Já sei: Dunga foi mordido pelo ‘bichinho’ da Regina Duarte

Desculpe se pareço desenterrar velharias, mas o espírito da Regina Duarte, aquela que tem medo, baixou no Dunga. Se é possível contrariar a maioria, pra que jogar com a torcida? […]

Desculpe se pareço desenterrar velharias, mas o espírito da Regina Duarte, aquela que tem medo, baixou no Dunga. Se é possível contrariar a maioria, pra que jogar com a torcida?

Imagine aquela que é tida por muitos como a melhor das seleções, a de 1970. Guardadas as devidas proporções, não levar o Ganso equivale a não levar o Gérson. Não ter o Neymar é abrir mão do Jairzinho.

Já estou até vendo uma seleção tão competitiva quanto monótona, e ainda correndo o risco de ser campeã, como a do Parreira em 1994.

Nada contra os que estão lá na Lista do Dunga. Temos o privilégio de poder montar pelo menos três seleções competitivas num mundo cada vez mais carente de craques, daqueles que fazem a diferença. Mas se só podemos mandar um time, por que não mandar o melhor?

Se podemos encantar, devolver ao futebol o que resta de lúdico, de espírito esportivo, por que pensar, antes, que sem um pouquinho de medo para nos proteger a gente corre o risco de não vencer?

O medo é um sentimento que em doses corretas pode proteger os animais, inclusive os humanos, de cometer bobagens, assegurar sua integridade física. Mas levado para as quatro linhas é quase sempre inimigo do espetáculo.

E Copas do Mundo não foram feitas para ser vencidas. Foram feitas, como uma mostra de cinema, um festival de dança ou como os Jogos Olímpicos, para dar espetáculo e celebrar o talento e a arte. Por isso, os países, os outros, sempre levam o que têm de melhor.

Ok. Na hora h a gente vai torcer de ranger os dentes. A cada passe errado vai contrair os músculos e tentar corrigir com o pescoço a rota bola. E vai gritar apaixonado a cada gol. Ou, como diz o Dunga, essa seleção será a “nossa”, porque na hora h não conseguiremos ser “coerentes” como ele está sendo agora.

Ok, na hora h. Mas, hoje, essa seleção não é a nossa. É a do Dunga. E a coerência do professor é eufemismo de medo. Um medo igual aquele da Regina Duarte, que por graça da coerência popular, não contaminou a torcida em 2002.

Temo que este medo nos leve a sentimentos desagradáveis na África, como ganhar sem encantar, em benefício do futebol de resultado$. Ou, pior (sim, porque na hora h o animal torcedor comemora até gol de mão em impedimento), nem ganhar, nem encantar.

Posso até morder a língua mais tarde – vá lá, boa sorte Dunga, continue nos surpreendendo. Mas é esse o sentimento do momento.

Pronto, Regina. Já desabafei. Agora pode voltar pro seu canto. E por favor, não vá me aparecer de novo pra dizer que está com medo de que o sucesso desse governo que você temia continue a assombrá-la em 2011. Ou, sei lá, apareça. Quem sabe dá sorte outra vez.