Juca Kfouri: uma saída para o horror

Uma eleição sem o favorito inviabilizará a necessária conciliação nacional. Somente com Lula no pleito, vencedor ou derrotado, sairemos da sinuca de bico em que nos metemos

Via Blog do Juca

Não há no candidato do polo fascista nada que se compare com o ex-presidente que deixou mandato com 87% de aprovação

Blog do Juca – Do mesmo modo que há quem não acredite ser justa a prisão de Lula, ou o impeachment de Dilma, existem os que têm em Bolsonaro a figura do salvador da pátria. A julgar, porém, por quem são uns e outros, a semelhança estaciona aí se a questão é meramente de fé.

Porque na turma do ex-presidente, e líder nas pesquisas eleitorais, estão, entre tantos: Chico Buarque, Gilberto Gil, Fábio Konder Comparato, Noam Chomsky, Slavoj Žižek, Leonardo Padura, Luis Fernando Verissimo, Bernie Sander, Thomas Piketty, Milton Hatoum e Raduan Nassar, para ficar em apenas 11 nomes de primeiro time em qualquer seleção que se faça pelo planeta afora, seja pelo que significam no mundo jurídico, das artes, da política, da economia ou da filosofia. Gente que não ganhará, ou perderá, um tostão qualquer que seja o resultado eleitoral.

Não há, do outro lado, em segundo lugar nas pesquisas, nada que se compare, a não ser gente que não se importa com a tortura, com a homofobia, o racismo, com estupro, ou com a mais repugnante idiotia, algumas figuras até da mídia — o que demonstra como certos veículos outrora respeitados despencaram em credibilidade e colaboraram para o clima de intolerância que agora, arrependidos?, denunciam como assustador.

Gente que há mais de 500 anos se locupleta ou que, no desespero da crise, se autoengana com soluções autoritárias. A questão está em como combater a onda fascistoide que ameaça o país nas eleições de outubro.

E não será revelando as barbaridades que defendem, a desinformação que propagam ou os absurdos históricos que repetem.

Porque diante das campanhas midiáticas que nos trouxeram a quadro tão sombrio, nada cola nos propagandistas do retrocesso civilizatório em nome do combate à corrupção que os alimenta.

Se assim foi nos Estados Unidos, não há por que imaginar situação diferente no Brasil.

Tentar desconstruir as falsidades da extrema-direita tupiniquim sobre a escravidão, ou sobre o combate à mortalidade infantil, será pregar no deserto dos que sempre dirão que não foi bem isso que o truculento candidato quis dizer, até porque ele é uma pessoa doce e equilibrada, tanto que carrega no colo crianças que apenas brincam de bang bang.

O esforço para impedir o segundo mandato, a partir de seu primeiro dia, de alguém legitimamente eleita pelo povo, deu nisso: na morte política de quem disputou com ela e na ascensão do que há de pior em qualquer parte do mundo.

Seria formidável se surgisse uma saída intermediária, mas é óbvio que boa parte do Brasil considerará ilegítima uma eleição sem o favorito, o que inviabilizará a necessária conciliação nacional.

Somente com Lula no pleito, vencedor ou derrotado, sairemos da sinuca de bico em que nos metemos.

E para quem avaliar que entre Lula e Bolsonaro existe um conflito de extremos, sempre será bom lembrar que o hoje encarcerado ex-presidente saiu do governo com 87% de aprovação, o suficiente para, se quisesse, convocar e ser novamente reeleito, ao estilo chavista.

E ele recusou.

Lula é tão extremista como Pelé foi goleiro.

O que não podemos é seguir adiante com o quadro de intolerância vivido hoje em dia.

A ponto de ontem, numa mesma entrevista com Fernando Haddad, um lado chamar jornalista de golpista e outro de petista. O que prova, cabalmente, que era apenas jornalista.

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