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COP22 reafirma urgência de limitar aquecimento global

A eleição de Donald Trump jogou o mundo numa névoa de incertezas globais, pois ninguém sabe dizer com clareza o que será sua futura política externa – talvez nem ele mesmo

CC / UNclimatechange

Acordo firmado entre países para limitar aumento da temperatura média global, inclusive EUA, pode estar ameaçado, com chegada de Donald Trump ao comando da maior potência mundial

Aqui na Europa prevalece um clima de fim de festa. Hoje mesmo – sexta-feira, 18 de novembro – estão reunidos em Berlim Barack Obama, Angela Merkel, François Hollande, Theresa May, Matteo Renzi e Mariano Rajoy. Mais que fim de festa, o clima é de fim de mundo. Cada um destes personagens tem seu lado enfraquecido, senão fraturado, à mostra. Obama já é o ex-presdente derrotado.

François Hollande parece mais ser o futuro ex-presidente derrotado, havendo dúvidas até sobre se ele se apresentará à reeleição. Theresa May não dabe o que fazer com a bomba do Brexit, que herdou de Cameron. Renzi tem um difícil plebiscito pela frente, em dezembro, sobre reforma constitucional na Itália. Já declarou que se a reforma não passar (as pesquisas atuais dizem que não passará), ele renuncia.

Rajoy está à testa de um governo enfraquecido e minoritário no Parlamento, e só conseguiu se manter no cargo devido à divisão e enfraquecimento de seu principal rival, o PSOE. De todos, quem está um pouco melhor é Angela Merkel, mas assim mesmo enfrenta contestações em seu próprio partido, a CDU, também na aliada CSU da Baviera, quanto à política de imigração.

Prova deste enfraquecimento é o fato de que a CDU abriu mão de indicar um candidato para suceder o presidente Joachim Gauck, o que abriu o caminho para a candidatura do atual ministro de Relações Exteriores, Franz-Walter Steinmeier, do SPD.

A extrema-direita, exultante com a eleição de Trump, se fortalece em toda a Europa. Putin espera um relacionamento melhor com Trump do que com Obama/Hillary, em várias frentes: levantamento das sanções econômicas contra a Rússia devido à crise na Ucrânia, mais acerto e menos desacerto entre ambos os países na Síria, redução das tensões com a Otan. Na frente econômica, ninguém sabe o que vai suceder com as parcerias do Pacífico e do Atlântico.

Uma das áreas mais sensíveis a este clima de incertezas é a do acordo climático firmado em dezembro do anos passado em Paris, durante a COP 21, a Conferência Anual da ONU sobre o tema. Por este acordo, de que participaram 196 países mais a representação da União Europeia, os países comprometem-se a diminuir o uso de combustíveis fósseis e de emissão de gás carbono de modo a limitar o aquecimento médio no planeta a 2 graus centígrados. Um aumento maior é descrito como catastrófico: crescimento do nível do mar, desaparecimento de ilhas, problemas no litoral do mundo inteiro, problemas na atmosfera, doenças respiratórias… a lista é longa.

Trump – bem como a maioria dos políticos republicanos – afirmaram seguidamente não acreditar na responsabilidade humana pelo aquecimento. Trump chegou a dizer, a certa altura, que isto era uma invenção destinada a favorecer a China. Comprometeu-se a favorecer o uso dos combustíveis fósseis e a retomada da indústria carvoeira nos Estados Unidos. Afirmou explicitamente que poderia retirar os Estados Unidos do acordo da COP21.

Diante de tamanho desafio, a COP22, que ora termina em Marrakech, no Marrocos, em nível ministerial, reafirmou unanimemente a urgência de manter a irreversibilidade do acordo de Paris. O secretário de Estado John Kerry, dos Estados Unidos, afirmou que seu governo – mesmo no fim e depois do fim – tudo fará para impedir que Trump possa cumprir esta promessa.

De resto, ninguém sabe de fato se ela era simplesmente uma tirada demagógica de campanha, ou um objetivo de Trump, sendo que ambas as coisas são perfeitamente cabíveis, diante da personalidade política de biruta de aeroporto do candidato eleito. Até o momento, 111 países já ratificaram e assinaram formalmente o acordo, sendo o último deles o Reino Unido, cuja assinatura foi depositada ontem, quinta-feira, no documento.

Dentro da COP22 manteve-se o papel de liderança do chamado grupo Basic –Brasil, África do Sul, Índia e China – nas formulações da reunião, lembrando que a participação da diplomacia brasileira na COP21 foi descrita como fundamental para que o acordo se concretizasse.

Também cabe ficar na expectativa do que acontecerá no futuro – diante das incertezas que também assolam nosso país e sua política externa, envolto aquele numa crise política sem precedentes e esta numa série de gafes e impropriedades diplomáticas.


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