Dia dos Pais

Cuidado, fraldas e divisão de tarefas – um manual rápido da paternidade

Se a sua companheira não tá programada com Windows Baby Pró 2000, ela também está aprendendo! E você também pode aprender a paternidade ativa

AERC/Pixabay
AERC/Pixabay
No começo, bebês são pequenos anjos. Depois a gente fica doido. Mas faz milhões de anos que isso é assim. Deve estar certo

Está chegando o Dia dos Pais. Amigos, colegas, conhecidos e desconhecidos… Esta conversa é com vocês todos. A situação é trágica. As nossas companheiras, as mães dos nossos filhos, estão bem bravas. E elas estão muito certas. Depois de milhares de anos imersa em um disco voador no Tibete, chegou pra nós a solução dessa crise terrível que assola casais mundo afora, sobretudo após a chegada dos filhos. Rufem os tambores. Soem as cornetas. Disparem os canhões. A solução é: compartilhar os cuidados com as crias e as tarefas de casa. Não 80/20 nem 70/30. 50/50, meus amigos. Em resumo, uma paternidade responsável. Nada menos que isso.

Eu sei, eu sei… Vocês devem estar pensando: “Como? A solução da nossa crise matrimonial não passa por terapia de casais, pelo novo livro do Casamento Blindado ou pelas simpatias do Eli Corrêa.?” Amigo, chega aqui pertinho, vou te contar um segredo: Nós somos ruins de serviço pra caramba.

Quando o vermelho do teu rosto diminuir, pergunta pra tua companheira o que ela acha…

Nasce o bebê, descobrem água em Marte, descobrem a luz líquida e a gente ainda precisa ser informado que tem que varrer um chão, lavar uma roupa, lavar uma louça, ainda fica com nojinho de fralda e achando que o neném é feito de gelatina e vai desmanchar nas nossas mãos…

Mas…

Além da humilhação pública, este texto também é um convite à ação por uma paternidade responsável.

Uma coisa interessante sobre compartilhar as tarefas da casa e com as crias é a equação: duas pessoas fazendo duas tarefas distintas é igual a mais tempo pra vocês ficarem juntos e menos cansaço individual. Não me pergunte como isso funciona, que eu sou de humanas…

Mas veja: você faz os cuidados do bebê pela manhã enquanto sua companheira faz o café, e sobra mais tempo pra vocês do que se só ela fizer as duas coisas. Parece óbvio. E é. O mesmo vale para você dar banho no bebê enquanto ela faz a comida. E curiosamente também se aplica a você lavar o banheiro enquanto ela estende roupa no varal. Se inverter, funciona igual. Não é feitiçaria, é tecnologia.

Some todas essas horas economizadas ao longo do dia, subtraia o cansaço relativo que era só dela e agora será de vocês dois, e você vai descobrir que ambos terão mais ânimo pra namorar de noite, com mais ou menos o mesmo pique. Não precisa agradecer, estamos aqui pra isso também.

Nada como um dia após o outro dia. Ainda dá tempo de sermos companheiros e pais pra Rodrigo Hilbert nenhum botar defeito. Bom, exceto por essa cara de pastel amanhecido, mas aí não tem jeito mesmo…

Uma das primeiras coisas que precisamos perceber é: exceto se a sua companheira é um robô programado com Windows Baby Pró 2000 Extended, ela também tá aprendendo no dia a dia como cuidar do bebê. E, se você está dotado de um quilo e meio de massa cinzenta nessa cabeça, você também consegue aprender.

Com exceção da amamentação no peito, todas as demais coisas que um bebê precisa podem ser feitas por qualquer pessoa que saiba respirar, tenha braços, polegar opositor e consiga diferenciar um mamute de uma joaninha. Se você se enquadra nessa condição, vamos aos progressos.

Aliás, veja que eu destaquei o “no peito”. Se não é o caso, mas você passou pelo parágrafo anterior, você consegue aquecer e segurar uma mamadeira na boca do bebê por alguns minutos.

Você ama seu filho, certo? Amor por bebês pode ser sintetizado em trocas de fraldas. O cocô é o primeiro código da natureza. Cor, textura, cheiro, frequência e consistência são indicadores da saúde do teu filho. O cocô saudável é pastoso e amarelo ouro. Olha a chiqueza? Mas, se o cocô estiver parecendo uma Amoeba, ou verde, ou líquido, ou com ranhuras vermelhas, é bom prestar atenção. Agora, se vê encontrar um coelhinho azul nele, significa que seu filho está devorando gibis da Mônica.

Já que estamos falando de cocô, vamos falar de fraldas? A primeira coisa a ter em mente ao trocar fraldas é: o bebê não vai quebrar. É uma criança, não uma gelatina. Pode virar, erguer e torcer um pouquinho sem medo. Tudo é prática. Uma, duas, cinco, mil e duzentas fraldas trocadas e tudo vai ficar mais leve.

Bebes precisam trocar de cinco a oito fraldas por dia. Pegue tudo que você vai precisar, antes de começar. Do contrário, além da fralda, você vai ter de trocar a roupa, porque bebês não gostam de esperar pelados e se vingam mijando durante a troca. Ou, o bebê vai virar quando você sair de perto e cair no chão… Aí, sim, teremos problemas.

