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Proibição a imigrantes não é novidade nos Estados Unidos

Restrições à circulação de estrangeiros foram e são recorrentes na história, mas esta é a primeira vez que a medida tem por critério, além de um país de origem, a religião do discriminado

Flickr/Andy Worthington

Efeito contrário. Proibição de entrada de refugiados e imigrantes pode acirrar os ânimos e reforçar terrorismo

Causou um reboliço enorme a proibição, por parte do governo Trump, da entrada de imigrantes muçulmanos provenientes do Irã, da Síria, da Líbia, da Somália, do Iraque, do Iêmen, e do Sudão. Além de protestos e perturbações generalizadas (por exemplo, companhias aéreas tiveram de mudar tripulações de última hora, equipes de acadêmicos tiveram de cancelar viagens já programadas para encontros universitários), a proibição começou a provocar retaliações: o Irã já proibiu a entrada de cidadãos norte-americanos. Comentaristas vêm sublinhando a hipótese de que a medida vai acirrar os ânimos, favorecendo a intensificação de ataques terroristas, ao invés de arrefece-los. 

A proibição vale por 90 dias, aliada a outra especificamente dirigida a “refugiados”, que vale por 120.

Um dado importante a considerar é que proibições ou restrições deste tipo foram e são recorrentes na história dos Estados Unidos, variando os alvos da discriminação. Abaixo confira os exemplos, a partir de uma lista elaborada pela rede de TV Al Jazeera:

– Em 1882 o presidente Chester A. Arthur proibiu a entrada de trabalhadores chineses no país, qualificados ou não, e impôs uma série de restrições aos que já estavam nos Estados Unidos, durante 10 anos. A proibição foi sendo renovada, com variantes, até 1943.

 Em 1903 o presidente Theodor Roosevelt proibiu a entrada de imigrantes anarquistas.

– Como vários outros países, inclusive o Brasil, durante a ascensão do nazi-fascismo na Europa e a Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos restringiram as quotas de imigrantes judeus, sob a alegação de problemas de segurança. O caso mais dramático foi do navio Saint Louis, com 937 pessoas a bordo, na maioria de origem judaica, forçado a regressar à Europa. Segundo consta, 25% dos passageiros morreriam depois nos campos de concentração nazistas.

– A partir de 1950, durante o período do macarthismo, foi proibida a entrada de comunistas nos Estados Unidos. Até recentemente quem se candidatava a um visto de entrada no país tinha de responder a pergunta, por escrito, se já pertencera a algum partido comunista.

– Em 1979, depois da ocupação da Embaixada dos Estados Unidos em Teerã, o presidente Jimmy Carter proibiu a entrada de iranianos no país. A proibição durou enquanto a Embaixada permaneceu ocupada, até janeiro de 1981.

– Em 1987 o presidente Ronald Reagan restringiu a entrada de portadores de HIV no país. A restrição só foi relaxada em 2009, pelo presidente Barack Obama, depois de um processo iniciado por seu antecessor, George Bush, Filho.

Entretanto, esta é a primeira vez que uma medida deste gênero tem por critério, além de um país de origem, a religião do discriminado. No caso dos judeus, por exemplo, a restrição era independente da religião, baseando-se na discriminação por origem étnica.

Um outro aspecto interessante levantado na mídia norte-americana que está se voltando maciçamente para a oposição a Trump, é o da pergunta de por que a restrição não atingiu outros países árabes ou de maioria muçulmana. Um rápido levantamento feito pelo jornal The New York Times apontou para a hipótese de que Donald Trump tivera ou ainda teria interesses econômicos nestes países que seriam também fortes candidatos a serem alvo da discriminação, como o Afeganistão, o Egito, a Argélia, o Líbano, a Jordânia, a Arábia Saudita etc.

O que traz à luz uma variante de conhecido ditado: discriminações, discriminações, negócios à parte…

 

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