Conflito

Mais guerras ou soluções políticas para os conflitos?

Enquanto o Brasil trabalha pela construção de um mundo multipolar, os EUA ainda se valem da militarização dos conflitos, levando confrontos ao plano em que é superior e buscando a hegemonia pela força

Network News Edlib ENN/Fotos Públicas

A pretexto de atacar Estado Islâmico, Estados Unidos provocam destruição e êxodo na Síria

Dilma Rousseff se valeu da sua ida à Assembleia Geral das Nações Unidas para reiterar o que tem sido uma posição permanente do Brasil: a solução para os conflitos do mundo não está em reagir com mais guerra, mas em promover soluções políticas aos conflitos.

O Brasil tem defendido essa posição desde o começo do governo Lula, quando se negou a apoiar intervenções militares norte-americanas, propondo negociações políticas, que ouvissem todas as partes envolvidas. O Brasil se opôs à política de invasões Afeganistão e do Iraque e ao bombardeio da Líbia.

Lula se aliou ao então primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyiq Erdongan, para buscar uma mediação política e pacífica para os conflitos entre os EUA e o Irã. O Brasil sempre pregou que a crise da Síria só seria resolvida por um acordo político, e não por mais bombardeios e ajuda militar a qualquer uma das partes envolvidas.

Agora, a posição expressa pela presidenta Dilma Rousseff se refere ao anúncio dos EUA sobre bombardeios em território sírio ao Exército Islâmico, além dos que realiza no Iraque. A decisão fez parte da intervenção de Barack Obama na Assembleia Geral da ONU. A chefe de Estado brasileira já havia condenado esse outro uso da força em entrevista que deu em Nova York e voltou a reiterar a ideia de que não é com mais bombardeios que se chega à paz.

Membros da oposição no Brasil – na mídia e nos partidos – tentaram dizer que a posição da Dilma seria de complacência com o Estado Islâmico e seus usos indiscriminados da violência. A mentalidade de Guerra Fria que ainda comanda a cabeça da direita brasileira faz com que aceite a polarização proposta pelos EUA: ou eles ou o terrorismo islâmico.

Acredita que não apoiar mais essa aventura bélica norte-americana é ser aliado do Exército Islâmico, porque não lhes ocorre nenhuma outra alternativa. Acontece que essa via de ação tem sido catastrófica. Aí estão o Afeganistão, o Iraque e a Líbia, em processos de desagregação interna, os primeiros depois de mais de de anos de ocupação militar. Os últimos quatro presidentes dos Estado Unidos bombardearam o Iraque e isso não levou o país nem a uma situação de pacificação, nem de estabilidade política mínima.

Desde o governo Lula o Brasil trabalha pela construção de um mundo multipolar, que se opõe à hegemonia imperial norte-americana. Esta se vale da sua superioridade para militarizar os conflitos, transferindo o enfrentamento para o plano em que é mais forte e buscando triunfar pela força. Foi a norma que se impôs desde o fim da Guerra Fria. E que se revelou não uma via para a solução dos conflitos, mas para seu aguçamento.

O governo dos EUA, apesar dos dois pronunciamentos da Dilma em Nova York, condenando o uso de mais violência para tentar superar os conflitos, diz manifestar esperança de que o Brasil possa participar da coalizão de países que se congregam para bombardear territórios ocupados pelo Estado Islâmico. Ou fingem desconhecer os preceitos da política externa soberana brasileira desde mais de uma década, ou não conhecem o caráter da presidenta brasileira, manifestado recentemente na atitude diante da espionagem norte-americana. Ou ambos.