Desenvolvimento em foco

Empresas tipo B – um novo conceito para empresas sustentáveis

O conceito de empresas tipo B, nascido nos Estados Unidos e Canadá, está calcado em orientações sustentáveis no âmbito econômico, social e ambiental

Pixabay
Pixabay
empresas tipo b

A discussão em torno de formas mais sustentáveis de consumo e da otimização de lucros tem permeado congressos, órgãos e empresas. Esse fenômeno tem deixado de ser uma prática seletiva para nortear algumas decisões, inclusive o avanço de negócios. Na 16ª Carta de Conjuntura da Universidade de São Caetano do Sul (Conjuscs), discutimos, em nota técnica, o conceito de empresas tipo B, nascido nos Estados Unidos e Canadá em 2006. Este conceito está calcado em orientações mundiais para empresas mais sustentáveis no âmbito econômico, social e ambiental. Na nota, apresentamos as normas para certificação das empresas como B CORP, as avaliações e estrutura governamental, assim como grandes empresas que já aderiram ao movimento. Esta nota está disponível em

Para alguns autores, especialmente a partir da década de 1980 e da Agend 2030, o consumo desmedido causou uma descompensação no clico de produção e proporcionou um desarranjo ambiental e social. Outros chamam a atenção que a era denominada do consumo é marcada por três fases e se inicia com a estrutura dos meios de produção, a democratização dos bens de consumo e por fim o hiperconsumo. É nessa fase do consumo extremo que entidades começam a demonstrar sua preocupação com os recursos que são esgotáveis e com as gerações futuras, discutidas na Agenda 2030.

Há ainda quem afirme que o ato de consumir é inerente a estrutura econômica da sociedade contemporânea, que vai além das necessidades básicas e passam pelas questões de status e prestígio. O desenvolvimento está associado a “exploração dos recursos naturais e o aumento da desigualdade social”.


Leia outros artigos da série “Desenvolvimento em Foco”


A proposta então para soluções palpáveis se inicia na consciência e na transformação dos modos de consumo dos cidadãos, direcionando as empresas na busca de práticas sustentáveis no âmbito social e ambiental. Surgem os conceitos de responsabilidade social das empresas, empresas híbridas, empreendedorismo social e o próprio movimento B.

Responsabilidade social está direcionada à forma em que as empresas gerenciam seus negócios e interagem com todos os atores ao entorno, promovendo práticas para melhorias da conservação do meio ambiente e da sociedade. Esta pode ser praticada por qualquer empresa com ou sem fins lucrativos, é de fato uma prática deliberada ou não. Já o empreendedorismo social difere do empreendedorismo mercantil pela busca de valor social como princípio e não apenas o econômico, seus objetivos são norteados por negócio inclusivo, empreendedorismo social e negócio social.

O conceito de empresas híbridas é o que mais se aproxima do movimento tipo B, são conhecidas como quarto setor, capitalismo consciente e empresas sociais. Atuam no setor público e privado com o objetivo de maximizar tanto valores econômicos, quanto sociais. Alguns autores consideram que organização híbrida pode ser definida como um compromisso organizacional para atender às necessidades humanas através do Mercado. Na sua constituição, as organizações híbridas possuem valores baseados em uma geração de consumidores que valorizam questões sociais e ambientais e escolhem produtos de empresas que investem nesses conceitos.

Em 2006 Jay Coen Gilbert decidiu vender a sua loja de materiais esportivos AND 1 e ficou decepcionado com o encerramento de várias práticas de desenvolvimento sustentável que havia adotado, justificadas pela maximização dos lucros dos novos donos.

O que é o movimento B

Coen, Bart Houlahan (sócio da AND 1 antes da venda) e Andrew Kassoy criaram um conceito novo para boas práticas de sustentabilidade no âmbito social e ambiental. O então Movimento Global de Empresas B, criado nos Estado Unidos, em 2006, “usa os negócios para a construção de um ecossistema econômico diferente, mais resiliente, compartilhado e inclusivo”. O movimento B ou empresas tipo B constitui então, uma nova visão econômica que garante o desempenho da empresa de forma sustentável, sendo “as melhores empresas para o mundo e não apenas as melhores do mundo”.

