rentismo

É muita cara de pau do setor financeiro defender medidas que não vão criar empregos

Receita ultraliberal apregoada por representante do setor bancário só espera sacrifício dos trabalhadores e comprova que o sistema financeiro é o ‘Rasputin’ dos governos no Brasil

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Governadores cobram aplicação da Lei 10.835, que institui a renda básica de cidadania, para amparar a população economicamente vulnerável

Li com indignação o artigo da economista-chefe do Banco Santander, Ana Paula Vescovi, publicado nesta sexta (23), pelo Valor Econômico.

Sob o título de “Ajuste nas expectativas”, ou seja, novamente projetando o crescimento para baixo, o artigo evidencia o papel nefasto do sistema financeiro sobre a economia.

Comprova que o sistema financeiro é o “Rasputin” dos governos no Brasil, seus conselhos disfarçados de boas intenções na verdade buscam atender o rentismo brasileiro.

Os bancos sempre deixaram de cumprir o seu papel, como quando negaram crédito a partir de 2012, levando milhares de empresas ao fechamento.

Insistem em inúmeras reformas econômicas (trabalhista, previdenciária, da liberdade econômica), que não combaterão o desemprego e pior: no artigo, ela pede que aceitemos o baixo índice de crescimento e a continuidade do infortúnio dos trabalhadores. Inaceitável!

Foram esses pensamentos, no ímpeto da defesa do ultraliberalismo, que levaram a Argentina à situação atual, ao desastre.
Há uma conjunção de pessoas que, como agora tudo que eles previram não está se materializando, estão reajustando as expectativas para encobrir a incompetência deles e insistem em medidas que não irão beneficiar a retomada do emprego, não farão com que a economia cresça no ritmo que o país precisa, por que não será bom para o Brasil se desfazer de suas riquezas sem garantir a contrapartida da reindustrialização local.

Não será bom para o Brasil ficar “bombando” as taxas de retorno das empresas que investiriam aqui e o que se faz é aumentar a fortuna dos ricos, concentrando renda. Essas medidas estancam a distribuição da renda e mantêm o país próximo da recessão.

Essa receita não é para o Brasil e, nos dias de hoje, para nenhum lugar do mundo. Pela velocidade das mudanças tecnológicas, o rumo da política econômica tem que mudar.

Essa receita ultraliberal não deu certo para o Macri, na Argentina, e nem tão pouco deu certo no México, onde essa visão predominou por décadas e levou ao empobrecimento dos mexicanos até a eleição de Obrador e, do mesmo jeito, está levando à provável vitória de Alberto Fernández no processo eleitoral argentino.

É um abuso ler da economista-chefe do Santander duas coisas: que o Brasil está se fortalecendo institucionalmente (com tudo ruindo à nossa volta) e, pior, que temos que aguardar a longa maturação das medidas ultraliberais darem certo.
É muita cara de pau.

*Rafael Marques é presidente do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC