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A crise do governo de Michelle Bachelet

Níveis baixos de apoio popular à presidenta chilena lançam dúvidas sobre o futuro político do país; apesar disso, primeiro ano do segundo mandato é o maior em realizações progressistas

José Manuel de la Maza/ Governo do Chile

Bachelet: campanha contra governo conseguiu mobilizar a classe média, beneficiada pela gratuidade das universidades

No seu primeiro mandato, Michelle Bachelet teve um desempenho moderado, teve dificuldades com manifestações de estudantes secundaristas, mas conseguiu terminá-lo com um grande apoio, especialmente graças a medidas que tomou quando a crise econômica internacional chegou ao Chile. Decretou medidas de proteção aos setores mais fragilizados, particularmente aos aposentados, vítimas mais concentradas da crise, porque a previdência chilena tinha sido totalmente privatizada por Pinochet.

Ainda assim, Bachelet não conseguiu eleger seu sucessor, pela ascensão fulminante de Sebastian Piñera e pelo candidato sem carisma escolhido pela Concertación – o ex-presidente Eduardo Frei. O rápido fracasso do governo de Piñera – em grande medida pelas espetaculares manifestações dos estudantes universitários a favor do resgate do caráter gratuito das universidades públicas – recolocou a possibilidade de que Bachelet voltasse a ser presidente do Chile.

Esta vez ela propôs uma plataforma muito mais avançada do que a que tinha no seu governo anterior. Por um lado, se comprometeu com o retorno da gratuidade do ensino universitário, para o que se comprometeu a realizar uma reforma tributária para conseguir os recursos. Uma reforma tributária em que claramente quem passaria a pagar mais impostos seriam os de maior nível de renda, antes muito baixamente tributados no Chile. E se comprometeu também com uma reforma do sistema eleitoral, ainda herdado da ditadura de Pinochet.

Eleita com a maior margem de vantagem sobre a oposição – embora com menos de 30% do total de votos, pelo caráter não obrigatório do voto, estreado nessa eleição –, Bachelet cumpriu com essas três promessas já no seu primeiro ano de governo. Mas, em vez de aumentar ainda mais sua popularidade, seu governo passou a ter o menor apoio que um governo da Concertación havia tido.

O fator decisivo foi a reforma tributária, a que o grande empresariado reagiu de forma raivosa, acionando o monopólio privado dos meios de comunicação para desatar dura campanha de pessimismo econômico contra o governo. O que coincidiu com a baixa dos preços dos produtos primários de exportação – em particular os do cobre –, para diminuir o nível de crescimento econômico.

A campanha conseguiu mobilizar contra o governo grandes setores da classe média, paradoxalmente beneficiados pela gratuidade das universidades públicas, porque tinham se endividado com esses pagamentos, mas aderiram à ideia de que a educação pública no seu conjunto pioraria.

Para piorar ainda mais a situação do governo, o filho de Michelle Bachelet é acusado de corrupção, de uso do seu cargo para conseguir empréstimos para empresa de sua mulher, de um banco privado que havia contribuído para a campanha de Bachelet. Ele, que ocupava cargo de confiança no governo, se demitiu, mas não impediu que o desgaste diminuísse ainda mais o apoio ao governo.

Assim, o primeiro ano do segundo mandato de Michelle Bachelet, sendo o de maiores e mais progressistas realizações, foi aquele em que ela teve níveis mais baixos de apoio popular, abrindo perspectivas incertas para o futuro politico do Chile.