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Se Teste de Integridade for sério, Pedro Parente não assume a presidência da Petrobras

Trabalhadores questionam: 'Como Parente, que causou mais de US$ 1 bilhão de prejuízo à Petrobras, pode comandar a empresa?'

reprodução/FUP

Pedro Parente é ‘o que a Petrobras menos precisa no momento’, diz coordenador-geral da FUP

Viomundo – Nesta terça-feira, 31 de maio, o Conselho de Administração (CA) da Petrobras reúne-se para decidir sobre a aprovação ou não do nome de Pedro Parente para presidência da companhia.

Desde 19 de maio, quando o presidente interino Michel Temer fez a indicação, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) tem reiteradamente a rechaçado.

No mesmo dia, em nota, repudiou: “É inadmissível termos no comando da empresa um ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso que chancelou processos de privatização e tem em seu currículo acusações de irregularidades e improbidade na administração pública.”

No domingo passado, 22 de maio, a FUP enviou uma carta aberta ao presidente da CA da Petrobras, Luiz Nelson Guedes de Carvalho, solicitando que não referendasse a nomeação. A mesma carta foi protocolada na sede da Petrobras a todo o Conselho.

Na segunda-feira 23, o Conselho de Administração havia agendado uma reunião extraordinária para tratar do assunto.

Na carta aberta, a FUP afirma: “O objetivo é alertar os membros do CA para os riscos de ter no comando da Petrobras um gestor que no passado já causou prejuízos de mais de US$ 1 bilhão à companhia e ainda por cima responde a ação por improbidade administrativa.”

A reunião do dia 23 terminou sem decisão.  A Petrobras soltou o comunicado abaixo:

“Petrobras informa que o seu Conselho de Administração se reuniu, extraordinariamente na data de hoje, para apreciar a indicação do executivo Pedro Parente para os cargos de Conselheiro de Administração e de Presidente da Companhia.

Na reunião de hoje, o Comitê de Remuneração e Sucessão informou o Conselho de Administração sobre a avaliação em andamento dos requisitos necessários para a investidura nos cargos indicados, bem como sobre todos os demais procedimentos de governança corporativa, conformidade e integridade necessários ao processo sucessório, conforme o novo estatuto social da Companhia, aprovado em Assembleia Geral do dia 28 de abril de 2016.

Fatos julgados relevantes serão oportunamente divulgados ao mercado.”

“Se o teste de integridade for sério, para valer, Pedro Parente, pela sua ficha corrida, não assume”, afirma José Maria Rangel, coordenador-geral da FUP. “Ele é o que a Petrobras menos precisa no momento.”

O que é o Teste de Integridade

Em março de 2015, o Ministério Público Federal (MPF) propôs uma série de medidas para prevenção e combate à corrupção, entre elas, a aplicação de Testes de Integridade.

Segundo o site do MPF, o objetivo é fazer com que “o agente público tenha o dever da transparência e accountability“.

Em seu boletim aos petroleiros, a FUP selecionou trechos das medidas do MPF, grifando em vermelho alguns pontos.

Leia-os com atenção: “Trata-se de iniciativa legislativa que almeja criar novo mecanismo voltado à defesa da moralidade pública, assim, com a identificação, mitigação, análise das consequências e prevenção das atitudes inadequadas chega-se mais rápido à adequação dos comportamentos éticos dos profissionais nas organizações, inclusive sob o ponto de vista de honestidade.

A ferramenta deve aferir as atitudes e opiniões dos respondentes tanto pela vertente cognitiva, a qual objetiva compreender o grau de conhecimento que o participante tem daquele assunto, como também pela vertente comportamental, tratando de ações passadas e/ou futuras diante de temas relevantes para as atividades as quais enfrenta ou enfrentará.

O teste de integridade dirigido é realizado, então, sobre o agente público em relação ao qual já houve algum tipo de notícia desairosa ou suspeita de prática ímproba, ao passo que os testes de integridade aleatórios refletem o princípio de que a atividade de qualquer agente público está sujeita, a qualquer tempo, a escrutínio.”

Leu tudo com atenção?

Agora, confira as ações do candidato à presidência da Petrobras, levantadas pela FUP, e constam do seu mais recente boletim aos petroleiros:

1. Pedro Parente é alvo de ações de reparação de danos por improbidade administrativa que correm na 20° e 21° Varas Federais de Brasília, onde ele e outros ex-ministros do governo Fernando Henrique Cardoso chegaram a ser condenados a devolver aos cofres públicos mais de R$ 2 bilhões.

As ações foram ajuizadas pelo Ministério Público Federal, que questionou o socorro financeiro do Banco Central, em dezembro de 1994, aos bancos privados Econômico e Bamerindus, que estavam em processo de falência.

2. A ajuda do governo FHC aos banqueiros causou um prejuízo ao Estado de R$ 2,9 bilhões, que corrigidos em valores atuais equivalem a mais de R$ 15 bilhões. Na época, Pedro Parente era Secretário Executivo do Ministério da Fazenda, ocupado por Pedro Malan, e José Serra era Ministro do Planejamento.

As duas ações, no entanto, foram arquivadas numa manobra de Gilmar Mendes, após assumir o STF, por indicação do então presidente Fernando Henrique Cardoso.

3. Porém, em 15 de março de 2016, a 1ª Turma do STF acatou recurso do Ministério Público Federal e determinou o desarquivamento e prosseguimento das ações. Pedro Parente terá que responder ao crime de responsabilidade, pelo qual é acusado há mais de uma década.

4. Pedro Parente, entre 2000 e 2003, fez a Petrobras assinar contratos de parceria com o setor privado para construção de usinas termoelétricas, comprometendo-se a garantir a remuneração dos investidores, mesmo que as empresas não dessem lucro.

A chamada contribuição de contingência gerou prejuízos de mais de US$ 1 bilhão à Petrobras, que se viu obrigada a assumir integralmente as termoelétricas para evitar perdas maiores.

O valor das usinas, avaliadas em US$ 800 milhões, equivalia a um terço dos US$ 2,1 bilhões que a estatal teria que desembolsar para honrar as compensações garantidas aos investidores até o final dos contratos, em 2008. Tudo autorizado por Pedro Parente.

Agora, junte o que você leu sobre o teste de integridade e as ações de  Parente, inclusive com prejuízos à Petrobras, e responda: o queridinho de FHC é a pessoa mais adequada para comandar a nossa petroleira?

“Membros do Conselho falam muito da importância da independência técnica, de a Petrobras ser livre da ingerência governamental”, observa Rangel. “Agora, aprovarem o Pedro Parente, vai ficar claro que a questão da ingerência é só para inglês ver. Mais precisamente só em relação ao PT.”

A propósito. Nesta segunda-feira, 30 de abril, a FUP questionará também a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre Pedro Parente para comandar a Petrobras.