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O papel do G-20 e os rumos do Brasil na reestruturação mundial

Após 29 anos de democracia consolidada no Brasil, não parece haver o que possa impedir a consagração de um grande projeto de país soberano, justo, solidário e próspero. A não ser o obstáculo político.

Neste final de semana, os 20 chefes dos países mais ricos do mundo se reúnem na Austrália para tratar fundamentalmente da retomada do crescimento da economia global. Após seis anos do início da crise iniciada em 2008,os debatesaindanão convergiram para o entendimento se asituaçãoatualreflete apenas uma fase de dinamismo baixo da produção ou se trata mesmode uma recessão comparável a de 1929.

Na ausência de compreensão comum, ganha importância a difusão de análises econômicas cada vez mais contraditórias.De um lado, os integrantes do pensamento neoliberal que sustentamodesmonte das políticasexistentesde proteção da produção e emprego.

De outro lado, osdefensoresdo pensamento não liberal que alertam para o comportamento das bolsas de valoresemercado financeiro descolado da economia real. Por conta disso, caberiaa manutenção das políticaspúblicas mais amplas,de reformulação da governança mundial (papel das agências multilaterais como Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional) emedidasde regulação e promoção do desenvolvimento em novas bases econômicas, sociais e ambientais.

O exemplo da ação integrada dosBrics(Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) serviria de exemplo. Mas para além das interpretações da crise mundial e do papel das políticas governamentais adotadas, cabe ressaltar osimultâneomovimento mais amplo de reestruturação econômicaimpulsionadamais recentemente. Três evidências disso chamam a atençãotantopela rapidez com que ocorremcomo pela dimensão estrutural, muitas vezes sem o devido acompanhamentode todos os cidadãos.

A primeira evidência encontra-se na consagração de uma nova partilha do mundo em função do esvaziamento relativo dos Estados Unidos no exercício de uma ordem unipolar.Em contrapartida, o avanço de ummundopolicêntrico, com novas regiões exercendo a promoção do desenvolvimento supranacional, representano contexto sul-americano a oportunidade de o Brasil contribuirmaisdecisivamente naintegrado regional do desenvolvimento em novas bases.

A segunda evidência corresponde ao fortalecimento do papel do Estado,geralmenteassociado ao apoio dasgrandes empresasàcompetição global. A forte transferência de recursos públicos àsmegacorporações transnacionais (bancos e empresas não financeiras)indica tanto o aprofundamento da concorrência intercapitalista como amaiorcompetição entre os Estados. A posição brasileiraem virtude disso,de apoiarà reestruturação patrimonial de empresas privadasnacionaisedeestatais acompanha esse movimento na mesma medida quesebuscatambémfortalecer as oportunidadesde expansãodas micro e pequenas empresas.

A terceira evidência, por fim,localiza-sena concentração de esforços técnico-científicos voltados para a geração de um novo modelo de produção e consumo menos degradante do meio ambiente. Isso porque a eficácia das açõespúblicas que procuramminorar as emissões de gás carbonopor meioda conscientização, tributação e promoção de alternativas ambientalmente sustentáveis pressupõe outra base tecnológica para produzir. Ademais das iniciativas em torno da matriz energética renovável, passa a ter importância a conformação de uma estrutura bioindustrial que promovaaprodução crescente dos empregos verdes.

Neste campo, o Brasil se destaca por já possuir umadasmatrizesenergéticasdas mais limpas do mundo, como deter a oportunidade de construira partir da exploração petrolífera dopré-salo seu projeto nacional de desenvolvimento que atenda a perspectiva de inclusão de toda a sociedade. Tudo isso se torna plenamente possível nosdias de hoje, embora dependa efetivamente de umamaioria política realmente comprometida com essa perspectiva.

Após 29anos de democracia consolidada no Brasil,nãoparece haver oque possa impedir a consagração de um grandeprojeto depaís soberano, justo, solidário e próspero. A não ser o obstáculo político de continuar ousando na direção de utilizar a crise comoumaoportunidade para maior avanço econômico, sociale ambiental.

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