Com governo que tripudia sobre mortos, expectativa de vida recua no país
É inacreditável a capacidade de membros do governo de reagir de maneira monstruosa diante do sofrimento da população com a crise sanitária
Publicado 04/05/2021 - 12h23
Dois estudos publicados nas últimas semanas comprovam a queda vertiginosa da expectativa de vida da população brasileira em consequência das mais de 400 mil vidas abreviadas pela covid-19. Um deles, elaborado em conjunto pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade de Harvard, mostra que em 2020 houve queda de 1,94 ano na expectativa de vida ao nascer. Outro, da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados Estatísticos, a Fundação Seade, mostra que a população do estado de São Paulo, o mais rico do Brasil, viverá um ano a menos – em vez de 76,4 anos, só 75,4. Este é mais um efeito das mortes precoces trazidas pela pandemia.
A expectativa de vida vinha crescendo continuamente. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1940 esperava-se que o brasileiro vivesse 45,5 anos; em 2017, a expectativa estava em 76 anos, fruto dos avanços da medicina e da ampliação do acesso aos serviços de saúde, das melhorias na alimentação e da redução da fome e da mortalidade infantil, dos avanços no saneamento básico e das condições de moradia, dentre outros fatores. Em 2020 a tendência se inverteu, como efeito das mortes pela covid-19 e também pelo aumento da fome e da pobreza.
Vacinação em massa
O governo negacionista poderia reduzir os efeitos desta tragédia, vacinando em massa, pagando auxílio emergencial até o final da pandemia e auxiliando financeiramente as milhões de micro e pequenas empresas que geram a maioria dos empregos disponíveis no Brasil. Tudo para permitir às pessoas ficarem em casa para controlar a propagação devastadora do vírus.
Bastaria ao governo brasileiro seguir o exemplo de países como os Estados Unidos, que já aprovaram pacote de US$ 1,9 trilhão e preparam outro de US$ 3 trilhões para reativar a economia, gerar empregos, proteger a infância, financiar a saúde da população. Lá, a prioridade é a sobrevivência da população. Aqui, é preservar o caixa do Tesouro Nacional.
‘Todo mundo quer viver 100 anos’
Tão macabro quanto as estatísticas da pandemia, Paulo Guedes, o ministro da Economia declara que “todo mundo quer viver 100 anos” e que o Estado não consegue acompanhar a busca por atendimento médico. E propõe uma solução de máxima crueldade: acabar com o SUS, responsável por atender 80% da população brasileira, e entregar ao pobre um voucher para ele usar no Einstein ou em qualquer hospital. A depender de Guedes, o tal voucher seria suficiente para o pobre comer uma coxinha na cantina do Einstein e voltar para casa com fome, sem atendimento.
No auge da pandemia, propõe deixar a população sem atendimento médico. Segue a mesma lógica adotada no Chile em 1983, quando Guedes ajudou a privatizar a previdência e a saúde públicas. Transformaram os fundos de previdência privados em negócio altamente lucrativo para os bancos e condenaram a maioria dos idosos a viver sem nenhuma fonte de sustento. O modelo fracassou, mas Guedes insiste em querer implantá-lo aqui, com apoio do capitão.
Formas de financiamento
A solução para o SUS e para a previdência pública não é reduzir o número de pessoas atendidas ou beneficiárias de aposentadoria. É encontrar novas formas de financiamento. Vários países, como Estados Unidos e Argentina, estão aumentando impostos pagos pela parcela mais rica da população para subsidiar o aumento das despesas do Estado com o enfrentamento da pandemia.
Na Argentina de 2020 foi criado o imposto sobre as grandes fortunas, que afetará somente 12 mil cidadãos podres de ricos. O dinheiro arrecadado será aplicado em cuidados médicos para a população de 44 milhões de pessoas, em apoio às micro e pequenas empresas, gastos sociais e bolsas de estudo.
Esta solução poderia ser muito bem adotada no Brasil, onde seis indivíduos detêm a mesma riqueza dos 100 milhões de brasileiros mais pobres. Se taxasse algumas dezenas de milhares de super ricos, o Estado teria recursos para enfrentar a pandemia e custear aposentadorias. Mas, a depender do governo que cultua a morte e a barbárie e é cúmplice da gana dos rentistas, nada será feito neste sentido.
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José Ricardo Sasseron foi presidente da Associação Nacional dos Participantes de Fundos de Pensão e de Beneficiários de Planos de Saúde de Autogestão (Anapar) e diretor eleito de Seguridade da Previ