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A economia brasileira em três tempos

Neoliberalismo de 2003 a 2005, keynesianismo, de 2006 a 2010, e economia pelo lado da oferta de 2011 a 2016 formam esses ciclos

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Até 2007, a situação externa se mostrou extremamente favorável à economia, sobretudo com a expansão chinesa

Quando analisado apenas do ponto de vista econômico, o Brasil apresenta desde 2003 desempenhos distintos, fruto da opção de política econômica perseguida. Por conta disso, três são os tempos registrados: (i) o neoliberalismo com desconto dos anos de 2003 a 2005; (ii) o keynesianismo aberto no período de 2006 a 2010 e (iii) a economia pelo lado da oferta entre 2011 e 2016.

No primeiro tempo, o crescimento médio anual do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 3,2% e o da dívida bruta do setor público, de 2%, enquanto caiu em média ao ano a taxa de investimento em 1%, o desemprego metropolitano, em 5,1%, e a inflação, 15,6%. A política econômica adotada partia do pressuposto de que a maior expansão da produção dependeria da elevação da poupança doméstica, especialmente a do setor público.

Para tanto, a reformulação da Previdência, conforme implementada em 2003, deveria estimular a poupança do setor público e assim permitir expandir o novo ciclo de investimentos no país. Ao mesmo tempo, o crescimento da produtividade do trabalho no setor privado.

No segundo tempo, o crescimento médio anual do PIB foi de 4,5% e da taxa de investimento foi de 4,2%, ao passo que o desemprego metropolitano diminuiu em 5,6% e a dívida bruta do setor público, em 1% como média anual e, ainda, a inflação permaneceu estável. A política econômica perseguida tinha como hipótese que a elevação da demanda agregada por estímulo inicial do governo seria capaz de expandir a oferta no âmbito da estrutura produtiva interna.

Dessa forma, a ampliação do gasto público em obras de infraestrutura, por exemplo, estimularia, como se observou, o crescimento da taxa de investimento privado no longo prazo. Ou seja, o crescimento econômico estimulado pela ampliação da demanda agregada impulsionada pelo governo.

No terceiro tempo, a dívida bruta do setor público aumentou como média anual em 4,8%, assim como o desemprego metropolitano, em 5,2% e a inflação, em 4,9%. Por outro lado, o decréscimo médio anual foi de 0,2% no PIB e de 6,1% na taxa de investimento. A política econômica conduzida considerou que a superação do esgotamento da expansão da demanda agregada anterior dependeria de um conjunto de estímulos pelo lado da estrutura da oferta.

Para tanto, o crescimento dos investimentos privados resultaria da redução do custo de produção, como, por exemplo, o da energia elétrica e dos tributos observado desde 2011. Dessa forma, as empresas se sentiriam estimuladas a produzir mais e, consequentemente, ampliando a renda nacional.

Os desempenhos díspares no período de 14 anos sofreram certamente impacto significativo da situação externa. Até o ano de 2007, por exemplo, a situação externa se mostrou extremamente favorável ao crescimento econômico nacional, sobretudo com a expansão chinesa.

Mas a partir de 2008, com a crise capitalista de dimensão global, a situação externa tornou-se muito desfavorável. Mesmo assim, o país tem autonomia suficiente para perseguir política econômica que, apesar da situação externa, ofereça desempenhos distintos.

Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Unicamp