desbalanceado

Nos 100 dias de Doria, há apenas marketing e desejo de entregar estatais aos amigos

Depois de pintar de preto e cinza salas do Palácio dos Bandeirantes, governador promove sua cruzada pelas privatizações, ou melhor, pela defesa do bolso dos amigos

Romério Cunha/VPR

Doria recebe o vice-presidente Hamilton Mourão no Bandeirantes, em sala que mandou pintar de preto e cinza: ‘primeira grande obra’

Completam-se neste 10 de abril os primeiros 100 dias de mandato do quarto tucano a governar o Estado de São Paulo consecutivamente desde 1995. E este, apesar de semelhante aos demais, chegou ao Bandeirantes a partir de uma campanha eleitoral em que se apresentou como se não tivesse qualquer responsabilidade pelas mazelas existentes no Estado que o seu partido comanda há 25 anos. Tudo feito com muito marketing e vários milhões.

Dizem especialistas que um dos maiores pecados que um plano de marketing – e assim é o plano carreirista do governador que, mentindo à população da Capital, abandonou a prefeitura para buscar outro cargo – é oferecer um produto em sua propaganda e o consumidor chegar no ponto de venda e não encontrar este produto ou o que foi anunciado não corresponder às expectativas criadas pela propaganda. E é exatamente isso que estamos vendo com o governo de João Doria. Assim como aconteceu na prefeitura de São Paulo, os 100 primeiros dias dele à frente do governo do Estado mostram apenas factoides e muita fumaça. Senão, vejamos.

A primeira grande obra do seu governo foi cometer o crime contra o patrimônio público e pintar móveis e paredes do Palácio nas cores de preto e cinza. Tudo feito por uma amiga decoradora preferida da turma dele. Sim, ele jogou tinta sobre moveis de madeira nobre que fazem parte do patrimônio do povo de São Paulo. O Ministério Público, me parece, tomou medidas para investigar este crime sobre o patrimônio.

O primeiro projeto que enviou à Assembleia Legislativa busca receber daquela Casa um cheque em branco para privatizar, para entregar aos seus amigos empresários, grande parte das empresas estaduais. Quer fazer graça com seus amigos com o patrimônio construído com o dinheiro de todos os paulistas. Estão entre essas empresas Prodesp, Dersa, Emplasa e a Imprensa Oficial.

Além disso, seguindo na linha de atender aos interesses dos amigos empresários, está encaminhando a privatização e a consequente criação de pedágios em mais 12 rodovias estaduais, inclusive em estradas que já foram duplicadas com dinheiro do governo do Estado e que não receberão qualquer benfeitoria, como é o caso da via que liga Bauru a Marília, onde em um trecho com menos de 100 quilômetros ele quer instalar duas praças de pedágio ao preço aproximado de R$ 10.

E enquanto quer encher o bolso dos amigos empresários, Doria usa a tesoura para cortar investimentos e recursos nas áreas sociais e em área estratégicas como habitação, educação e cultura. Foram cortados, por exemplo, 22% no Programa Vivaleite, 41% na habitação, 15,6% para a construção e manutenção de escolas e 96% no programa Frente de Trabalho. A tesourada de R$ 154 milhões (18,9%) na Cultura vai atingir em cheio as fábricas de cultura e oficinas culturais.

E nesse curto tempo Doria já pode exercitar uma de suas mais conhecidas facetas: o autoritarismo. Logo nos primeiros dias, ele lançou decreto criminalizando as manifestações, vetou projeto de combate e prevenção à tortura, vetou a delegacia da Mulher 24 horas e já despejou mais de 200 mil pessoas em 300 reintegrações de posses.

O que vimos por estes 100 dias é para onde está caminhando o governo João Doria. Um governo que privilegiará os seus amigos empresários em detrimento do atendimento das questões mais importantes para a maioria da população paulista, um governo que não tem nenhum compromisso com os que mais precisam e dependem da ação do poder público.

Um governo que não tem compromisso com as futuras gerações em nosso Estado e apenas está preocupado com a sua carreira de político tradicional mirando na eleição presidencial e planejando como vai passar a rasteira no atual presidente que ele utilizou em sua campanha para ganhar alguns votinhos. Aliás, lealdade também não é o seu forte.

O que vimos em síntese, é um governo (produto) que não corresponde em nada às mentiras contadas pelo seu marketing durante a campanha. O tempo abrirá os olhos da população para a realidade de que foram enganados, mais uma vez, pelos tucanos.

* Luiz Marinho foi candidato ao governo do Estado e é presidente do PT-SP