usurpação

Banqueiro se aproveita da greve dos bancários

Se dentro das agências há funcionários que não aderiram à greve, exija ser atendido. É seu direito. Caso contrário, os bancos seguirão realizando lucros, mesmo com agências 'fechadas'

Tânia Rêgo/ABr

Se dentro das agências há funcionários que registraram no ponto o início do seu expediente, exija ser atendido

O blogue reproduz texto recebido de uma bancária do Banco do Brasil, que pediu divulgação e anonimato

Você sabia que com greve dos bancários os gestores se aproveitam para não abrir as agências para o atendimento ao público?

Pois é. Os banqueiros usurpam a greve. A mando dos seus superiores, os gerentes gerais de agências utilizam os cartazes do movimento sindical para fazer de conta que estão em greve. Na verdade, se escondem dentro das agências e só atendem aqueles que lhes interessam.

Você, que precisa receber sua aposentadoria, pegar o seu cartão, fazer uma reclamação de fraude, cobrir o cheque especial etc., eles não atendem. Mesmo se dentro da agência estiverem todos os funcionários que não tenham aderido à greve – ou se viram forçados a comparecer ao trabalho – eles cumprem ordens dos gestores e não atendem, apesar de estarem trabalhando normalmente, através dos canais de atendimento telefônico e eletrônico.

Banqueiros realizam lucro nos dias de greve com apoio dos colegas que não aderem ao movimento por melhores salários e condições de trabalho, por discordar do movimento sindical ou por temerem represálias por dele participarem. E como os banqueiros realizam lucro os dias de greve? Com prejuízo do atendimento do cliente comum e concentrando o atendimento apenas nos que interessam ao banqueiro.

Você acredita que os banqueiros deixariam as agências fechadas por quase 30 dias se não pudessem se aproveitar disto? Você acha que não há resultados consideráveis em suas operações? Não sejamos ingênuos.

Em algumas agências é difícil ver que os funcionários estão lá dentro porque eles se escondem nos andares de cima, onde não podem ser vistos da rua e deixam para os terceirizados a tarefa de aguentar as reclamações. Ou limitam-se ao setor chamado de retaguarda. As retaguardas das agências bancárias são praticamente call centers que possibilitam o andamento dos trabalhos.

Se dentro das agências há funcionários que registraram no ponto o início do seu expediente, exija ser atendido. É seu direito e você tem canais de reclamação. Utilize-os. Ou o trabalhador bancário adere ao movimento sindical, porque será beneficiado por seus resultados, ou trabalha no atendimento aos clientes sem distinção, atendendo a todos que dele precisam. Simples assim.

Da maneira como os banqueiros agem, discriminando o atendimento, colocam a população contra o movimento sindical, além de prejudicar o poder de negociação dos trabalhadores. E prejudicam os clientes, porque a greve demora muito mais do que seria necessário.

O movimento sindical obedece a lei, resguardando e negociando as contingências necessárias ao atendimento do que é essencial, nas agências que de fato aderem ao movimento. Se parece não haver nenhuma agência aberta, é devido a mais uma fraude contra os bancários e seu movimento de reivindicação – fraude forjada pelos banqueiros.

E porque os bancários insistem na greve depois de receberem uma proposta de 7% de reajuste? Para lucros históricos acima de 20% realizados pelos bancos, é inadmissível um reajuste menor do que a inflação.

Se o setor mais lucrativo no Brasil der aumento abaixo da inflação para seus empregados, que poder de negociação terão as outras categorias de trabalhadores? Sairão para dialogar com o setor patronal com esta “faca no pescoço”. É uma grande responsabilidade das entidades que comandam a greve nacional da categoria bancária, entre elas o sindicato da categoria em São Paulo e a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, a Contraf-CUT.

Desde ontem (3), no Brasil, começou a semana de pagamento de boa parte dos trabalhadores ativos e aposentados. Repito: se há funcionários dentro da agência, exija ser atendido. É um direito. A greve longa é de responsabilidade do banqueiro. Com uma proposta de reajuste que respeite a categoria, a greve terá fim.