Memória

Vídeo: Gushiken, a criatividade como aliada da energia sindical

Para quem acha que greve é moleza e que direitos elementares, como um tíquete-refeição, são benefícios caídos do céu, vale ouvir as histórias do ex-militante bancário que se tornou estadista

Arquivo Sindicato dos Bancários

Gushiken e o pipoqueiro de som. Solução criativa para circular pelo calçadão central e se fazer ouvir

O vídeo divulgado esta semana pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo traz depoimentos até então inédito do ex-ministro Luiz Gushiken, morto no último dia 13. A entrevista foi gravada para os eventos de aniversário da entidade, que comemorou 90 anos de fundação em abril, mas que inaugura a partir do final dos anos 1970 um período de maior protagonismos na história do país.

No documento, o “China”, como era chamado por Lula, conta como se aproximou da corrente trotskista Liberdade e Luta, a Libelu e como adequou a sua incipiente visão marxista à realidade brasileira e às possibilidades do movimento sindical. Gushiken descreve as razões do rompimento com a Libelu e o mergulho da construção de um novo sindicalismo, que desembocaria também na democratização do país.

Para quem acha que é “benefício” da empresa o tíquete-refeição hoje fartamente difundido em todos os segmentos, o ex-sindicalista lembra o trabalho que deu para conquistar esse direito, de modo pioneiro, em meados dos anos 1980.

A personalidade de um estadista. A importância do papel de Luiz Gushiken no governo Lula, em artigo do cientista político Antonio Lassance, chefe de gabinete do ex-ministro na Secom (2003-2005)

Vale prestar atenção em como, em vários momentos, a comunicação social estava presente nas preocupações desse dirigente visionário. Do momento em que ele e toda a diretoria cassada pela ditadura conseguiram manter, durante dois anos (1983-1985), a circulação diária do jornal Folha Bancária; passando pela energia criativa do departamento cultural da entidade para levar irreverência e contundência às manifestações de rua; chegando à invenção do “pipoqueiro”, um pequeno porém potente carrinho de som, semelhante ao dos ambulantes, mas fazia ecoar por todos os prédios do centro velho de São Paulo as orientações do sindicato.

Gushiken fala também das dificuldades da greve de 1985, momento em que os dirigentes tiveram de se especializar também em ter como interlocutores lideranças de diferentes partidos, para disseminar a solidariedade ao movimento no ambiente político, a comandantes do Exército, para negociar a não agressão aos grevistas. Ele fala ainda da presença de Lula nas assembleias dos bancários e da importância da religiosidade como forma de ajudá-lo ter foco nos desafios a que se lançava.

“Imagina só: um japonês, de gravata, subindo em cima da mesa com o megafone e falando. Era uma coisa inusitada. Então, muita gente guardou na memória e relembra: ‘Olha, Gushiken, você fazia isso’ Eu não sabia que o pessoal dava tanta importância assim, mas eu sabia que era duro para mim fazer aquilo ali.”

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