PT x PSDB: debate entre presidentes dá o tom da pré-campanha

O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse nesta segunda-feira (10) que seu partido pretende fazer campanha de alto nível, evitar condutas agressivas e hostis aos adversários. Durante […]

O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse nesta segunda-feira (10) que seu partido pretende fazer campanha de alto nível, evitar condutas agressivas e hostis aos adversários. Durante debate no auditório do jornal O Estado de S. Paulo, o dirigente tucano assegurou que pretende impor um tom programático, prático, e não ideológico, aos grandes temas nacionais e assunto da gestão pública.

Durante suas exposições, entretanto, o lado programático – em quem o projeto do PSDB se diferencia do adversário – praticamente não teve vez. O discurso eleitoral, na linha “o nosso candidato é mais experiente, mais preparado”, ou a candidata do governo “nunca disputou eleição, não tem liderança” esteve presente em quase todas as suas falas, do mesmo modo que tem predominado nas intervenções de seu partido no ambiente pré-eleitoral.

O objetivo é desqualificar Dilma Rousseff e minar o seu maior trunfo: a sua identificação com o sucesso do atual governo.

Também não houve por parte de Guerra contestações programáticas em relação ao atual governo. Ele reafirmou o tempo todo que o sucesso de Lula deve-se a uma linha de “continuidade”, no plano econômico, ao pensamento introduzido pelo Plano Real.

Na área social, assinalou em cada oportunidade que os programas que Lula “ampliou” são invenção tucana. E no âmbito da política externa, deu mais ênfase à boa relação do atual governo com Cuba e Venezuela do que à expansão dos acordos comerciais do país e ao prestígio da diplomacia brasileira no cenário mundial.

Enfim, apesar de ter afirmado que o trato ideológico não terá alcance no debate eleitoral, o discurso foi dirigido ao pensamento conservador. Deixou claro, portanto, que o partido não terá pudor em adotar um sotaque da velha direita quando convier, embora no princípio tenha soltado um constrangido “de esquerda nós também somos”.

José Eduardo Dutra, por sua vez, tentou dar à camuflagem ideológica em que caía o debate uma tradução baseada em questões práticas. Lembrou que a economia do país, mesmo com uma moeda estável, estremeceu diante de crises muito mais brandas do que a que eclodiu em 2008.

O presidente do PT admitiu que havia pouca margem de manobra para se mexer com a questão monetária e cambial, mas que na política econômica, o governo Lula conseguiu combinar estabilidade econômica com distribuição de renda. Lembrou que mesmo no auge da crise mundial, não titubeou em ampliar o crédito, estimular o consumo das famílias e reduzir a carga tributária, ao contrário do governo anterior.

Dutra lembrou ainda que a inexperiência de Lula sempre foi argumento de seus adversários e isso não o impediu de liderar o governo com maior índice de aprovação da história e que com Dilma não será diferente.

Resumo da ópera: depois de duas e meia de debate, ficou clara que a estratégia do PSDB será evitar ao máximo que Dilma se aproprie integralmente do sucesso do governo Lula e, de preferência, chegue ao início oficial da campanha, em julho, ainda na condição de “uma liderança em xeque”, ou seja, na defensiva.

Sérgio Guerra tentou colar ao PSDB uma marca de partido gestor, não ideológico. Chegou a dizer que o sucesso do enfrentamento da crise de hoje se deve ao Proer, que teria fortalecido o sistema bancário, e que essa história “de nunca antes na história desse país é uma farsa”.

E Dutra procurou traduzir a visão de socialismo petista como modelo associado a crescimento econômico com distribuição, a redução de desigualdades decorrentes de renda, gênero e raça, a sustentabilidade e justiça social, a avanços na direção da democracia direta e participativa. Enfim, usou expressões que os conservadores ainda gaguejam para empregar sem ficar vermelhos.

Se a campanha de Dilma conseguir se apropriar desses valores como os principais ingredientes do sucesso de Lula, talvez consiga sair da defensiva, mostrar as diferenças entre garantia de continuidade e riscos de ruptura e, quem sabe, começar a campanha pra valer, em julho, na dianteira. Até lá, haja estômago, porque não vai faltar baixaria nesta guerra.