reação

Não à recessão. Voltar a crescer sem distorções em favor dos ricos de sempre

Inflexão na política atual de promoção da recessão dificilmente ocorrerá sem movimento político de maior envergadura

Arquivo/EBC

Dínamos importantes da economia, indústria e infraestrutura se enfraquecem e comprometem novo ciclo

Das três mais graves e prolongadas recessões que o Brasil passou nos últimos 100 anos, somente uma se mostrou capaz de reorientar a estrutura produtiva do país e estabelecer um novo ciclo econômico de expansão sustentada ao longo do tempo. Com isso, deixa-se de considerar as recessões leves, como as de 1964/65, 1998/99 e 2008/09, para se referir à gravidade e prolongamento das recessões de 1930, 1981 e 1990.

Nesse sentido, destaca-se, nenhuma das recessões ocorridas no início dos anos de 1980 e do começo de 1990 apontaram para outro ciclo de expansão da economia nacional. Entre 1981 e 1983, por exemplo, a recessão terminou sendo adotada pelo último presidente do governo militar (João Figueiredo) para substituir o antigo dinamismo do mercado interno pelo ajuste exportador, como forma de viabilizar recursos suficientes para o pagamento da dívida externa.

Na recessão seguinte, instaurada entre 1990 e 1992 pelo governo de Collor de Melo, o primeiro presidente eleito após o fim da ditadura militar (1964 – 1985), constatou-se que o seu principal objetivo era favorecer a inserção subordinada da economia nacional à globalização. Seja no fechamento da economia brasileira orientado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para atender aos interesses dos credores financeiros externos nos anos de 1980, seja na abertura econômica também apoiada pelo mesmo FMI nos anos de 1990 para favorecer o movimento de financerização da riqueza, não houve evidências do retorno ao crescimento econômico sustentado.

De fato, somente a recessão de 1930 possibilitou romper com a velha e longeva economia primário-exportadora dominada por dinâmica externa, o que permitiu abrir novo ciclo de expansão fundado no mercado interno por meio século da industrialização e urbanização nacional. Por conta disso, cabe considerar o sentido da atual recessão, que está completando dois anos de existência e ameaça se prolongar, ainda mais, ao longo do ano de 2017.

Todo o sacrifício expresso desde 2015 pela recessão, com importante redução no nível de emprego e do rendimento médio da população, não tem apontado para um horizonte superior. Pelo contrário, o enfraquecimento imposto aos dois dínamos da economia, assentados na indústria e infraestrutura, comprometem seriamente a possibilidade de um novo ciclo de expansão produtiva.

No estado de São Paulo, berço da industrialização e mais importante centro econômico do país, deve-se acumular nestes dois últimos dois anos, a destruição próxima a 400 mil empregos industriais, ademais da eliminação de um conjunto significativo das empresas de manufatura. O desinvestimento em curso na economia brasileira se reproduz também no setor de infraestrutura frente à operação Lava Jato, sem compromisso com a engenharia nacional.

A inflexão na política atual de promoção da recessão dificilmente ocorrerá sem movimento político de maior envergadura. Para além da crítica necessária às medidas em curso e projetadas para serem postas em práticas pelo governo Temer, torna-se fundamental reação organizada centrada em inovador programa econômico e social.

O papel de uma frente política anti-recessiva se coloca na forma de radical programa que tenha condições de dialogar com os requisitos do futuro, descomprometendo-se da atualidade neoliberal. Com isso, a base da reindustrialização da estrutura produtiva com forte transição ecológica e da reversão dos privilégios de qualquer natureza, sobretudo aqueles fundamentados pelo Estado.

Do contrário, o país tenderá a seguir encolhendo pela força regressiva da recessão, contaminada pelo véu neoliberal que distorce a realidade em favor dos ricos. A desintegração enquanto nação aparece cada vez mais como uma possibilidade do prolongamento da recessão para o ano de 2017.

Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Unicamp