Novo à frente da Abril, Fábio Barbosa vai enfrentar Veja e Exame?

Em 2009, abertura de ações do Santander aproveitou liquidez do mercado para remeter euros para matriz espanhola (Foto: Paulo Whitaker/Reuters – arquivo) Ainda é cedo para se discutir o leque […]

Em 2009, abertura de ações do Santander aproveitou liquidez do mercado para remeter euros para matriz espanhola (Foto: Paulo Whitaker/Reuters – arquivo)

Ainda é cedo para se discutir o leque de decisões que estarão nas mãos de Fábio Barbosa, anunciado como novo presidente executivo do Grupo Abril na semana passada. Ele assume em setembro. Uma delas poderá ser uma reestruturação financeira. Outra poderá ser a ampliação de negócios com outras empresas de telecomunicações. Na espera de novas informações, é possível confrontar alguns conflitos a trajetória de Barbosa com o ambiente da Abril.

O ex-presidente do Santander no Brasil vem de uma trajetória no mercado financeiro marcada pela tentativa de aplicar a esse segmento uma ideia de sustentabilidade socioeconômico-ambiental, algo que, para os bancos, não passa de propaganda cheia de chavões para melhor vender seus serviços. Barbosa utiliza-se do “exemplo que deve ser dado às novas gerações”.

Escreveu artigos em jornais e revistas a respeito. Na absorção do Banco Real pelo Santander, a propaganda bateu na tecla do “vamos fazer juntos”, intuindo uma interação com clientes e usuários, apesar do caos que foi a fusão tecnológica entre os dois bancos. Ele se orgulhava de responder a todos os e-mails e mantinha um blogue.

Muito além do sorriso de banqueiro feliz com a vida, Fábio Barbosa esforçava-se por pregar ética no meio de banqueiros. Pode até ter sido por isso que saiu do Santander, não sem antes ter traído seus próprios compromissos, ao fazer uma abertura de capital com inflados preços de ações, distantes da realidade do próprio Santander e que muito dificilmente o banco espanhol conseguirá alcançar no tempo prometido. Barbosa e os espanhóis se aproveitaram da liquidez na economia brasileira para remeter alguns bilhões de euros para a matriz.

Pela frente

No Grupo Abril, Fábio Barbosa vai encontrar a revista Exame, voltada ao empresariado brasileiro. A revista prega que o principal papel das empresas é o de dar lucro a seus acionistas, sem se importar com a responsabilidade social. Para manter a imagem que ergueu em sua própria trajetória, Fábio Barbosa precisaria mudar a linha editorial da publicação.

Mas é na Veja que o novo presidente do grupo tem seu pior desafio. A revista semanal representa um conjunto completo de falta de ética na apuração das notícias, condenação prévia e sem provas de quem elege como inimigos, baixarias verbais e preconceitos contra as classes C e D. É a número um do que a blogosfera progressista consagrou como “PIG”, o “partido da imprensa golpista”.

Faz a pior política para o Brasil, que é a do alinhamento sumário com articulações de oposição e com um ideário próximo ao da extrema direita norte-americana. Tudo isso pode até ter seu nicho de público, mas carrega a publicação a uma brutal rejeição. Cada vez menos se vê leitores com a revista debaixo do braço.

A capa desta semana da Veja, que envolveu tentativa de invasão de quarto de hotel e acesso a imagens do circuito interno de segurança, é apenas um episódio a mais nessa história.

Se quiser aplicar o que pregou até agora, Fábio Barbosa precisaria livrar a publicação de figuras como Reinaldo Azevedo (se não tivesse se afastado no fim de 2010, Diogo Mainardi e J. R. Guzzo poderiam constar na lista).

Pelo percurso traçado por essas duas publicações, pode parecer difícil. Mas o desafio é simples: dar às duas revistas uma linha de jornalismo republicano e respeitoso. Se conseguir, Fábio Barbosa terá mantido seu próprio ideário. Caso contrário, é possível concluir que terá sido cooptado pelo PIG.

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