Sem direitos

O abutre se aproxima e ameaça a vida: qual o nosso papel agora?

Desmonte do Estado, precarização do trabalho, violência contra os sem terra são justificados por mentiras ditas com desfaçatez nunca vista. Temos de fazer escolhas para enfrentar a sordidez

Kevin Carter
Kevin Carter
Fotógrafo Kevin Carter presenciou o abutre esperando o último suspiro da criança desnutrida

Em quatro anos, desde o golpe de Estado, o Brasil se tornou palco de um movimento infernal. Todos os direitos trabalhistas foram relativizados, quando não extintos, para dizer o mínimo. O Estado social está sendo desmontado, juntamente com a soberania nacional, sobrevivem uns poucos direitos por causa da pandemia. A economia soçobrou, a fome e a miséria voltaram. Temos lutas, aparentemente, capitaneadas por clãs, como os Bolsonaro, os Gomes, os Marinho e outras famílias que controlam a economia, além de milicianos e organizações criminosas.

A gente tem a sensação de que está sob um esquema mafioso. Parece que todos que poderiam mudar o quadro foram cooptados. O pobre sofre toda a sorte de opressão, e não se dá conta. Porque religiosos de todas as confissões religiosas, assim como os pastores de dois terços da igreja evangélica foram cooptados por esse esquema que começou com a urdidura do golpe de Estado. A precarização do trabalho, denunciada, entre outros, pelos entregadores de aplicativos, está em curso, o trabalho caminha a passos largos para o análogo à escravização. As Forças Armadas e auxiliares dão-nos a impressão de terem sido transformadas em meros jagunços da “elite” escravista.

Formas de violência

Enquanto enterramos os nossos mais de 106 mil mortos, assistimos ao despejo de mais de 450 famílias, com requinte de crueldade. Famílias que há mais de 20 anos ocupavam o lugar, onde muitos deles foram forçados a trabalho análogo à escravização, produzindo alimento da melhor qualidade. Escola destruída, plantações queimadas. Um terror!

É um quadro fomentado e sustentado por mentiras ditas com desfaçatez nunca vista. Tais como o governo federal ser contra um projeto de lei, perder, como no caso da renda de R$ 600, e do Fundeb, e sem nenhum senso de pudor, sair a espalhar que tais perdas são, de fato, seus ganhos. Ou jogar nas costas dos estados e municípios a culpa pelas mortes evitáveis na pandemia graças à inércia do governo federal, e da insensibilidade do sistema capitalista, e o povo ser levado a acreditar.

E cada vez mais, diante de toda a sordidez, estamos frente a um impasse. Como aquele fotógrafo que presenciou o abutre esperando o último suspiro da criança desnutrida, morrendo por inanição. Diante da possibilidade de salvar a criança, como pudesse, tirou uma foto e, depois de anos, tirou a sua própria vida.

Temos de nos conscientizar: não temos mais o direito à mera observação e registro. Se é que um dia houve a possibilidade de buscar compreender o mundo, diante desta barbárie não temos escolha, temos de transformar o mundo.

“Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado” Tiago 4.17


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