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Temer, Doria e o compromisso com a barbárie

Em outros países, últimas atitudes do prefeito de São Paulo e do presidente da República os desqualificariam para qualquer cargo público

GGN

Doria não passa de uma imitação de Jânio Quadros e Temer já deveria ter sido embalsamado em algum museu do vampirismo

“Não é porque muitos pensem errado, que eles têm razão”. Coluche, comediante francês. (1944-1986).

Não sou daqueles que consideram a Europa uma Arca de Noé, ou Miami uma bênção de consumo, em detrimento do Brasil ou da América Latina como um todo, sem falar em outras latitudes e longitudes.

Em alguns momentos e em relação a certos grupos – de direita – a comparação é inevitável. Em termos de compromisso médio com a civilização, a direita brasileira perde de longe para a europeia.

As cenas que vimos na internet, de pessoas embrulhadas na bandeira brasileira agredindo outras que frequentam um restaurante palestino são impensáveis aqui? Não. Mas são reservadas a militantes exaltados da extrema-direita, e estes agressores seriam punidos exemplarmente.

Mas o compromisso com a barbárie no Brasil vem de cima. Temer inaugurou o primado da desfaçatez como método político. Bom, a ditadura de 64 tinha feito o mesmo. Mas o rei (rei?) nunca esteve tão nu quanto agora. Seu autoelogio do 1º de maio foi patético – pateta, na verdade. Como se ninguém mais, além de seus assessores, apaniguados, capangas e asseclas, estivesse vendo o que faz. Daí vem o deputado Nilson Leitão, do PSDB de Mato Grosso, e propõe uma nova lei para o trabalhador rural que regulamenta, no fundo, a escravidão do século 21: vamos comprar força de trabalho em troca de casa, comida e olhe lá. Com horário de trabalho e descanso a critério do patrão. Até o padre Vieira, um autêntico humanista do século 17, se revoltaria diante da proposta.

Mas tem mais. O correlato de Temer e sua caterva no Congresso é Doria em São Paulo. É chocante ver o prefeito de S. Paulo – prefeito! – jogar flores na via pública como se fossem lixo. Com uma cara de ódio que nem botox disfarça.

Mais chocante ainda é ver a chusma de coiós, a seguir, reunida no Ibirapuera para homenagear a estátua de Ayrton Senna, elogiando a velocidade e gritando: “acelera, Doria!”, numa menção ao aumento criminoso dos limites nas marginais. Até mesmo a irmã do automobilista tragicamente falecido demonstra que não aprendeu nada com nada.

É um espetáculo lamentável que esta ralé, esta escória bem vestida, está dando ao Brasil e ao mundo, dizendo a que veio, para emporcalhar nossa atmosfera com o impeachment da vida.

Depois da cena das flores na rua e do espetáculo no Ibirapuera, se fosse por aqui, Doria não se elegeria nem para guarda de trânsito. Depois de suas contínuas gafes, Temer já teria sido embalsamado em algum museu do vampirismo.

Para completar há o papelão do nosso ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes (ex-companheiro Mateus), chamando de golpe (logo quem falando) a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte na Venezuela pelo presidente Maduro. Até o Papa Francisco ofereceu aquilo que é da tradição da diplomacia brasileira, consagrada por Rio Branco: a mediação. Que, segundo fontes do Vaticano, foi negada pela oposição venezuelana por dissensões internas (que esta nega haver, o que é uma inverdade, para não dizer uma mentira). Não. O Brasil, agora, é beligerante. Embora isto lhe tenha rendido a conquista de uma posição de absoluta irrelevância na cena diplomática internacional.

Tudo isto só revela uma coisa: a elite golpista que tomou conta do governo depois do impeachment golpista da presidenta Dilma, que é aclamada por onde anda, contrariando o espírito da maioria do nosso povo, “é símia e grotesca”, conforme o dizer de renomado escritor do século 19. Com perdão da nobre família dos símios.

Quanto a Doria, ele não passa de um fake do Jânio Quadros, sem o charme popular deste. Um Cacareco de vassoura na mão, também sem o charme do rinoceronte que, aliás, era uma rinoceronta.