derrocada

Temer não tem mais condições de representar o país

Nada como um dia depois do outro, como diz o calendário que penduramos na parede ou vemos na internet

Marcos Corrêa/PR

Como um fantasma, Temer assombra, mas não governa mais

Quem com Temer fere, com Temer será ferido, ou com Aécio, diz a sabedoria popular.

Não sabemos o que vai acontecer. Isto depende de vaticínios que são decididos nos subterrâneos das pirâmides faraônicas do poder brasileiro, desde que várias forças congressuais, judiciárias, policiais e midiáticas – com apoio provável das “forças ocultas”, mas não muito ocultas, internacionais, decidiram implodir e suspender a Constituição Brasileira nessa farândula de ilegalidades da Lava-Jato e arredores.

Mas sabemos o que está acontecendo. O presidente (?) Temer acabou. Idem o (ex-?) senador Aécio, indigno do sobrenome do avô. Corre na internet a versão de que o ataque contra Aécio, pela PF, vem de uma facção ligada a Serra. Se for verdade, isto mostra que retornamos ao tempo das vendetas entre maragatos e pica-paus no Rio Grande do Sul, nos albores e continuares da República Velha, onde a degola e as rixas entre capos líderes de clãs eram a regra. A versão não pode ser descartada.

O caso Lula – na Lava Jato – passou a ser uma nonada, ainda que liderado por um juiz, procuradores e policiais que têm, na sua prisão, uma causa obsessiva, digna de tragédia grega, ou de comédia romana.

Uma coisa é certa. Temer não tem mais condições de representar o país. Já não tinha, mas agora tem menos ainda. Dividiu com Donald Trump, ameaçado de impeachment, como Nixon, as manchetes desta quinta-feira. Na Al Jazeera chegou a ganhar a inglória glória da manchete principal. Temer faz lembrar o fantasma do pai de Hamlet, despido da grandeza deste: assombra, mas não governa mais.

É verdade que esta incapacidade de representar o país não decorre só dele. Desde que assumiu, e nomeou Serra e depois Aloysio (o ex-companheiro Mateus) como ministros de Relações Exteriores, o Itamaraty se tornou prisioneiro de uma visão anacrônica, retardatária, das lideranças do PSDB, em matéria de cenário internacional.

Seja lá por que motivo for, esta visão vê o Brasil como prisioneiro de uma masmorra norte-americana, cuja procedência é duvidosa: será a Casa Branca? O Departamento de Estado? A CIA? A National Security Agency? ONGs e empresas terceirizadas, além dos thinktanks reacionários de que o Instituto Millennium é tributário? Ou será simplesmente o interesse destes pessedebistas de parecerem como os porta-vozes de Miami perante os interesses da Praça Pan-americana, mais os Jardins, a Berrini, a Paulista, em São Paulo, e assemelhados em outras cidades no Brasil?

Aquela incapacidade ficou evidente na recente reunião em Pequim, onde a China, perante mais de 100 países, alguns representados por mandatários ou enviados especiais de primeira grandeza, o Brasil foi figura nula. Ah, fossem os tempos de Celso Amorim… Mas não só. Os tempos de Azeredo da Silveira, de San Tiago Dantas, João Neves da Fontoura, Osvaldo Aranha, Rio Branco… A música seria outra. 

A China propõe uma reedição atual da “rota da Seda”, o caminho da integração Euro-Asiática-Aricana, co-atraindo a Oceania e a América Latina. Só uma visão de energúmenos vê o Brasil fora disto, permanecendo atrelado a esta pedra submersa que é a subserviência pessedebista à hegemonia norte-americana, que, aliás, não existe mais. Pelo menos no plano comercial.

Bom, existe agora a oportunidade histórica de nos livrarmos deste carrapato institucional que é o governo Temer.

Há, porém, uma pedra no sapato desta caminhada histórica. O PSDB se esfarinhou. O PMDB é um resíduo de jõoes-ninguém. O DEM não existe mais. A Rede está envolta nas contradições de Marina, que dá uma na ferradura da direita e outra no cravo da direita também. Bolsonaroo é uma promessa fascista. Doria é um botox embonecado, politicamente. 

Quem resta?

O PT e Lula. Que vão sobreviver, mesmo que a Lava-Jato persiga a obsessão de condena-lo. Nelson Mandela sobreviveu a isto.

E a direita não sabe o que fazer com esta herança “maldita” que vê pela frente.

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