indignidade

Os crimes hediondos do governo brasileiro

Prender um ex-ministro que acompanha a cirurgia da esposa é parte deste golpe covarde, sinuoso e melífluo, para reduzir os direitos sociais, a soberania e a própria noção de voto popular a cinzas

Beto Barata/PR

Agora, no exterior, o presidente Michel Temer patrocinou uma nova série de vexames hediondos

Prender o ex-ministro Guido Mantega no Hospital Albert Einstein enquanto ele acompanhava cirurgia da esposa, portadora de um câncer, tem algo de hediondo. Mas corresponde à espetacularização policial, judiciária e mediática, que acompanha o golpe em curso de consolidação no Brasil.

Idem, o espetáculo vexaminoso dos Curitiba boys do MP, aceito pelo juiz Sérgio Moro como denúncia contra o ex-presidente Lula e sua família, além de outras pessoas.

Lembremos ainda de passagem  vexame da votação da Câmara e da votação no Senado, reconhecendo esta ausência do crime que justificou, ao mesmo tempo, o impeachment. Uma confusão: afinal, o que justificou o impeachment? O “crime”, ou sua inexistência?

Também o comportamento internacional e nacional do nosso ministro de Relações Exteriores tem algo de hediondo. Cospe na tradição diplomática brasileira, de conciliação, negociação e não intervenção. Sapateia em cima do legado de Alexandre Gusmão, os Rio Branco, San Thiago Dantas et alii. Dá vexame hediondo de analfabetismo diplomático ao não conseguir decifrar a sigla dos Brics, misturando até a Argentina no meio. Envergonha o Itamaraty de ponta a ponta ao tentar comprar o Uruguai e chantageá-lo na tentativa  de – outra vergonha hedionda – desqualificar a Venezuela, intervir no país tentando ajudar a queda do presidente Maduro, e no esforço para reduzir o Mercosul a um covil de empreendimentos interesseiros voltados para os Estados Unidos e a eles subordinado. Em suma, o Ministério de Relações Exteriores do Brasil passou a praticar uma diplomacia do vinagre, destinada a fortalecer a autocandidatura do ministro a presidente indireto do Brasil.

É também hediondo desarticular todas as políticas sociais construídas não só pelo governo Lula, mas desde a Constituição de 1988, sem falar na legislação trabalhista construída a partir dos anos 1930 e 1940.

Agora, no exterior, o presidente Michel Temer patrocinou uma nova série de vexames hediondos. O primeiro foi apresentar-se a Wall Street anunciando que “seu” país estava aberto aos negócios. Parecia um mascate. Nada contra os mascates, de uma profissão respeitável como qualquer outra. Mas um presidente não é um mascate. Sua profissão é outra.

Seguiu-se o vexame do discurso na cúpula sobre refugiados. O vexame nem foi tanto o de apresentar o país como exemplo no tratamento desta questão, nem mesmo ao citar os haitianos como refugiados. Afinal, o Brasil se esforçou, desde antes, para incluir as vítimas de catástrofes naturais no rol dos refugiados potenciais. Mas isto veio do governo anterior, cuja destituição Temer liderou, com Cunha e mais um bando de asseclas que fariam os 40 de Ali Babá parecerem justiceiros de Alá. Temer simplesmente usurpou a comenda. E esqueceu que um dos primeiros atos do seu governo, através do ministro da “Justiça” Alexandre de Moraes, foi suspender a negociação com a União Europeia sobre a recepção dos refugiados sírios.

Depois veio o hediondo discurso na abertura da Assembleia da ONU. Passou vergonha ao ser boicotado por representantes de países vizinhos, e contestado diretamente pelos representantes da Costa Rica e da Venezuela. Não adianta os sites de direita no Brasil defenderem Temer: que eu tenha notícia, é a primeira vez  que isto ocorre desde a primeira abertura da Assembleia da ONU, quando o discurso de Osvaldo Aranha a abriu. Vergonha.

E houve também o discurso em si, apresentando o golpe farsesco que liderou como um “exemplo para o mundo”. Exemplo? Sim: um mau exemplo. Temer falou como se ninguém, no mundo, percebesse o que aconteceu e está acontecendo no Brasil, a a palhaçada parlamentar contra Dilma, e a policial, judiciária e midiática (idem contra Dilma) contra Lula, familiares, amigos, correligionários e agora, no último lance, Guido Mantega, na sua covarde prisão no Einstein.

Para completar, veio sua exposição perante empresários, anunciando um país exangue, antecipadamente vendido aos interesses destes, como uma grande conquista tributária dos novos tempos “modernos”.

Desconheço tal amontoado de vexames hediondos na história da exposição internacional de nosso país. Nem mesmo durante a ditadura militar o Brasil foi vitima de vexames tão pusilânimes diante do mundo inteiro. Os ditadores de 1964 e dos anos seguintes reduziram os direitos humanos a pó, é verdade. Agora, Temer, Serra, a seus acompanhantes neste golpe covarde, sinuoso e melífluo querem reduzir os direitos sociais, a soberania e a própria noção de voto popular a cinzas.

Bom, não esqueçamos que é das próprias cinzas que as aves da esperança renascem.

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