Degenerados

Uma horda de nazistas pasta em Porto Alegre

Nazistas promoviam a queima de livros e se esmeraram em condenar as artes “degeneradas”, assim como fez um grupo de gaúchos a propósitos de uma exposição sobre diversidade sexual

reprodução/Arquitetura da destruição

Obras abstratas, impressionista ou produzidas por judeus eram classificadas como “arte degenerada” pelos nazistas

Soube que o espaço Santander Cultural antecipou o fim de sua exposição artística Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira porque os fanáticos do movimento MBL a atacaram, e atacaram seus frequentadores. Que estes herdeiros dos Freikorps futuramente hitleristas – base que foram dos SA e dos SS – tenham atacado a exposição e seus frequentadores não surpreende. O que surpreende é a inércia das autoridades diante deste ato de barbárie, porque pelo visto a reação a ele ficou entregue à iniciativa dos frequentadores e aos seguranças particulares.

Os nazistas esmeraram-se em condenar a literatura e as artes “degeneradas”. Promoveram queimas de livros em toda a Alemanha. A mais famosa foi a do 10 de maio de 1933 na hoje Bebelplatz, a praça em frente à Universidade Humboldt. O próprio diretor da Faculdade de Direito, logo em frente, se encarregou de trazer uma braçada de livros da biblioteca sob sua guarda, para a pira da vergonha histórica, entanto descrita como “da construção do novo homem germânico”, nada mais nada menos que por Goebbels, o ministro da Propaganda presente.

Estes cretinos do MBL, Kataguiris e Holidays à frente, se esmeram na mesma direção. Mas o mais estarrecedor, do mesmo modo que na Alemanha dos anos 1920/30, é que isto volta a se dar, como então, sob o beneplácito das autoridades constituídas.

Não foi outro o comportamento de Hindenburg. Ou das autoridades locais onde o nazismo chegava ao poder. Destruíram a Bauhaus em Weimar, nas outras cidades onde o movimento se refugiou, até que, de Berlim, os seus professores e artistas que conseguiram escapar foram para os Estados Unidos e outros países que os acolheram.

É isto que estamos assistindo em Porto Alegre. Nada mais, nada menos. Revoltante. Revoltante a atitude das hordas MBL-fascistas, revoltante a pusilanimidade das autoridades responsáveis, pusilânime a atitude do Santander Cultural… Bem, a do banco nem surpreende tanto. Afinal, é um banco, um mero banco.

Mas há mais. Porto Alegre teve momentos de glória internacional. Na Revolução de 1930. No último foco de resistência ao golpe de 1964. Na fundação do Fórum Social Mundial, quando a capital dos gaúchos foi proclamada “a capital do século 21”.

Ainda quando a administração popular consagrou a cidade junto à ONU, graças ao Orçamento Participativo e outras iniciativas. Por onde se viajava, o viajante deparava com a realidade de que Porto Alegre era uma referência mundial.

Mas a partir do momento em que a parcela mais empedernida da classe média (da burguesia nem é bom falar) se deu conta de que o povão das periferias estava disputando espaço nos shopping, no aeroporto e nas escolas superiores, o quadro mudou. Esta parcela optou pela direita – e desde então tem votado religiosamente (o termo é bem aplicado) contra tudo o que cheira a popular. Governos de direita. 

Agora estamos chegando ao “Gloria in Excelcis Third Reich”, ou “Drittel Reich”, dos Kataguiris da vida.

Que vergonha, classe média de Porto Alegre!

 

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