Doutor em Planejamento

Após uma vida dedicada ao urbanismo, Jorge Wilheim morre aos 86 anos

Arquiteto responsável pelo Plano Diretor Estratégico em voga na maior cidade do país teve complicações provocadas por acidente de trânsito

Fabiana Beltramin/Folhapress

‘Não acho que fracassei. Alguma contribuição foi dada. E foi permanente’, diz arquiteto após 20 anos de vida pública

São Paulo – O arquiteto e urbanista Jorge Wilheim morreu na manhã de hoje (14) em São Paulo, aos 86 anos. Idealizador do último Plano Diretor Estratégico da cidade, elaborado enquanto ocupava a Secretaria de Planejamento durante a gestão da prefeita Marta Suplicy (PT), Wilheim estava internado havia um mês, depois de sofrer um acidente de trânsito.

De acordo com a Rede Nossa São Paulo, da qual fazia parte, Jorge Wilheim foi um dos principais urbanistas brasileiros com atuação política, sendo reconhecido por trabalhos como a reurbanização do Vale do Anhangabaú e do Pátio do Colégio, projetos do Parque Anhembi e mais de 20 planos urbanos, incluindo o de Curitiba e da Cidade Industrial de Londrina.

Em 2012, a RBA teve a oportunidade de fazer uma longa entrevista com o urbanista em seu escritório no bairro de Perdizes, zona oeste da capital, para comentar os dez anos do Plano Diretor paulistano. A conversa originou uma reportagem especial.

“O mais desafiador na elaboração de um Plano Diretor para São Paulo é o tamanho da cidade, em todos os sentidos: população, espaço e quantidade de problemas”, explicou, então. Wilheim comentava que o projeto coordenado por ele, em 2002, não fora a primeira iniciativa de planejamento da cidade, mas reconhecia que planificação urbana nunca havia sido o forte da maior metrópole da América do Sul.

Segundo o arquiteto, o primeiro plano diretor propriamente dito que passou a vigorar em São Paulo foi elaborado na gestão do prefeito Faria Lima, que governou entre 1965 e 1969, durante a ditadura. “Ele viu a necessidade de iniciar imediatamente o metrô e planejar os dois grandes vales dos rios Tietê e Pinheiros”, explica, lembrando que na época houve um estímulo importante ao planejamento urbano.

Jorge Wilheim ingressou na vida política como secretário estadual de Economia e Planejamento, na gestão Paulo Egydio Martins (1975), e de 1983 a 1986, no governo Mário Covas (PSDB), foi titular da Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla). Coordenou também a elaboração do Plano Diretor de São Paulo de 1984, que jamais foi efetivado.

Na administração seguinte, de Luiz Antônio Fleury Filho, entre 1991 e 1994, ocupou a presidência da Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo (Emplasa) e, em 1994, a convite da Organização das Nações Unidas (ONU), mudou-se para Nairóbi, no Quênia, para assumir o cargo de secretário-geral adjunto da Conferência Mundial Habitat 2, realizada em 1996, em Istambul, Turquia.

Em 2010, Wilheim concedeu uma entrevista ao dramaturgo Antonio Aburamja, apresentador do programa Provocações, da TV Cultura, em que foi perguntado. “Vinte anos de vida pública como secretário no estado e na prefeitura de São Paulo, e a cidade está como está. Onde você fracassou, Jorge Wilheim?” Ao que o urbanista respondeu: “Talvez um excesso de otimismo. Mas não acho que fracassei. Alguma contribuição foi dada. E foi permanente.”