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América Latina irá para onde forem Brasil e Argentina

cc wikimedia commons Michel Temer e Mauricio Macri, presidentes e representantes da ofensiva conservadora na AL A estreita aliança estabelecida entre os governos da Argentina e do Brasil a partir […]

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Michel Temer e Mauricio Macri, presidentes e representantes da ofensiva conservadora na AL

A estreita aliança estabelecida entre os governos da Argentina e do Brasil a partir dos governos de Lula e Néstor Kirchner rompeu o longo projeto norte-americano de consolidar seu poder sobre o continente jogando um país contra o outro. Até os anos 1990, os EUA impunham esse jogo na negociação das dívidas dos dois países – assim como a do México – , impedindo que a coordenação dos mais endividados do continente os fortalecesse contra o FMI, o Banco Mundial, o Clube de Paris, a Secretaria do Tesouro dos EUA. E tudo contando com o beneplácito dos respectivos presidentes de ocasião.

Mas assumidos como “irmãos gêmeos”, com destinos e interesses comuns, a proximidade entre Lula e Kirchner foi um marco a partir do qual se fortaleceu o Mercosul e se expandiram os processos de integração regional com o Unasul, o Banco do Sul, o Conselho Sulamericano de Defesa e a Celac.

Nunca os EUA estiveram tão isolados na América Latina como a partir daquele momento. Foi uma marca notável da história do nosso continente no século 21. Movimentos sociais, partidos de esquerda, governantes, intelectuais, entidades como Clacso, Alas, entre tantas outras, passaram a atuar de forma similar e coordenada, com a consciência de como os processos históricos dos dois países estão estruturalmente articulados, de como os destinos dos dois países caminham irreversivelmente juntos. Ficou claro que, para onde avancem a Argentina e o Brasil, irá também a América Latina.

Não é um acaso que as operações de retorno da direita aos governos dos dois países receba um apoio tão imediato e entusiasmado de Washington, com visitantes oficiais recebidos pelos governantes dos dois países com a mesma atitude subalterna que havia caracterizado Brasil e Argentina aem grande parte do século 20.

Os EUA têm consciência do que significa para seus planos internacionais romper o isolamento que sofria na América Latina e voltar a contar com governantes do continente – por mais antipopulares que sejam, por mais que sejam produtos de manobras antidemocráticas – para enfraquecer o Mercosul, a Unasul e a Celac, ao mesmo tempo que dá oxigênio à Aliança para o Pacífico.

Essa mudança na correlação de forças simultânea na região faz com que o pêndulo do continente tenda para o outro lado, o da restauração conservadora. O Mercosul sente os efeitos imediatos dessas mudanças, assim como o clima político geral na região.

A consciência da natureza da nova situação instaurada no continente, assim como a coordenação dos esforços para revertê-la, é condição indispensável para enfrentar a ofensiva protagonizada pelo que de mais conservador tem os nossos países. A grande maioria das forças que se opõem aos projetos de restauração conservadora tem consciência disso, mesmo se existam, absurdamente, quem se some à luta contra o golpe no Brasil, mas se cale diante de um governo absolutamente similar em seis intentos macabros, como o de Mauricio Macri na Argentina.

Se até recentemente foram realizados avanços de forma mais ou menos empírica nesses países, promovendo os maiores avanços que tivemos na nossa história, agora só podemos seguir avançando a partir de uma consciência clara das razões pelas quais conseguimos avançar e de que forma poderemos construir um novo ciclo de avanços, que só poderão se dar a partir da coordenação – política, social, econômica, intelectual – dos que estão comprometidos, em todos os países, para que a América Latina volte a seguir o caminho da construção de sociedades mais justas, solidárias, soberanas e humanistas.