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Tecnologia não pode ficar somente a serviço dos bancos

A aplicação de tecnologia no setor bancário não se reflete em benefícios para a sociedade. Com a política dos bancos, trabalhadores e consumidores saem perdendo

Maurício Morais / Arquivo / Seeb-SP

Ivone: economia de custos fica apenas para os bancos. Em 2017, tarifas subiram três vezes acima da inflação

Brasil 247 – Não há dúvida que a tecnologia é mais assertiva para estruturar dados infindáveis de clientes. E os bancos captam esses dados em redes sociais, aplicativos de celular, movimentações de conta, pagamentos no cartão de crédito e, desta maneira, traçam detalhadamente hábitos de consumo e transformam essas informações em capacidade de oferta de produtos financeiros, utilizando softwares de inteligência artificial.

Associado a transações “mais rentáveis”, o que está por trás do investimento cada vez maior dos bancos em tecnologia é a certeza de que isso irá proporcionar, em futuro próximo, uma enorme redução de custos para os bancos. Diminuição com locação de imóveis, com segurança, papéis, arquivos, luz, impressão, e principalmente com mão de obra.

O próprio Bradesco em sua apresentação institucional aponta que o custo médio para o banco de uma transação no celular corresponde a apenas 3% do custo médio de uma transação nas agências físicas. Essa enorme economia de custos, no entanto, fica apenas para os acionistas dos bancos, já que em 2017 por exemplo a inflação de serviços bancários foi três vezes maior que a inflação geral. Ou seja, a aplicação de tecnologia nos bancos não se reflete em custos mais baixos de tarifas e juros para a sociedade, pelo contrário, o orçamento das famílias e empresas está cada vez mais comprometido com os bancos.

Desta forma, a estratégia dos bancos é passar o máximo de transações possíveis para os meios digitais e também automatizar processos internos. E vários aspectos das relações de trabalho nos bancos são afetados pelas novas tecnologias.

O primeiro aspecto que pode ser observado é o desemprego tecnológico, na medida em que muitas ocupações importantes do setor, principalmente ligadas às transações financeiras passam a perder importância na medida em que as transações são realizadas na internet ou no smartphone. Por exemplo, de janeiro de 2012 a abril de 2018 os bancos fecharam 56.546 postos de trabalho, o que equivale a uma redução de mais de 10% da categoria.

Outros aspectos como mudanças na jornada, na intensidade do trabalho, nas tarefas exigidas também tem preocupado os bancários e o Sindicato. Por exemplo, nas chamadas agências digitais atende-se muito mais clientes por bancário do que nas agências tradicionais, o que pode gerar uma série de problemas de saúde na categoria como já observamos nos últimos anos com grande quantidade de afastamentos por transtornos mentais, como depressão e ansiedade.

Não somos contrários à tecnologia, mas ela não pode ficar a serviço apenas dos banqueiros. É preciso transações seguras, com a redução do valor das taxas para população (e melhor serviço) e melhores condições de trabalho para a categoria.

Outra questão relevante é que as novas tecnológicas do setor financeiro não atingem a população mais pobre e aquela que vive longe dos centros urbanos, gerando ainda mais exclusão financeira. De 2012 para cá, o número de municípios sem agência bancária passou de 34% para 40% do total de municípios no Brasil.

Os bancos apostam apenas na redução de sua presença física como forma de reduzir custos e competir no mercado. Esquecem, no entanto, que a população quer ser atendida por pessoas e não só por máquinas, principalmente em se tratando das finanças de cada um de nós.

* Ivone Silva é presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região