E, bem, se for trocar as roupas, bodys podem ser assustadores. Mas tudo é uma questão de método, meus queridos:

• Abra bem a gola do body;
• Enfie a mão pela gola do body de cima para baixo;
• Puxe todo o Body na altura do seu pulso;
• Levante um pouco o bebê e apoie a nuca dele na mão que está dentro do body;
• A roupa vai ficar na cara dele por uns instantes, mas ele não vai sufocar com isso;
• Mas também não precisa demorar, senão vai sufocar;
• Puxe a parte da frente do body com a outra mão liberando o rostinho;
• Tire a mão da nuca devagar e deite o bebê;
• Ajeite o body e feche os botões.

Tá todo mundo bem?

Ok, vamos continuar.

No começo, bebês são pequenos anjos. Depois tudo degringola e a gente fica doido, mas faz milhões de anos que isso é assim, então, deve estar certo. Mamou, trocou e vestiu? Vamos nanar. Não você, o neném.

Eu aprendi uma coisa interessante com a primeira filha que só entendi com o segundo: o bebê se relaciona com cada cuidador de um jeito particular. Não se preocupe em copiar a mãe pra fazer a criança dormir. Descubra o seu jeito de fazer. Eu cheguei a ficar com a Sofia chorando por uma hora até descobrir como ela dormia comigo.

O fim da tarde é o momento de começar a encaminhar o soninho da noite. Sabe o que acontece quando o sol se põe e deixa aquelas cores lindas no céu? O bebê chora muito, chora, chora, chora. Sem motivo aparente.

Sim, é desesperador. Mas é muito pior sua companheira passar por isso sozinha. Ponha o bebê no braço esquerdo, depois no direito, de bruços, sacuda de leve pra cima e pra baixo, direita e esquerda, ande, pare. Bingo: dormiu. Mas não grite de alegria ou vamos ter de começar de novo…

Se vocês tiverem duas crias, se responsabilize prioritariamente pelo mais velho. Sobretudo se o mais novo for recém-nascido. Leve pra escola, pro pediatra, dê janta, dê banho, ponha na cama. No começo o mais novo tem mais necessidade da mãe, então cumpra os outros 50%, certo? Não se preocupe, que ainda vai ter bastante tempo de exercer a paternidade responsável com o mais novo também.

Vocês podem revezar. Um dia eu dou banho no Luka, ponho ele na cama, minha companheira dá banho na Sofia, eu dou janta, ela põe a menina na cama, eu começo a fazer comida, ela termina na manhã seguinte, eu lavo a roupa, ela estende e recolhe, eu dobro, eu levo a pequena pra escola, ela busca…. Depois troca o par e vamos dançar a quadrilha.

É claro que nem sempre sai tudo como planejado. Eu já machuquei os pequenos cortando unha, já arranhei trocando roupa porque eu estava com unha grande, já puxei cabelo da pequena penteando, tive que dar remédio ruim que foi cuspido longe, gritei descontrolado… Mas são detalhes que uma semana da criança te odiando se resolvem.

“Ah, mas eu trabalho, chego cansado”, acabou de passar pela sua cabeça. Bem, assim, não, você tem tipo umas férias diárias do bebê. Precisamos romper esse mito de que licença-maternidade = férias. A maior parte dos dias não dá pra ir ao banheiro em paz. Comer tranquilamente, então, é um sonho.

Mas vamos tomar como verdade esse cansaço. Você ainda pode colocar roupa na máquina de noite. E estender antes de sair de manhã. E recolher do varal e dobrar. Pode zerar a louça da pia. Pode adiantar o café da manhã da tua companheira. A lista é quase infinita. Mãos à obra. Ei, não, não é pra perguntar a ela o que fazer. Olha em volta e vê o que precisa ser feito. Atitude, homem.

Enfim, em três anos, seus bebês já serão crianças menos trabalhosas (ah, eu tenho fé, eu creio em Deus, olhai por esses filhos teus). Até lá eu adotei a seguinte regra: minhas coisas podem esperar. Eu amo futebol, mas não vou jogar se isso significa deixar minha companheira com duas crias se virando sozinha em casa. Mesmo a revolução não vai acontecer amanhã, então, uma pausa na militância não vai fazer mal nenhum…

A menos que ela também precise do tempo dela para exercer atividades de lazer ou outra, extra-domésticas, enquanto você cuida das crias. Aí é o 50/50 em pleno funcionamento.

Imagine o que aconteceria se pai e mãe fossem intransigentes: Eu não consigo trocar fraldas. Ou eu não vou deixar de fazer [insira aqui uma atividade] no sábado de manhã ou na sexta de noite. Ou eu não sei dar banho. Claro que algumas coisas podem ser dialogadas, mas filhos são dos dois e demandam muito.

Dá trabalho criar filho? Dá. Pra caramba. Isso você até já sabe. Ou imagina. Mas é função social dos filhos, sobretudo os pequenos, darem muito trabalho. Tenho quase certeza que tem alguma passagem na Constituição sobre isso. Mas se você assumir a paternidade responsável e equilibrar o desgaste com a sua companheira, vai ser mais de boas de passar essa fase. E sem que elas precisem enlouquecer por nossa causa também.

Feliz Dia dos Pais.

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