Não acredito em bruxas nem em surpresas das margens de erro, mas que las hay…

Num dia em que o tracking do PT apontou um possível descolamento de Haddad em relação a Serra, a pesquisa do Datafolha provoca um refresco na memória

São Paulo – No início da tarde de ontem (3), circulou em alguns sites o resultado de uma pesquisa telefônica diária feita por um instituto para o PT. O chamado “tracking” – sondagem diária feita, prática comum a todos os partidos que têm candidatos competitivos – ratificava a queda de Celso Russomanno, do PRB, atribuindo-lhe 29% das intenções de voto. Em segundo aparecia o petista Fernando Haddad, com 21%, seguido pelo tucano José Serra, com 16%.

No início da noite, veio o resultado do Datafolha: 25% para Russomanno, 23% para Serra e 19% para Haddad. Ambos acusaram também um leve movimento de subida de Gabriel Chalita (PMDB), na casa dos 12%. A chamada “margem de erro” é de dois pontos para mais ou para menos.

O cenário faz lembrar a eleição para governador de 1998. Na sexta-feira, 2 de outubro, a dois dias da eleição, o instituto da empresa Folha da Manhã trazia Paulo Maluf folgado na liderança, com 31%, seguido pelo conservador Francisco Rossi (18%), o candidato do PSDB à reeleição Mario Covas (16%) e a petista Marta Suplicy (15%).

A tendência era causar um rebuliço no segmento do eleitorado que refutava a hipótese de ver Maluf e Rossi. E estimular uma movimentação em direção ao chamado voto útil. E o rebuliço se confirmou.

No domingo, Maluf fechou a votação com 32%. Covas acabou saltando para 22,95% e Marta, para 22,5%. Rossi ficou em quarto, com 17,11%. A pergunta é: seria possível, em três dias, Covas crescer 6 pontos e Marta avançar 7,5 pontos? (Rossi, curiosamente, ficou na margem de erro.) Ou será que havia indicadores de que Marta crescia mais do que Covas e poderia ser ela a mais forte concorrente a chegar ao segundo turno para enfrentar Maluf?

A seguir o “pânico” provocado pelo Datafolha, migraram mais votos de Marta para Covas. Para se ter ideia, bastaria a Marta permanecer com 38 mil desses votos migrados para que fosse ela a classificada.

Resta uma reflexão ao eleitorado que pretende votar em Fernando Haddad ou em Gabriel Chalita, possíveis vítimas de um suposto pânico em direção ao voto anti-Russomanno: seria o Datafolha, instituto vinculado ao jornal que age assumidamente como principal “partido de oposição” ao PT, capaz de manipular o resultado de uma pesquisa com vistas a beneficiar José Serra?