Protesto em São Paulo lembra morte de 65 mineiros no México

Passados cinco anos da morte de 65 mineiros mexicanos no norte do país, manifestações de solidariedade estão programadas para o mundo todo. O jornalista Tadeu Breda, da Plataforma Laboral das […]

Passados cinco anos da morte de 65 mineiros mexicanos no norte do país, manifestações de solidariedade estão programadas para o mundo todo. O jornalista Tadeu Breda, da Plataforma Laboral das Américas, descreve a situação dos familiares, que não tiveram direito a buscas para se localizar restos mortais das vítimas.

 

Pelo respeito à liberdade sindical no México

Por Tadeu Breda, da CSA

No dia 15 de fevereiro, os mexicanos lamentarão o quinto aniversário do acidente que, em 2006, vitimou 65 trabalhadores numa mina de carvão conhecida como Pasta de Conchos, em San Juan de Sabinas, estado de Coahuila, próximo à fronteira com os Estados Unidos.

A tragédia foi provocada por falhas no sistema de ventilação da mina, administrada pelo Grupo México, uma das empresas mais poderosas do país, que no mesmo ano do acidente obteve um faturamento de 16,5 bilhões de pesos. O descaso com os dispositivos de segurança facilitou a concentração de gases inflamáveis, que se formam naturalmente durante a extração do carvão. Então veio a explosão.

O desmoronamento aconteceu em 2006, mas os cadáveres de 63 dos 65 mineiros mortos continuam soterrados na mina. As equipes de busca desistiram de resgatar os trabalhadores assim que especialistas comprovaram que a intensidade da explosão e o calor provocado pela combustão dos gases no interior da mina, bem como as toxinas liberadas no processo, não teriam deixado sobreviventes. Isso apenas uma semana depois do acidente.

O então presidente Vicente Fox, que finalizava seu mandato, sequer visitou o local da tragédia, e representantes do governo federal chegaram a Pasta de Conchos apenas 36 horas depois do acidente. Há cinco anos os familiares se reúnem mensalmente nos arredores da mina, todos os dias 19, para reclamar os corpos dos homens que perderam a vida devido ao desprezo do Grupo México pelas normas de segurança do trabalho e do Estado mexicano pelo bem-estar dos cidadãos.

As viúvas inclusive já empreenderam marchas ao interior da mina para demonstrar que o resgate dos corpos é possível, mas até agora nem o governo nem a empresa sinalizam que darão sepultamento digno aos trabalhadores. Vale lembrar que um mineiro no México, em 2006, recebia 600 pesos por semana. E que 36 dos 65 trabalhadores mortos em Pasta de Conchos eram tercerizados.

Para recordar a tragédia, as centrais sindicais internacionais (FITIM, ICEM, ISP, UNI, ITF e FIT), as centrais sindicais brasileiras (CUT, Força Sindical e UGT) e a Confederação Sindical de Trabalhadores/as das Américas (CSA) realizarão um protesto em frente ao Consulado Geral do México em São Paulo (Rua Holanda, 274, Jardins) no dia 15 de fevereiro de 2011, às 10 horas.

Na ocasião, será entregue ao cônsul José Gerardo Traslosheros Hérnandez uma carta de repúdio à postura do governo mexicano em relação ao desastre de Pasta de Conchos e à falta de liberdade sindical no país, que é grave. Após a morte de 65 mineiros em 2006, o secretario geral do Sindicato dos Mineiros, Napoleón Urrutia, denunciou o Grupo México de “homicídio industrial”. Por isso, recebeu ameaças e foi acionado judicialmente pelos empresários. Não teve remédio a não ser exilar-se no Canadá, onde continua até hoje, para preservar sua integridade física e de sua família. O governo mexicano, por sua vez, inúmeras vezes tentou destituí-lo do cargo e intervir no sindicato.

Outro fato relevante é que os mineiros contratados pelo Grupo México nas localidades de Cananea, Taxco e Sombrerete estão em greve há mais de 4 anos em protesto contra os baixos salários e as más condições de trabalho. A mobilização é considerada “legal” pela Justiça mexicana e, como a empresa interrompeu o pagamento dos salários, vem sendo viabilizada pela colaboração de sindicatos canadenses e estadunidenses.

Manifestação no Consulado do México em São Paulo (Rua Holanda, 274, Jardins)
Quinto aniversário da morte de 65 mineiros em Pasta de Conchos