Benefit, em inglês, representa os benefícios que as empresas podem oferecer para o seu entorno. Nesta concepção o movimento já certificou 3.246 companhias no mundo que além da propagação de uma economia sustentável, defendem um consumo mais consciente.

Para o Instituto Akatu, já ocorre também um movimento entre os consumidores. No Brasil, por exemplo, 60% acreditam que as empresas devem colaborar com o desenvolvimento da sociedade e 28% defendem um consumo mais consciente, estes percentuais devem aumentar nos próximos anos.

A partir do conceito de movimento B surge no mundo organizações para certificar as empresas que pretendem fazer parte do movimento e se beneficiar do mesmo. O principal e norteador das demais movimentações pelo mundo é o chamado B Lab, que certifica as empresas como B Corps. São eles que criam as ferramentas e políticas para a certificação. Hoje, como já mencionado, há mais de 3.500 corporações em 70 países em cerca de 150 setores.

Na América Latina o conceito chega em 2012, denominado Movimento B. No Brasil é denominado por Sistema B Brasil.

O movimento no Mundo

O Sistema B é um grande ecossistema no mundo, que se organiza para certificar as empresas com os propósitos já mencionados. Seu organograma parte do sistema B Lab (organização sem fins lucrativos que surge nos EUA e Canadá em 2006) e se espalha na Europa Continental, no Reino Unido, na África Lusófona e na Austrália. Em 2011 esta estrutura se expande para Chile, Argentina, Colômbia, Brasil, México, Peru, Paraguai, Equador, Colômbia, Uruguai, América Central e Caribe, por meio de parceiros do então Sistema B Internacional.

No Brasil, a organização ocorre por meio do Sistema B Brasil, que possui em sua sistematização membros curadores; membros efetivos (representantes de Empresas B, nomeadas a cada dois anos com poder de voto no Fórum de Governança do Sistema B Brasil); conselho deliberativo e conselho fiscal.

Em várias regiões do Brasil há representantes do sistema com a finalidade de potencializar as estratégias por meio de lideranças locais. Os estados que já possuem as denominadas Comunidades B Locais são: RS, SC, PR, RJ, MG, BA, PE, CE e GO (Sistema B Brasil, 2021).

Empresas B no mundo e no Brasil

O movimento já se faz presente em mais de 71 países, 3.200 empresas no mundo, 569 na América Latina e 151 empresas no Brasil (Relatório Sistema B Brasil, 2019). As empresas pertencem aos mais variados setores entre indústria, comércio, serviços, áreas de Educação como a FMU e moda como a empresa Reserva. Empresas internacionais de peso como Ben and Jerry’s (sorvetes) do grupo da Unilever, também compõe o movimento.

Registre-se que empresas de capital aberto aderiram ao movimento e se certificaram (um marco já que se faz necessário a aprovação dos acionistas para tal feito).

Uma delas é a empresa Danone, considerada a maior empresa tipo B do mundo após a sua fusão com a empresa americana de laticínios White Wave (Danone Wave). A empresa foi certificada em 2018 com uma pontuação de 84,9 e passou por um processo de adequação rigoroso, visto que alguns de seus programas não estavam adequados as normas exigidas para certificação. Já a empresa Natura certificada desde 2014, obteve na renovação de sua certificação em 2017 a marca de 120 pontos, 11% a mais que em 2014.

Ressalte-se que ambas também estão presentes no Guia Exame de Sustentabilidade de 2019, sendo a Natura a mais sustentável no seu setor. A empresa Movida também certificada como B Corp está no Guia.


Alessandra Santos Rosa é economista. Foi assessora da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo e Coordenadora de Desenvolvimento Econômico da Cidade de São Paulo. É assessora econômica em Hortolândia na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Turismo e Inovação. E pesquisadora convidada do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS.