2 anos de veneno

Agenda tóxica: governo Bolsonaro teve liberação recorde de 945 agrotóxicos

Muito da liberação de agrotóxicos em dois anos tem insumos produzidos na China. E nada se ouve de Bolsonaro, nem de seus filhos, sobre “agrotóxicos chineses”

Eduardo Tavares/Revista do Brasil 109
Eduardo Tavares/Revista do Brasil 109

Se está patinando em adquirir até insumos básicos para viabilizar a vacinação da população brasileira para debelar a pandemia da covid-19, em seus dois anos de existência o governo Bolsonaro fez a alegria dos fabricantes de venenos agrícolas. É que, fechado o ano de 2020, podemos contabilizar a liberação de 945 agrotóxicos (ver planilha completa aqui). E muitos deles de alta periculosidade para a saúde humana e o meio ambiente (incluindo águas e solos).

Já ressaltei em postagens anteriores. Um claro cinismo marca a atitude do presidente Jair Bolsonaro em face do uso da CoronaVac, vacina produzida e comercializada pela empresa chinesa Sinovac. É que todas as vacinas já desenvolvidas por outras empresas dependem de insumos produzidos na China para poderem ser produzidas. E vendidas a preços relativamente mais altos do que a da Sinovac. Além disso, uma parcela significativa dos agrotóxicos que tiveram liberação nos dois anos de governo Bolsonaro são produzidos exclusivamente na China. E sem que se ouça qualquer menção do presidente ou de algum dos seus filhos sobre o processo de envenenamento dos brasileiros pelos “agrotóxicos chineses”.

Vacina, não; veneno, sim. Governo Bolsonaro libera 10 agrotóxicos produzidos na China

Desatenção

Mas é preciso reconhecer que um dos grandes méritos da máquina de propaganda do governo Bolsonaro é desviar a atenção dos assuntos que realmente interessam. E inocular elementos paliativos e insignificantes na narrativa que molda a agenda política brasileira. 

Um dos complicadores acerca do debate necessário sobre o grave risco que o uso abusivo e indiscriminado de agrotóxicos altamente tóxicos pelos grandes latifundiários que controlam a pauta de exportação brasileira é que os partidos da esquerda institucional, mormente o PT, aparentemente não veem isso como um problema. A única exceção significativa nessa situação de aprovação tácita de um modelo de agricultura envenenada é o Psol. Sua atuação resultou em 2016 na apresentação de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (a ADI 553). A ação questiona as imorais isenções fiscais dadas aos fabricantes de venenos agrícolas.

Mas a falta de uma maior capacidade de mobilização política em torno da questão vem permitindo que a ADI 553 tramite na velocidade de um cágado de pata quebrada. E permitindo que o tsunami de aprovações de agrotóxicos gere bilhões de reais em lucros para as corporações que fabricam agrotóxicos.

O estudo aqui divulgado em que são demonstradas alterações no DNA de trabalhadores rurais expostos a agrotóxicos durante suas atividades profissionais em Goiás é apenas a ponta do iceberg de problemas infringidos à saúde humana no Brasil.

Só aqui

Antecipo que, apesar de todas as dificuldades de financiamento à pesquisa científica, ainda iremos ver emergindo evidências cientificamente corroboradas de outros distúrbios causados à saúde dos brasileiros por causa da exposição direta ou indireta a agrotóxicos. Muitos deles banidos em seus países de origem, incluindo a China que hoje domina o fornecimento de venenos agrícolas no nosso país. Exemplo disso é o herbicida Paraquate, que apesar de oficialmente banido continua sendo usado no Brasil em função de estratégias legais usadas pelos representantes do setor produtor de venenos agrícolas e associações que defendem os interesses do latifúndio agroexportador.

Antecipo que veremos a continuidade da aprovação expedita de agrotóxicos pelo governo Bolsonaro em 2021. Por isso mesmo, a partir do Observatório dos Agrotóxicos, o Blog do Pedlowski continuará documentado as aprovações e oferecendo as principais informações contidas nos atos oficiais de liberação de mais produtos para um mercado ambicionado pelas grandes corporações multinacionais. Apesar de trabalhosa, essa ação será continuada porque a última coisa que podemos nos permitir enquanto durar o governo Bolsonaro é o direito à ignorância.


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