a eletricidade, as redes 5G permitiriam mover os objetos e as pessoas para outros lugares. A potência de processamento extra poderia permitir a condução de carros autônomos ou a criação de robôs até então só imaginados em filmes de ficção científica.

O 5G no Brasil

A implantação do 5G no Brasil dentro de um cenário de atraso, não somente pela indefinição das decisões dos agentes públicos envolvidos, mas também pela falta de uma clara regulação ou de normas ineficientes podem acarretar prejuízos econômicos aos participantes do processo competitivo.

A participação de inúmeros atores, dos mais variados níveis de governo, também é motivo para que esta nova tecnologia não seja tratada como pioneira no Brasil. E, neste caso, certamente o excesso de cuidado primará muito mais pela segurança da coletividade do que pela ânsia e pressa de grupos empresariais ou políticos que queiram antecipar seus lucros com a implantação da rede super-rápida de internet em menos tempo que o habitual.

Pressões ocorrerão, mas será necessário o critério de excelência na prestação dos serviços ofertados no Brasil em ambiente competitivo e obedecendo regras estabelecidas pelos agentes reguladores. Enfim, ao que tudo indica, ainda temos um longo caminho até o aperfeiçoamento do sistema regulatório e a entrada de novos players e nova tecnologia em telefonia e dados.


Clayton Vinicius Pegoraro de Araújo é advogado, pós-doutor em Economia Política, doutor em Direito das Relações Econômicas Internacionais. Professor do Programa Mestrado Profissional em Economia e Mercados (MPECON-Mackenzie) e da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (Uscs).
Glauco D’Alessandro Bueno é graduado em Sociologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Discente do Programa de Mestrado em Economia e Mercados (MPECON – Mackenzie).
Vinicius Prado de Morais é graduado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Discente do Programa de Mestrado em Economia e Mercados (MPECON-Mackenzie).

Artigos desta seção não necessariamente expressam opinião da RBA


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