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Tropas chinesas na Praça Vermelha

Acabaram os conflitos que levaram a alinhamentos radicalmente opostos entre russos e chineses na política mundial durante um certo tempo; países voltam a ser aliados estratégicos fundamentais

As comemorações dos 70 anos do triunfo da URSS sobre o nazismo foram a oportunidade de uma demonstração do poderio militar atual da Rússia, assim como de uma presença com forte apelo simbólico: um desfile de tropas do Exercito chinês na Praça Vermelha.

Depois de tantas circunstâncias, a China e a Rússia  voltam a ser aliados estratégicos fundamentais. Os dois mudaram bastante. A Rússia ocupa o lugar da URSS, a China atual é muito diferente daquela do Mao.  Mas o principal é que os conflitos que levaram a alinhamentos radicalmente opostos na política mundial durante um certo tempo terminaram.

Inicialmente aliados, assim que a Revolução Chinesa triunfou, em 1949, diferenças e conflitos foram surgindo, até que a eclosão da Revolução Cultural na China levou a diferenças exacerbadas entre os dois países. A China, a partir das críticas ao que considerava um caminho de restauração capitalista na URSS, caminhou para a caracterização desse país como imperialista, rapidamente como o imperialismo ascendente, o que a levou a aliar-se aos EUA, que considerava o imperialismo decadente, para conter o que chamava de “imperialismo soviético”.

Decorreu daí a chamada diplomacia do pingue-pongue, com a surpreendente aproximação e aliança da China com os EUA, e posições ainda mais surpreendentes sobre processos que ela considerava como de expansionismo soviético, que haveria que deter. Assim, a China apoiou o golpe de Pinochet, no Chile, assim como o regime do apartheid na Africa do Sul, situações que ela considerava como expressões de luta contra a URSS.

As duas maiores potências do campo socialista não apenas se dissociavam, como se opunham frontalmente. Desaparecia o campo comum de luta contra o imperialismo norte-americano, que passou a ser considerado um aliado pela China, contra a URSS.

O desaparecimento da URSS e sua reaparição como potência sob Putin e a passagem radical da China da Revolução Cultura do Mao à do desenvolvimento econômico espetacular de Deng-Ziao-Ping, mudou os cenários e as relações entre eles. Acordos fundamentais nos planos econômico, energético, financeiro, comercial e militar foram estabelecidos recentemente entre os dois países, com o correspondente distanciamento em relação aos EUA.

No marco da nova guerra fria, configurado especialmente a partir dos conflitos da Rússia com os EUA e a Europa em torno da Ucrânia, o alinhamento chinês é claro. Ao mesmo tempo que os Brics surgem como campo comum de construção de instâncias para um mundo multipolar no plano econômico. Ambos os países desenvolveram uma enorme quantidade de acordos bilaterais com países da América Latina, por exemplo, em um quadro inédito de influência e presença dos dois países no nosso continente.

É nesse cenário que a presença de tropas chinesas na histórica Praça Vermelha ganha um enorme significado, tanto pela superação dos conflitos no passado, quanto pelas novas formas de aliança entre duas potências que mudaram desde então, mas que agora reaparecem como aliados fundamentais no plano internacional.

 

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