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Angela Merkel parece se render à direita extrema

Cedendo a pressões de setores conservadores e com seu partido perdendo eleitorado, chanceler passa a defender a proibição do uso do véu islâmico na Alemanha

Divulgação/Facebook/CDU

Chanceler alemã adere à cruzada anacrônica contra a vestimenta das mulheres muçulmanas

A pressão é enorme. Trump de um lado, Le Pen e Fillon do outro, Hollande desiste da reeleição; Matteo Renzi (Itália) renuncia; Brexit logo ali; AfD (partido de ultra-direita alemão) subindo nas pesquisas; quase a extrema-direita fatura a presidência da Áustria; Viktor Orban reina na Hungria; Rajoy reassume diante da falência das esquerdas na Espanha; governo da Polônia anuncia lei que lhe permite coibir as manifestações que queira; a Escandinávia deriva toda à direita, com exceção da brava Islândia (até o governo sueco, social-democrata, anuncia medidas anti-imigrantes…)… ;

Enfim, o mar está encapelado.

Angela Merkel, a chanceler alemã, continuava sendo a defensora inquebrantável da receptividade aos refugiados e contrária à discriminação dos muçulmanos. Continuava, porque não continua mais. Cedeu.

Concordou, na reunião recente de seu partido, a União Democrata Cristã, com a consigna de que “o ocultamento do rosto” das mulheres pode ser proibido em locais públicos. Leia-se: proibição do uso de burcas e niqabs. A pressão veio de seu próprio partido, diante do crescimento nas pesquisas do AfD (Alternative für Deutschland), afundando nesta cruzada anacrônica contra a vestimenta das mulheres muçulmanas.

Vários especialistas no assunto garantem que o uso destes trajes facilita a integração, via convívio, das mulheres muçulmanas com outros meios e espaços culturais. A proibição vai simplesmente confiná-las mais no terreno dos preconceitos de suas próprias culturas.

Mas os populistas de direita precisam de algum estigma contra os que veem como inimigos “da Europa cristã-ocidental”. Alguns argumentam com questões de segurança: o ocultamento do rosto facilitaria ações terroristas. Até homens poderiam se disfarçar de mulheres e levar bombas embaixo dos trajes largos das niqabs e burcas.

O argumento carece de validade: terrorista que é terrorista se disfarça de qualquer jeito, leva mochila pendurada, bolsa de plástico nas mãos etc. Veste um sobretudo largo e pendura as bombas na cintura.

Na Holanda já há medidas semelhantes até mesmo em hospitais. Cogita-se proibir capacetes de motociclistas cujo visor frontal oculte a face do usuário. Também há medidas igualmente restritivas na Bélgica, Bulgária e em partes da Suíça. E o que fazer com os turistas orientais que adoram usar aquelas máscaras protetoras da respiração?

A questão transpira preconceito e populismo mesmo. E há militantes feministas que consideram a proibição um “avanço”.

Infelizmente, Merkel parece ter cedido.

A chanceler de ferro mostrou ter pés de barro.

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