O custo da inclusão

Políticas para tirar brasileiros da miséria enfrentam resistências de setores que tentam manter seus privilégios (Elza Fiúza/ABr) Os setores que historicamente se beneficiam do Estado brasileiro ainda não se conformaram […]

Políticas para tirar brasileiros da miséria enfrentam resistências de setores que tentam manter seus privilégios (Elza Fiúza/ABr)

Os setores que historicamente se beneficiam do Estado brasileiro ainda não se conformaram – passada quase uma década – que esse mesmo Estado disponibilize parte dos seus recursos para a inclusão social. Consideram natural o enorme abismo econômico e social que, a despeito das políticas afirmativas, ainda persistem em nosso país.  A ascensão social de um terço da população, promovida a partir da posse do ex-presidente Lula, não encontra paralelo na nossa história e, em nível mundial, só ocorreu em países que a promoveram a partir de processos revolucionários, via de regra, sangrentos.

Com grande espaço na mídia, os descendentes de famílias que enriqueceram com o roubo das terras indígenas, com o trabalho escravo, a exploração desumana de imigrantes miseráveis e a apropriação privada da riqueza, construída coletivamente pela nação, se insurgem contra as políticas afirmativas. Não toleram gastos com transferência de renda aos mais pobres, questionam a facilitação de ingresso aos cursos superiores através do Prouni e se opõem até aos mais elementares direitos trabalhistas, responsabilizando-os pelo tal “custo Brasil”, que impediria o desenvolvimento das empresas, portanto do país. A recente sanção presidencial à política de cotas é, hoje, o principal alvo desses obscurantistas, que vociferam contra um suposto descaso com a meritocracia quando se promove a ascensão educacional aos filhos e filhas de pobres e negros nas universidades.

As políticas de inclusão social, protagonizados pelo governo federal, contudo, representam um pequeno passo na busca da justiça social e os gastos para o erário público são insignificantes. Somente a perversidade e o preconceito ignorante das elites podem justificar tamanha oposição a essas políticas, em que pese o inquestionável benefício que têm trazido aos mais pobres e à sociedade como um todo.

Qualquer pessoa minimamente informada compreende que os pequenos valores pagos às 13.330.714 famílias atualmente cadastradas no Bolsa Família têm como destino imediato o consumo de alimentos, roupas, material escolar, de construção e outros artigos de primeira necessidade. Esse aumento do consumo faz aumentar as vendas no comércio, na indústria, na agricultura e o conseqüente crescimento das contratações. A criação de quinze milhões de postos de trabalho, os aumentos salariais, a explosão do consumo, o enorme crescimento da classe média e até o surgimento de quantidade significativa de novos ricos, assim como termos alcançado a sexta posição na economia mundial, são resultantes diretos das políticas de transferência de renda.

Essa extraordinária mudança da situação econômica e social no País, todavia, é fruto de um investimento de apenas 0,4% do Produto Interno Bruto, percentual 13 vezes menor do que os 5,72% do PIB  gastos com os juros da dívida pública, que têm como credores banqueiros e grandes investidores brasileiros e estrangeiros.

Ou seja, os opositores das políticas de inclusão gastam páginas e páginas de jornais e revistas, tempo no rádio e na televisão e espaço no mundo virtual para criticar um conjunto de políticas que além de beneficiar todo o país, compromete parcela irrisória dos recursos da nação. Por outro lado não se insurgem contra a bilionária transferência de renda dos cofres públicos para os ricos que vivem parasitariamente da renda dos juros e nada produzem.

Estas críticas, além disso, carregam um evidente ranço ideológico, considerando que seus formuladores não conseguem esconder o incômodo por terem que dividir aeroportos, shopping centers, restaurantes e universidades – que consideram privilégios seus – com a extraordinária massa de pobres e negros que se tornaram consumidores. Contudo, o custo pago pela nação para alçar mais de 40 milhões à classe C é insignificante.

Esperamos que o próximo passo seja transformá-los em cidadãos. Para isso será necessário diminuir a colossal transferência de recursos do Estado para os ricos, redirecionando-os para educação, saúde, habitação, previdência, segurança, reforma agrária e outras prioridades. Se gastando 0,4% do PIB, sem mexer nos indecentes lucros dos mais ricos, a grita tem sido grande, imaginemos quando estes precisarem abrir mão de parte da fortuna que têm embolsado para que a condição social do povo brasileiro se aproxime da condição econômica do país no contexto mundial?

A reação será violenta e os movimentos sociais precisam estar preparados, pois acreditamos – e esperamos – que esse momento chegará. Defender os avanços sociais recentes e pressionar por mais democracia econômica e justiça social é tarefa de todos nós, que contribuímos para construção de um país onde as diferenças étnicas, sexuais, culturais e de origem não sejam impeditivos para o exercício da cidadania.

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