Julgamento dos petistas: FHC enxerga chance de conquistar nova classe média

São Paulo – Em seu mais novo artigo de análise sobre as classes sociais brasileiras, publicado na página A2 de O Estado de S. Paulo de domingo, 1º de julho, com o […]

São Paulo – Em seu mais novo artigo de análise sobre as classes sociais brasileiras, publicado na página A2 de O Estado de S. Paulo de domingo, 1º de julho, com o título “As classes médias na berlinda”, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso afirma enxergar no julgamento dos petistas no Supremo Tribunal Federal – batizado de “mensalão” – como um caminho para agregar a população incluída social e economicamente nos governos Lula e Dilma a um projeto de classe e de poder dos tucanos tendo como base a moral dos costumes.

Sua análise cruza as evoluções de classes no Brasil em períodos históricos com fenômenos como migração e urbanização para caracterizar a formação classe média do período anterior a Luiz Inácio Lula da Silva – vale dizer, do período em que ele mesmo foi presidente da República. Lista a antiga classe média os valores de escola-trabalho-decência como alavanca de inclusão social e formação de caráter e de opção política e cultural. 

Em seguida, FHC analisa o processo de inclusão de 30 milhões de brasileiros que estavam nas classes pobres e miseráveis em seu governo e que passaram à classe C com o desenvolvimento econômico e programas sociais dos governos Lula e Dilma (sem citá-los no artigo) às quais chama de “novas categorias de renda”, sem delineação de classe constituída. O presidente-sociólogo se pergunta “como se comportarão essas novas classes emergentes na política, quando se transformarem numa categoria social com características, anseios e valores próprios?” 

Sua resposta comete um deslize no preconceito de classe: “já não se vê com clareza que valores guiam as chamadas classes emergentes, porque a política é cada vez mais um jogo de vale tudo, onde a moral conta menos que o resultado”. Expressa o desejo de que os costumes possam reunificar a velha e nova classe média em cima dos mesmos valores, de estudo, trabalho e honestidade, que “não serão impostos por lei” mas por modelos de condutas. Conclui o artigo vendo no julgamento dos petistas – o chamado “mensalão” – uma dessas oportunidades.

Como sempre ocorre nas combinações midiáticas, dois dias depois, no mesmo espaço do jornal, Almir Pazzianoto Pinto, ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho, surfa na mesma onda e afirma que “pela sentença dada ao caso ‘mensalão’, a Nação saberá que valores prevalecerão no Brasil”. Pazzianoto diz que “o julgamento será um divisor de águas, quando a Nação saberá se prevalecerão os valores advindos do trabalho e da honestidade”. Como se vê, um autêntico copia-e-cola.

A análise da classe média do governo FHC ignora fatos importantes, como as privatizações, renda no mercado financeiro e elitismo nas escolas, universidades e no acesso aos bens culturais. Sobre o desempenho das novas classes médias, FHC deveria ver a novela das 9, de um enredo que se ergue do lixão para transitar numa avenida Brasil. Pode ainda dar algumas espiadas no DataPopular. O foco deste comentário é destacar que FHC põe no papel a ideia mestra que move a enorme pressão que a mídia faz pelo julgamento dos petistas às vésperas das eleições com o objetivo de tirar dividendos eleitorais. Com seu projeto neoliberal derrotado seguidas vezes, os tucanos tentam, ironicamente, criar uma nova base social em cima das realizações do governo do próprio PT e aliados.