Emir Sader

A superexploracão do trabalho no governo golpista

Dominado pelos bancos e pelo agronegócio, país caminha para profunda recessão, perda de direitos, resistência e convulsão social. A repressão será outro componente do cenário político

Flickr/Romerito Pontes

Insatisfação social com as consequências do golpe será alvo de repressão, com já acontece em SP

No golpe de 1964, ao lado de todas as ações de repressão direta, a ditadura impôs o arrocho salarial, que foi o santo do “milagre econômico” e fez a felicidade dos empresários. Com todos os sindicatos sob intervenção militar, canceladas todas as campanhas salariais, as grandes empresas tiveram uma prolongada lua de mel, com super lucros, enquanto se intensificava a superexploração dos trabalhadores.

Salários achatados, jornadas prolongadas, clima ainda mais repressivo dentro das empresas, condições de trabalho ainda mais deterioradas. Assim é que se produziu o novo ciclo expansivo da economia, baseado na exportação e no consumo de produtos de luxo, enquanto o mercado de consumo popular era achatado ainda mais.

No presente golpe os trabalhadores também são vítimas privilegiadas. Medidas de distinta ordem que atingem o salário mínimo, ação consciente de usar o desemprego para pressionar as reivindicações salariais e como mecanismo de suposto controle da inflação, definição de novas regras da aposentadoria – tudo aponta na direção do barateamento da força de trabalho e na deterioração das condições de negociação dos sindicatos.

Um dos objetivos centrais do golpe é restabelecer, segundo seus critérios, as condições para a retomada de um ciclo de investimento na economia e a retomada do seu crescimento. O poder central de Henrique Meirelles no governo golpista serve para dar garantias ao empresariado de que seus interesses serão zelados antes do que qualquer outro.

No entanto, o discurso da herança pesada, dos duros sacrifícios, do aumento de impostos, dos prazos longos – se fala de 2018 – para recuperação econômica, ja revelam que até lá primará o ajuste fiscal. E a distribuição de cargos chaves demonstra quais os que setores do empresariado são especialmente contemplados e quais ficam relegados a posições secundárias.

Os bancos emplacam lugares estratégicos, com o Meirelles e o seu presidente do Banco Central, diretor do Itaú. O agronegócio tem um dos seus principais representantes – Blairo Maggi – que concentra toda a política agrária, terminando com o Ministério de Desenvolvimento Agrário, que era um contraponto progressista e agora desaparece.

Enquanto isso, os industriais ficam particularmente alijados. No troca-troca de ministérios, o pastor que foi cogitado para Ciência e Tecnologia, mas foi vetado por ser criacionista, acabou ficando com Indústria e Comércio! Ele mesmo confessou que não tem muita afinidade com o tema, que seu vinculo com a indústria foi ter sido contador de uma no começo da sua carreira profissional. Não poderia haver maior subestimação da indústria, confirmando a fraqueza da Fiesp como suposta representante desse setor. Nem a nomeação do ministro da Indústria e Comércio ficou com o Skaf.

O governo golpista do Temer é hegemonizado pelo capital financeiro e pelo agronegócio. Basta isso para confirmar que será um governo do ajuste e da soja, do corte de recursos para políticas sociais e da exportação. Em que os investimentos produtivos e a geração de empregos serão secundarizados.

Já se anuncia que o duro ajuste só terá resultados em 2018. Até lá como viverá o pais? Com profunda e prolongada recessão, aumento exponencial do desemprego – Meirelles anuncia 14% -, com perda dos direitos sociais para uma grande maioria, com resistência e convulsão social. Num quadro como esse, o governo só pode se manter, ou tentar se manter, pela repressão, que será outro componente essencial do cenário político.

A CUT demonstra força impressionante nas manifestações, pode-se dizer que tem sido a organização sempre presente, atuante, mobilizadora. O movimento sindical tem um novo grande desafio pela frente e as centrais sindicais tem responsabilidades muito grandes em conduzir os trabalhadores a uma dura luta de resistência, que seja um obstáculo fundamental a um governo que aponta para a superexploração dos trabalhadores como instrumento de imposição de uma virada conservadora no pais.