Flávio Aguiar

Para entender o Brasil. Uma tradução de palavras e expressões políticas ‘salgadas’

Segue um glossário compreensivo de algumas expressões usadas por alguns dos principais personagens da atual política brasileira

Isac Nábrega e Alan Santos/PR - PSDB na Câmara
Isac Nábrega e Alan Santos/PR - PSDB na Câmara
Cenário atual da política brasileira provoca, entre outros temores, o da morte da sintática e da semântica por tortura e maus tratos

A política atual no mundo inteiro, especialmente no Brasil, complicou a semântica e a sintática. Esta última vem sendo constantemente assassinada pelos bolsonaristas. Já no caso da semântica, não são apenas os bolsonaristas que complicam as coisas. Eles e mais algumas pessoas costumam “castigar o estilo”, ou seja, açoitam as palavras e salgam as suas costas, além de salgarem também os ouvidos e os olhos de quem as ouve ou lê. Por isto, faz-se necessário, com frequência, para entender o Brasil, recorrer a uma tradução para entender o verdadeiro significado de certas expressões e torneios, ou melhor, torturas e tortices verbais e escritas.

Apresentamos a seguir um glossário compreensivo de algumas expressões compressivas, correntes ou acorrentadas. Palavras que seus enunciadores põem no pau-de-arara da política brasileira, obrigadas a confessar para bons entendedores seus significados ocultos.

Não estiquem a corda (general Ramos) = não ousem exigir que percamos as boquinhas que conseguimos depois de tantos anos.

5G? Vamos atender nossos interesses, nossa soberania, nossa política externa (Bozo) = vamos fazer o que o Trump manda.

Fracassamos como país (Vera Magalhães) = eu não tenho nada a ver com isso, a culpa é de vocês.

O Brasil não aguenta mais dois anos e meio de Bolsonaro (Míriam Leitão) = Não me lembro do que eu fiz no verão, no outono, no inverno e muito menos na primavera passada.

Massa mau cheirosa

Guerra de Bolsonaro e militares contra a democracia nos arrepia (Eliane Catanhêde) = ah, que saudades da minha massa cheirosa/que os anos não trazem mais!/Temos agora uma rebordosa/Por favor, quero meus sais!

O Corona é uma gripezinha sem importância, e qualquer cloroquina cura ela (Bozo) = Foi o Trump que disse e o que é bom pra ele, é bom pro Brazil.

Devemos respeitar as urnas e o voto popular (André Mendonça, ministro da Justiça) = Deixem o Bozo e seus ministros xingarem a mãe de quem quiserem e mentirem a torto e a direito; sobretudo à direita.

É hora de escancarar as entranhas do poder (Felipe Martins, assessor especial do Itamaraty) = Uêba! Agora o filé é nosso! A faca, o pão, o queijo e a grana também!

O impeachment é potencializar uma crise (Bruno Araújo, presidente do PSDB) = queremos colaborar com as pinochetices e chicaguices do Guedes. Quem nasceu pra Aécio não precisa de Tancredo.

As Forças Armadas não cumprem ordens absurdas (Bozo, Mourão e Azevedo e Silva, ministro da Defesa) = se o Messias está do nosso lado, quem pode algo contra nós?

Golpe não. Movimento

Em 64 não houve um Golpe, houve um Movimento (Dias Toffoli) = danem-se os escrúpulos conceituais; a Ditadura salvou a nossa Democracia!

Democracia é isso (PM paulista diante de jovens com suásticas estilizadas) = Heil Bolsonaro, Deus, Pátria, Família, o Hitler e o Mussolini também!

O povo armado jamais será escravizado! (Bolsonaro, na grande orgia verbal do dia 22 de abril) = Milícias – unidas – jamais serão vencidas!

Vamos privatizar essa p… do Banco do Brasil (Guedes, naquela mesma orgia) = não é só Banco, junto vai o Brasil inteiro, de brinde! Oferta da casa!

Aproveitemos o momento para passar a boiada (Salles, idem ibidem) = vamos pisotear as reservas indígenas, os quilombolas, a Mata Atlântica, a Amazônia inteira, deitar fogo até no Ártico e no Parque Antártica, ops., na Antártida.

Odeio a expressão ‘povos indígenas’ (Weintraub, lá também) = The only good indian is a dead indian (general Sheridan).

Tropeço nos trópicos

No Norte e no Nordeste o inverno acontece na época do europeu (general Pazuello, o ministro Covid) = o trópico de Capricórnio vai do Canadá ao Mar da Sibéria, passando Pacificamente pelo deserto Atlântico.

O STF é comunista (Sara Winters) = a Chapeuzinho Vermelho nunca me enganou; comuna cultural de carteirinha.

Entrem nos hospitais e filmem os leitos vazios (Bozo) = Pra filmar os leitos vazios, joguem os pacientes no chão. Depois enfiem cloroquina pela goela abaixo destes comunas que se fingem de doentes pra roubar a graninha que eu e o Guedes economizamos pra entregar pros milicos do governo e pros bancos mais adiante.

Nós, militares, somos os verdadeiros responsáveis pela democracia em nosso país (Bozo) = eu e os milicianos que estão comigo, de verde ou não, vamos acabar com essa farra de eleger esquerda.

Nenhum militar é comissionado para cumprir missão importante, se não estiver capacitado para levá-la a bom termo (do manifesto de oficiais da reserva) = nós vamos acabar mesmo com essa farra do STF com a famosa dupla do cabo e do soldado.

Essas crises entre os poderes são os ruídos de uma democracia vibrante (Guedes) = pau nessa p… do STF e do TSE.

Está chegando a hora de tudo ser posto no devido lugar (Bozo) = quero mudar a cadeira presidencial. Do Palácio do Planalto para meu condomínio no Rio de Janeiro. Ou vice-versa: fazer do PP o meu condomínio.

Não posso assistir calado, enquanto direitos são violados, ideias são perseguidas (Bozo) = Pô, tão querendo usurpar meu direito de violar e perseguir direitos e ideias dos outros.

É o povo que diz o que as instituições devem fazer (Bozo) = O povo c’est Moi.

Edição: Fábio M. Michel