lobo solitário

Atentado na Alemanha mostra novo estilo

Caso envolvendo imigrante afegão que deixou cinco feridos em trem na Baviera deve provocar reações violentas da extrema-direita alemã

European Union 2016 – European Parliament

Ataque na Alemanha deve intensificar as discussões sobre o tema dos refugiados na Europa

Na segunda-feira (18), um adolescente de 17 anos, vindo aos 15, como menor desacompanhado, do Afeganistão, atacou turistas em um trem regional da Baviera, no sul da Alemanha. Feriu gravemente quatro (todos chineses, dois ainda em estado crítico) e levemente outro, com uma machadinha e uma faca. Avisado por outros passageiros, o condutor parou o trem. O adolescente fugiu. Foi cercado pela polícia, e morto a tiros.

O incidente levantou uma nuvem carregada de preocupações. É o primeiro do gênero no país, envolvendo um refugiado, cuja presença provoca reações iradas da extrema-direita e da direita de um modo geral. Há temores que isso possa favorecer o recrudescimento dos atentados contra abrigos para refugiados, perpetrados na calada da noite por extremistas.

Especialistas advertiram que esse tipo de atentado, perpetrado pelo que chamam de “lobos solitários”, está aumentando sua frequência. A complicação é que esse tipo de ataque é mais imprevisível do que os outros. É o mesmo estilo, embora com motivos variados, dos perpetrados em Orlando, Flórida, contra uma boate gay, Dallas, Texas e Baton Rouge, Luisiana (EUA), contra policiais, e Nice, França, contra a multidão que assistia às comemorações do 14 de julho (dados recém revelados, necessitando confirmação, dizem que 30% das vítimas do atentado em Nice, assumido pelo Estado Islâmico, eram muçulmanos). O atentado em Nice e este, na Baviera, perto de Württemberg, foram assumidos pelo Estado Islâmico. Resta saber se isso é verdade prévia ou se o EI, necessitado de recompor seu prestígio, está embarcando na esteira.

No caso alemão, o rapaz não demonstrava qualquer propensão para o que fez até um mês atrás. Dizem informações da localidade em que morava que começou a apresentar sinais de “radicalização” neste prazo. Há um vídeo, divulgado com imagens que aparentemente são suas, em que ele ameaça fazer o que acabou fazendo. Por outro lado, essas informações mencionam como “suspeito” o fato de ele ter deixado crescer a barba, o que pode ser irrelevante.

A ocorrência vai intensificar as discussões sobre o tema dos refugiados na Europa. É recorrente a afirmação – direta ou indireta – de que o continente está recebendo um “excesso” de refugiados.

Entretanto um relatório da Oxfam (um conglomerado de 18 ONGs que atuam em 90 países, inclusive o Brasil) contradiz esta sensação. Diz o relatório que os seis países mais ricos do mundo (EUA, China, Japão, Alemanha, França e Reino Unido), que representam 56% do PIB mundial, arcam com 9% dos refugiados internacionais do mundo – 2,1 milhões, 737 mil deles na Alemanha.

Ao mesmo tempo, Jordânia, Turquia, Palestina, Paquistão, Líbano e África do Sul, que representam 2% do PIB planetário, arcam com 50% dos refugiados – 12 milhões.

Segundo dados da ONU, há 65 milhões de “deslocados” de seus lares habituais no mundo, por guerras, catástrofes ou epidemias. Desses, 40,8 milhões vivem em seus países de origem; 21,3 milhões são refugiados em outros países, e 3,2 milhões aguardam definição sobre seus pedidos de asilo em países estrangeiros.

O contraste é muito grande. E mais uma vez demonstra a desigualdade que impera no planeta.

Voltando ao caso alemão, Renate Kúnste, parlamentar do Partido Verde, criticou a polícia pelo Twitter, questionando se não teria sido possível neutralizar o adolescente de outra forma, uma vez que ele não tinha arma de fogo. O porta-voz da polícia local reagiu agressivamente, dizendo, com palavras menos canônicas, que políticos não precisavam dizer como a polícia deve se comportar nessas circunstâncias. Mas ressaltou que é impossível normatizar completamente a atitude dos policiais em um caso desses, ao se virem – como eles alegam – sob ataque do perseguido.

Há programas de prevenção contra a radicalização de jovens na Alemanha. Eles agora terão de se debruçar mais de perto sobre os refugiados e, quem sabe, também sobre as reações negativas e preconceituosas quanto à sua presença.