Mino Carta: “FHC se lançou aos braços de Clinton, que nunca disse ‘Você é o cara’”

Diretor de redação de Carta Capital vê envolvimento da “mídia nativa” em episódios antidemocráticos da história brasileira e lamenta investida contra RdB

São Paulo – O diretor de redação da revista Carta Capital, Mino Carta, ironizou a “devoção” de quadros do PSDB pelos Estados Unidos. Durante a cerimônia “As empresas mais admiradas do Brasil 2010”, promovida pela publicação semanal, o veterano jornalista fez um discurso recheado de brincadeiras envolvendo a “mídia nativa” e os tucanos.

Ao falar das relações do Brasil com o mundo, Mino apontou que há muita gente do partido do presidenciável José Serra que gosta de ser um quintal dos Estados Unidos. “Enquanto Fernando Henrique Cardoso mergulhava sofregamente nos braços de Clinton (Bill Clinton, ex-presidente dos EUA), que nunca lhe disse ‘Você é o cara’, nosso presidente conseguiu implementar uma política exterior que enobrece o país e que não se atrela aos interesses dos outros. Só acredita nos interesses do Brasil. Única e exclusivamente”, afirmou, fazendo ao mesmo tempo uma referência a Lula e à frase proferida por Barack Obama ao presidente brasileiro.

O momento eleitoral foi o centro do discurso do diretor da revista, que fez questão de lembrar que defende abertamente a continuidade do atual projeto, com a eleição de Dilma Rousseff (PT) para a Presidência da República. Ele ressaltou que Carta Capital declarou seu voto desde o começo das eleições, e que o jornal O Estado de S. Paulo só abriu sua posição pró-Serra na última semana do primeiro turno. “Fiquei espantado. Até agora não tinha entendido. Foi uma surpresa dolorosa. Quase tive um ataque. Fiquei perdido”, ironizou.

O diretor de Carta Capital lamenta que a “mídia nativa”, maneira pela qual chama a velha mídia,  insista em falar em ameças à democracia e aponta que as únicas investidas à liberdade de imprensa partiram de Sandra Cureau, vice-procuradora-geral eleitoral. Cureau, primeiramente, determinou que a revista apresentasse em prazo de cinco dias todos os seus contratos de publicidade com o governo federal. A procuradora aceitou os argumentos dados por uma denúncia anônima ao tomar sua decisão.

Depois disso, apresentou ação contra a Record por supostamente favorecer Dilma em seu noticiário. O detalhe é que Cureau já falou abertamente que prefere Serra. E, por fim, nesta segunda-feira (19), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aceitou liminar apresentada pelo PSDB pedindo a restrição à circulação da Revista do Brasil. Os tucanos gostariam que a edição 52 fosse integralmente recolhida e proibida de circular pela internet. 

“No nosso caso, mandamos a procuradora às favas”, finalizou Mino, que entende que a “mídia nativa” age da mesma maneira e no mesmo tom há 60 anos. Desestabilizou Getúlio Vargas, tentou impedir a posse de Juscelino Kubitschek, ajudou a empurrar João Goulart ao parlamentarismo, apoiou o golpe e se opôs às diretas. “Sem esquecer da invenção da Veja, o Caçador de Marajás. O Caçador de Marajás foi a única via encontrada para evitar a ascensão do Sapo Barbudo”, declarou, fazendo referência, respectivamente, a Fernando Collor de Mello, que em 1989 derrotou, com ajuda fundamental da velha mídia, Luiz Inácio Lula da Silva.

Um anfitrião sem cerimônias

Mino não é exatamente o que se pode chamar de um anfitrião submisso. Italiano de nascimento e nos trejeitos, dá, digamos, tratamento napolitano aos convidados: não lhe falta franqueza, como tampouco lhe falta respeito para ouvir o diverso. Frente a uma plateia que reunia boa parte do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, o jornalista convidou os empresários a ler outras coisas além do editorial do Estadão, uma forma de “expandir” fronteiras, e chamou FHC por “o príncipe dos sociólogos”.

Lula, antes de abrir seu discurso, brincou que “preciso ser mais comedido do que Vossa Excelência no uso da palavra. Mas assinaria ipsis literis cada linha do que falou.