Outro Brasil

A atual política de curto prazo e o comprometimento do futuro

Diante da mudança de nosso perfil demográfico, torna-se essencial o país repensar como incluir a qualidade de vida da população no centro da agenda nacional

Envelhecimento acelerado da população brasileira deveria inspirar a gestão de políticas públicas de amparo e proteção. Não é o que se vê no governo Bolsonaro

Prestes a completar 200 anos de sua independência, o Brasil se apresenta cada vez mais diferente em termos populacionais. Se nas duas décadas finais do século passado, o país registrou o maior salto populacional com aumento de 44% no número de habitantes, as duas décadas iniciais do século atual registram crescimento demográfico de somente 22%, exatamente a metade.

Com isso, a desaceleração incremental na população brasileira, está prevista para ser de apenas 7,5% para as décadas de 2020 a 2040. Entre os anos de 2040 e 2060, o país deverá experimentar algo até então inédito, com decréscimo do tamanho absoluto de sua população em cerca de 4,3%, segundo estimativas do IBGE.

Outro aspecto importante encontra-se na continuidade da queda na proporção de homens em relação às mulheres. Até 1988, por exemplo, os homens eram a maioria da população (71,94 milhões ante 71,91 milhões de mulheres), quando passaram a ser minoritários, como no ano 2000, em que foram ultrapassados por 1,1 milhões de mulheres e, em 2060, espera-se que poderá haver quase 6 milhões a mais de mulheres em relação ao contingente masculino.

Em grande medida, esse conjunto de alterações demográficas resulta da queda na taxa de fecundidade, sobretudo com a queda na quantidade de filhos por mulheres. No ano 2018, por exemplo, a mulher em idade reprodutiva detinha, em média, 1,7 filhos, abaixo da taxa de reposição estimada em 2,2 crianças por mulher. Para o ano de 2034, a taxa de fecundidade deve ser estabilizar em 1,5 filhos por mulher.

Se comparar a taxa de fecundidade de 2018 com a do ano 2000 (2,39 filhos por mulher), a queda no número de filhos por mulher foi de 28,9% e se levar em conta a do ano de 1980 (4,12 filhos por mulher), a redução foi de 58,7%. Enquanto as mulheres de 15 a 19 anos constituem o único segmento etário que elevou a taxa de fecundidade (de 0,08 filhos por mulher para 0,09), os demais grupos etários reduziram a quantidade de filhos, com queda de 42,8% na faixa de 25 a 29 anos, de 50% de 30 a 34 anos.

Por outro lado, o destaque da expansão na esperança de vida ao nascer. Entre 1980 e 2000, por exemplo, a expectativa de vida saltou de 62,6 anos para 69,9 anos, o que representou o acréscimo de 7,2 anos em média, ou seja, aumento acumulado de 11,1% em 20 anos.

Em 2018, a esperança de vida alcançou 76,3 anos em média (6,4 anos a mais que em 2000) e para o ano de 2060 espera-se alcançar 81,2 anos. Comparativamente com o ano de 1980, a população brasileira em 2060 poderá ter, em média, 18,6 anos a mais de esperança de vida ao nascer.

O envelhecimento da população brasileira vem acompanhado da redução absoluta e relativa do segmento de menor idade no conjunto da população. No ano de 1986, por exemplo, eram 18,5 milhões de crianças de idade de 0 a 4 anos, mas que terminou sendo reduzido para 17,3 milhões em 2000 e para 14,8 milhões em 2018. No ano de 2060, a faixa etária de 0 a 4 anos poderá ser de apenas 10,8 milhões, o que equivalerá a 4,7% da população total ante 7,1% de 2018.

Por isso, ao se considerar a evolução da população com 60 anos e mais, percebe-se a profunda mudança na composição etária dos brasileiros. Se no ano de 1980 era de 5,9% a participação relativa do segmento etário de 60 anos e mais no total da população, no ano 2000 passou para 8,6% até alcançar 13,4% no ano de 2018. Para o ano de 2060, o IBGE estima em 32,2% dos brasileiros terão 60 anos e mais de idade.

Diante desta significativa transição demográfica, o planejamento nacional se torna essencial, uma vez que o país precisa urgentemente repensar o seu futuro, se a qualidade de vida da população estiver no centro da agenda nacional.

Pela dinâmica dominante da atual política, o “curtoprazismo” segue em evidência a tal ponto de terem sido realizadas alterações na atuação do Estado que comprometem qualquer possibilidade de elevação do padrão de vida dos brasileiros.


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