Virada Cultural disfarça atual ocupação do centro de SP

Mais do que palco para diversos shows, teatro etc., a Virada Cultural  deveria ser motivo para a reflexão de importantes temas da cidade, como a atual forma de ocupação do […]

Mais do que palco para diversos shows, teatro etc., a Virada Cultural  deveria ser motivo para a reflexão de importantes temas da cidade, como a atual forma de ocupação do Centro. Durante 24 horas, fica a impressão de que essas ruas antigas e cheias de história podem ser percorridas sem medo e que não há sinais dos problemas mostrados em noticiários sensacionalistas.

Para quem mora no Centro e tem mais confiança em andar livremente, é fácil perceber como toda essa segurança e até a limpeza que marcam o evento criam uma ilusão. Na sexta-feira (8), a Polícia Militar prendeu traficantes e retirou usuários – principalmente de crack – da rua dos Gusmões, entre a rua Santa Ifigênia e a avenida Rio Branco. Nem meia hora depois de terminado o show final, no palco ao lado da estação Júlio Prestes, as ruas já estavam novamente tomadas por usuários. Essas pessoas são constantemente ignoradas pelo Estado e invisíveis para a maioria da população, que prefere ignorá-los a debater uma forma de ajudá-los.

Durante os shows, organizadores pediam às pessoas para não sujar as ruas. Não adiantou. Mas um batalhão de garis chegou no término do show do RPM e, em menos de 10 minutos, sequer parecia que alguém havia estado na avenida Duque de Caxias.

Se a eficiência surpreendeu – e até assustou a quem quis deixar o lugar com mais calma –, em dias normais as ruas do Centro recebem bem menos cuidados. É comum encontrar lixo acumulado e cheiro de urina em diversos locais. Este último é “combatido”, sem muito resultado, por caminhões da prefeitura que jogam água durante a noite com caminhões pipa. Há inúmeros relatos de pedestres e de pessoas em situação de rua que, por estarem no percurso do caminhão, terminaram a “faxina” encharcados. O cheiro, porém, continua ali.

Crítica sob holofotes

Alguns dos artistas que se apresentaram chamaram atenção para problemas da cidade. Foram vários elogios ao fato de as ruas do Centro estarem tomadas por pessoas e atrações para todos os gostos. Rita Lee fez um discurso inflamado e chegou a chamar os políticos de “babacas” por não resolverem nada na cidade.

A decisão de proibir a venda de bebida alcoólica nas proximidades dos palcos, logo apelidada de “Lei Seca”, não foi respeitada. Apesar do número alto de apreensões – até 28 toneladas, segundo dados oficiais – nas ruas o consumo e a compra de cerveja e outras bebidas transcorria com certa normalidade junto a ambulantes.

Em alguns pontos, apesar de haver cinco vendedores de bebida, presenciei apenas dois vendedores serem escolhidos para uma abordagem dos policiais. Situação semelhante ocorreu com pessoas em situação de rua, importunadas sem motivo aparente.

O efetivo de policiais e guardas civis metropolitanos era, aliás, bem considerável. Principalmente em ruas pouco frequentadas por eles durante os outros 363 dias do ano. Terminada a festa, os agentes também deixaram o local.

Outro elemento que poderia permanecer no Centro são as 4 mil lixeiras colocadas para a Virada. Quem anda pela região sabe que a tarefa de jogar um pedaço de papel ou uma garrafa de água no lixo pode se mostrar muito mais desafiadora do que parece. Segue ainda como desafio a solução de problemas causados pelo abandono dessa região da cidade que carece até de atenção da parte da Câmara dos Vereadores.

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